quinta-feira, agosto 30, 2007

:: Contorções e convulsões (ou Ensaio não acadêmico para você gostar de mim)::


Você sabe que eu gosto de você, não sabe? Eu sei que você sabe porque você me tortura, não é? É sim, você é uma espécie de sádico que gosta de me ver com os olhos esbugalhados a cada coisa que você fala e, eu sei que, se algum dia eu deixar que descubra que esse texto é sobre você, as coisas vão piorar.
Eu sequer consigo olhar nos seus olhos e você percebe isso, eu sei que percebe, você não é bobo. Eu queria poder olhar seus olhos e descobrir que você também olha os meus e assim, bem devagar, ver nosso reflexo em nossos olhos se aproximarem, sentir meu coração bater cada vez mais forte e enfim beijar sua boca.
Por isso não olho em seus olhos, não quero mais uma frustração.
É, eu sei que você tem namorada, você já me disse isso, várias vezes, e eu sei que você a ama, mas eu sou muito egoísta para não ficar pensando que eu podia ser muito melhor para você. Ossos do ofício de ciumenta invejosa.
Será que você faz de propósito? Esforço-me para descobrir se é proposital o jeito que você me trata e que fala comigo, parece estar me seduzindo para depois dizer NÃO. Você já explicou que não é isso, que é coisa da minha cabeça, mas não posso evitar me sentir especial pelo menos observando como você lida com os demais.
Eu sei, eu sei, somos amigos e você gosta da nossa amizade, eu também gosto mas isso não me impede de fantasiar além, porque acredito que não mudaria em nada nossa amizade, só me faria mais feliz e satisfeita.
Você é complexo e gosto disso em você, o problema é o quanto gosto, não só admiro como gostaria de dividir mais nossas semelhanças e discutir mais as diferenças. Queria, por isso mesmo, sentir pelo menos uma vez o peso do seu corpo, é...talvez mais de uma vez, mas enfim, não posso ser muito exigente.
Ah sim, sou muito exigente, acabo de me lembrar. Sou tão exigente que penso em você como possível satisfazedor de muitas das minhas exigências e, assim, quem sabe, eu poderia me tornar uma pessoa menos sem graça.
É, eu sei que não é! E depois sou eu que sou exigente.
Ah, mas querer não é poder, água mole em pedra dura por mais que bata não fura, e quem solta o pum não fica com a mão amarela, tudo mentiras que contam nessa nossa vidinha. Inclusive é mentira que os homens não se importariam de serem objetos, você se importa.
Comigo você faz piadas, é engraçado, discutimos filosofia, literatura, falamos de cinema e existencialismo, pragmatismo, estruturalismo, machismo, maoismo. Na verdade eu não sou boneco Playmobil porra nenhuma, talvez eu tenha cérebro demais para você e nossas conversas sejam interessantes demais para você me levar para a cama, talvez eu seja inteligente demais para ser uma amiga a menos de um palmo de distância, na verdade, é, talvez seja isso: eu sou além das expectativas de uma mulher que você deseja, passei do ponto além do qual o desejo se torna inviável. Ah, sim, eu sou muito legal e nossos papos são ótimos, mas sem papo cabeça no café da manhã, por favor!

::My headphones saved my life::


Leoni - Só Pro Meu Prazer

Não fala nada, deixa tudo assim por mim
Eu não me importo se nós não somos bem assim
É tudo real nas minhas mentiras,
E assim não faz mal
e assim não, me faz mal não

Noite e dia se completam, nosso amor e ódio eterno
Eu te imagino, eu te conserto, eu faço a cena que eu
quiser
Eu tiro a roupa pra você, minha maior ficção de amor
Eu te recriei
só pro meu prazer, só pro meu prazer

Não vem agora com essas insinuações
Dos seus defeitos ou de algum medo normal
Será que você, não é nada que eu penso
Também se não for, não faz mal
Não me faz mal, não

Só pro meu prazer
Eu quero você como eu quero
só pro meu prazer
Eu quero você como eu quero

::Sábias Palavras::

Orlando Pedroso - http://www.fotolog.com/orlandopedroso/

terça-feira, agosto 21, 2007

::Vício novo::







The Bubble e a representação de relacionamentos homossexuais no cinema


"Eu me recuso a aceitar que um indivíduo possa ser identificado com e através de sua sexualidade." Michel Foucault

