sexta-feira, julho 27, 2007

::Divagações no escuro::


Fabricando Tom Zé

Um gênio com síndrome de rejeição. Bom, melhor do que subir nas tamancas e ser Ministro da Cultura, não é? Mas falemos baixinho! Ou... gritemos?
O mercado é injusto e nós brasileiros somos um bando de lambe-bunda-de-gringo!!! Precisou um deles ouvir um de nós e dizer para eles que é bom para que nós ouçamos e constatemos que é bom mesmo, para que nós fizessemos um filme que nos mostra tocando para eles.
Entendeste?
Então vá ao cinema e veja por si mesmo, ouça por si mesmo e ria, ria muito, da desgraça alheia, que também é sua, é de todos nós, brasileiros.


Um filme, uma frase

Touro Indomável - A boa e velha "ascenção e queda".

As férias do Sr. Hulot - Mr. Bean é sem graça e, descubro agora, nada original!

Harry Potter e a Ordem da Fênix - Que Ordem da Fênix?

Neve sobre Cedros - Para ver depois de "Memórias de uma Gueixa".

O fim de São Petersburgo - História do proletariado versus burgueses.

5 mulheres marcadas - Feminista...os primeiros 30 min...

Kedma - Agüente firme porque o final compensa.

Memórias de uma gueixa - Chinesa fazendo papel de japonesa, usando lente e falando inglês: filme para americano ver e sonhar com as "belezas" do Oriente.

O Buraco - A febre de Taiwan: dançar o tcha-tcha-tcha!

La Marsellaise - História dos burgueses versus aristocratas.

Mouchette - A angústia de Bresson numa pobre menina.

Plata Quemada - Os brutos também amam.

::My headphones saved my life::


Tô - Tom Zé

Tô bem de baixo prá poder subir
Tô bem de cima prá poder cair
Tô dividindo prá poder sobrar
Disperdiçando prá poder faltar
Devagarinho prá poder caber
Bem de leve prá não perdoar
Tô estudando prá saber ignorar

Eu tô aqui comendo pra vomitar

Tô te explicando
Prá te confundir

Tô te confundindo
Prá te esclarecer
Tô iluminando
Pra te esclarecer
Tô iluminando
Prá poder cegar
Tô ficando cego
Prá poder guiar

Devagarinho prá poder rasgar
Olho fechado prá ver melhor
Com alegria prá poder chorar
Desesperado prá ter paciência
Carinhoso prá poder ferir
Lentamente prá não atrasar
Atrás da vida prá poder morrer
Eu tô me despedindo prá poder voltar

Guindaste a rigor - Tom Zé

Eu quero um trem de doze vagões
Pra marcar o compasso que eu vou cantar
Quero dez máquinas de concreto
Porque não gosto de violino
Quero um discurso do Nero
Para fazer contraponto
Doze motocicletas no lugar do contrabaixo
Para reger o conjunto, um guindaste à rigor
E na hora do breque um belo assopro de coca-cola
Ah, ah, ah que cola
A tonalidade é ré sustenido bem claro
Ou mi colorido bemol
Sidomidelamefalasemsirelanosolfa

Para parceiro na letra
Satanás de babydoll
Ou um camundongo sádico que tem a língua vermelha
E no fim da primeira parte deixe a Brigitte Bardal

Mas hora veja:
Enquanto eu cantava
O verbo enganado
Com a língua do poeta enrolada no pescoço
Pendurado sem socorro
Já parou de balançar as pernas
Já parou

::A pergunta que não quer calar::


Saudade de quê?

terça-feira, julho 10, 2007

::Divagações no Escuro::


Um filme falado: Branca de Neve de João César Monteiro

"Não, diz, o que vês? Diz logo. Através dos teus lábios deduzirei o bonito desenho desse quadro. Se o pintasses, por certo atenuarias habilmente a intensidade da visão. Então, o que é? Em vez de olhar, prefiro escutar."trecho do filme

O título do filme atraiu pais desavisados com seus filhos pequenos que queriam ver a história da garota bonita que, perseguida por sua madrasta má, vai morar com anões na floresta, come a maçã e, bom, todo mundo já sabe da história. Lá pelos 20 minutos de filme todas essas crianças, descepcionadas, e seus respectivos pais, já tinham se retirado do cinema do CCSP. Mas uma corja de gente chata, que fala durante o filme, ainda não tinha desistido. Depois de mais uns 10 minutos eles resolveram erguer suas bandeiras brancas e ir embora. Aí sim houve paz para os que ficaram poderem pensar sobre aquilo que estavam vendo.
Há muito tempo que ouço falar desse filme, pelo menos desde 2000, o ano de seu lançamento. Ele fez muito estardalhaço, e até agora não tinha conseguido assistí-lo, nem sei dizer o porquê. Até agora. Depois de tamanha experiência, com certeza todos saem da sala pensando o cinema de maneira diferente do que pensavam antes,e se, não pensavam o cinema, começam a pensar, é um filme que incomoda, que mexe no íntimo daqueles que apreciam a sétima arte, que discute, que chega na sua cara de fim de semana e grita: "Escuta aqui, onde foi que chegamos?". Saí de casa despreocupada e aérea, não voltei mais a mesma pessoa.
Okay, pode não ter acontecido com todo mundo, mas para mim, que levo o cinema muito à sério, foi um filme inesquecível. Já sabia que seria uma tela escura, preta para ser mais exata, e apenas falas, mas não sabia mais nada. É realmente um filme sobre Branca de Neve, mas não o conto de fadas e sim um texto de Robert Walser que discute o conto e assim o diretor discute o cinema. O filme, e o texto, ao qual o primeiro é fiel, são uma negação do "e viveram felizes para sempre", é um "e depois?", "e se não fosse assim, seria como?". E se a madrasta má não fosse má? E se o filme não tiver imagens? Já se fez de tudo no cinema, Godard, Dogma 95, irmãos Dardenne, o que há ainda para ser feito? - Branca de Neve!
O filme sufoca, oprime mesmo, como quando você vê uma obra de arte, um monumento, uma pintura, que é tão grandiosa e tão boa que você se sente diminuído. E assim eu passei mais de uma hora lutando contra aquilo, tentando entender aquela grande idéia, o procedimento, a mensagem, podendo respirar a cada imagem de céu, que gritava como um treinador carrasco: "Agora respira, respira". E novamente enfia minha cabeça num galão de água. As cenas de céu são como a do final de Hamaca Paraguaia, uma espécie de oportunidade de salvação, uma ascenção, como a instalação de fumaça de Anish Kapoor.
João César Monteiro manda às favas as convenções cinematográficas, porém, como uma vez alguém disse, não me lembro quem, quando se entra numa sala de cinema é como se assinasse um acordo com o realizador, você entrega sua atenção e seu tempo por cerca de duas horas e ele faz por merecer, ou não, mas, o caso é que me senti privilegiada de ver aquele acontecimento, toda surpresa que ele me deu fez com que minha percepção de cinema mudasse, radicalmente.

::Sábias Palavras::


"I have lost my origin
And I don't want to find it again"
Björk - Wanderlust

::My headphones saved my life::


Kings of Convenience - Misread

If you wanna be my friend
You want us to get along
Please do not expect me to
Wrap it up and keep it there
The observation I am doing could
Easily be understood
As cynical demeanour
But one of us misread...
And what do you know
It happened again

A friend is not a means
You utilize to get somewhere
Somehow I didn't notice
friendship is an end
What do you know
It happened again

How come no-one told me
All throughout history
The loneliest people
Were the ones who always spoke the truth
The ones who made a difference
By withstanding the indifference
I guess it's up to me now
Should I take that risk or just smile?

::A pergunta que não quer calar::

Faço algo da minha vida ou espero ela fazer algo de mim?