Considerar uma relação homossexual (pois já me convenci de que as relações é que são homos ou heteros e não as pessoas nelas envolvidas) diferente de uma heterossexual pode ser uma interpretação do espectador ou a premissa da qual partem muitos realizadores de filmes ao escolherem retratar uma relação amorosa. De qualquer forma, para mim, é um erro comum e por isso alguns filmes me parecem abomináveis.
Existem os clichês dos filmes de relacionamentos gays e muitos deles se encontram no começo da relação, o que há é a não escapatória, o relacionamento se dá pois não há o que se possa fazer, e aqui entram os dois caubóis de Brokeback Mountain. Tive a impressão de que eles transaram simplesmente porque estavam lá, no "middle of nowhere" de uma propaganda da Marlboro, há meses sem sexo, "à perigo" como se diz por aqui, e é capaz que transassem até com um cavalo, o filme foi mal sucedido em tentar me convencer de que aquilo era amor, de que aquele filme era diferente, de que aquilo, enfim, não passava de uma farsa hollywoodiana, até a voz deles era farsesca.
O outro clichê do começo do relacionamento é tecer um dos personagens como o mais 'propenso' e mais interessado e que vai 'corromper' o outro, mais tolinho, um exemplo é Meu amor de Verão. A menina rica é culta e engenhosa, lê Nietzsche e ouve Edith Piaf, a menina pobre tem problemas com o irmão que a acha 'vagabunda' e não é lá muito instruída, é ela, é claro, que vai se ludibriar pela menina rica, o amor de admiração, o amor pelo que se gostaria de ser, até descobrirmos que as duas não são lá muito confiáveis, são mentirosas e de imaginação um pouco fértil demais, como se o relacionamento tivesse se tornado possível por seus distúrbios comportamentais.
Poderia passar páginas e mais páginas falando de filmes que deturpam totalmente a idéia de relacionamentos gays, mas esse post é dedicado a um filme que vai além dos clichês e emociona, por isso gostaria de citar outros como ele.
O recente C.R.A.Z.Y. trata da descoberta do mundo por um adolescente que não se contenta com a idéia socialmente difundida de que homens devem se relacionar com mulheres e vice-versa e apenas, ele quer mais e isso o confunde, como ir além daquilo que a sociedade nos impõe? Como lidar com o fato de quando criança ter preferido brincar de bonecas, sendo menino, à jogar bola? Como aceitar o fato de ter gostado mais de sexo com um homem, sendo também um homem, do que com uma mulher? Mais do que trabalhar em cima de um relacionamento C.R.A.Z.Y. é sobre um conflito pessoal, uma fase de aceitação do que se é a despeito do que os demais são.
Imagine você e eu é um filminho mamão-com-açúcar, melado, comédia romântica de Sessão da tarde e por isso me pareceu genial. Usar uma fórmula já bem difundida, bem absorvida e bem comum, digamos, como é a comédia romântica 'típica', para falar de um amor entre duas mulheres acaba se tornando uma inovação. Sempre senti falta disso, de um filme que falasse de amor entre mulheres ou entre homens como se fala de amor entre um homem e uma mulher, porque de fato não há diferença entre eles, mas parece que ninguém nunca tinha feito isso, eu pelo menos nunca tinha visto, por isso o filme é bem-vindo.
Antes dele o que mais se aproximara do 'não-exagero' fora Assunto de Meninas, tradução de Lost and Delirious, através do qual vemos o sofrimento de quem ama aquele que não aceita seu amor. Paulie e Tori namoram, estamos convencidos que o amor é mútuo e verdadeiro entre elas, até que Tori resolve largar Paulie por um cara e continuamos convencidos de que ela fez isso puramente por uma imposição social, seguimos então, de perto, a dor de Paulie em toda sua sensibilidade, até explodir, não no final, mas na cena da valsa, com "River Waltz" do Cowboy Junkies ao fundo.
E falando de música é que chego ao mote do texto: The Bubble, o novo filme de Eytan Fox. Para quem viu Delicada Relação outra tradução infeliz das que abundam nos cinemas daqui, a mudança é drástica, não só do conteúdo mas mais da forma, agora o diretor se mostra mais maduro e mais corajoso, se é que é possível ser mais corajoso do que já tinha sido, considerando seu país e seu tema, foi possível sim. O que vemos agora é uma mistura de influências musicais e cinematográficas, do mais 'indie' ao mais pop, desde 'Israel Idol' (o American Idol de lá) até Jules e Jim passando por Britney Spears, Bent (a peça de teatro) e Bebel Gilberto, sem esquecer da semelhança entre a loja de discos de lá e a de Alta Fidelidade. Misture a isso um israelense judeu recém-saído do serviço militar se apaixonando por um palestino muçulmano, ataques terroristas, tiros, bombas, canções de amor, fortes amizades, raves pela paz e mesmo assim você precisa ir ao cinema para ter uma idéia do resultado. Numa sessão do filme seguida de conversa com o diretor e com o ator principal tudo o que eu queria dizer era "Parabéns caras!" e ficar lá, em estado de graça, ouvindo o que eles tinham para falar, acho que as congratulações foram entendidas pelos dois após alguns minutos de aplausos e pelas lágrimas presentes nos olhos de todos, jovens, idosos, judeus, ateus, israelenses, brasileiros.
Eu sou totalmente fascinada por filmes sobre o 'conflito-eterno' entre Israel e Palestina, lembro-me de que era o meu assunto favorito nas aulas de geografia, eu sabia as datas e os porquês de cada conflito, de cada tomada de território, de cada invasão, se bem que não haja mesmo verdadeiros 'porquês'. Para alguém que vive em São Paulo, onde todos parecem conviver tão bem, uma cidade na qual podemos almoçar sushis e jantar macarronadas, na qual a miscigenação corre na veia de quase todos, aliás, vi um documentário chamado Cosmópolis, muito bom sobre a cidade e essas questões, ver aquela guerra sem fim é um desafio à compreensão, é um exercício constante de projeção e por isso me interessa tanto. A idéia de vingança corre solta no ar da região e vemos isso em muitos filmes sobre a questão, assim que há um atentado em Israel há uma represália na Palestina e vice-versa, e de represália em represália eles andam em círculos há anos, isso fica bem claro em The Bubble, apesar de ser uma parcela pequena dentro do filme.
O que distancia tanto o filme de Eytan Fox dos demais filmes sobre o Oriente Médio é que ele não é sobre isso e sim sobre a juventude, sobre seus anseios, amores e problemas existenciais, apesar do contexto peculiar, podemos nos reconhecer nos personagens, dialogar com eles, ter a sensação de que conhecemos pessoas novas ao final. O filme é sobre o amor, a amizade, os gostos pessoais, o distanciamento e o engajamento político, e é também, sim, sim, sobre o conflito Israel-Palestina.


::Divagações no Escuro::

A decepção com Little Children

A sutileza é uma das primeiras virtudes que um filme deve ter se não quiser tratar seu interlocutor como um idiota, por isso nos sentimos mais confortáveis ao ver Réquiem para um sonho do que Diário de um adolescente, por exemplo, deixando de lado, é claro, a criatividade de cada um. Se o filme tem uma tese a ser provada esta não precisa ser argumentada à exaustão para ser compreendida, se você tem em suas mãos um instrumento como o cinema, com suas possibilidades audiovisuais, no qual você pode trabalhar seus argumentos através de palavras e imagens, por que tratar tais possibilidades como se fossem deficitárias em si quando o que falta é criatividade a você? Essa é a pergunta que nos fazemos muitas vezes ao ver um filme.
Pecados Íntimos, tradução infeliz de Little Children, carrega a tese de que os adultos é que são, na verdade, infantis. Certo. Boa tese. A ver como se desenvolve. O filme faz uso de meios extremamente 'didáticos' para provar sua tese, tão didático que o filme mesmo se torna infantil e parece tratar-nos como crianças. Bom, se a tese é 'todos os adultos são infantis', então ela se comprovou já que os realizadores se mostraram infantis e endereçaram o filme a pessoas, no caso, adultos, também infantis. Aplausos então.
Posso estar enganada, mas vindo de onde veio acho que a intenção do filme não era bem essa, pelo menos não foi muito convincente e é por isso que ele decepciona, é fraco e superficial. É um ultraje ligar a infantilidade de personagens com o fato de não trabalharem fora, ligar seus fetiches pessoais a perversões, mais uma vez Hollywood tenta fazer um filme diferente e esbarra no velho american way of life e no puritanismo, acompanhado, é claro, de um certo determinismo social.

Um filme, uma frase

Ascensor para Cadafalso - É, eu gosto mesmo de filme francês e em preto e branco.
Nas profundezas do mar sem fim - Por favor, acabe logo, me livre desse sofrimento.
Cine-olho - A vida como ela era... na Rússia... na década de 20.
Dália Negra - Cada filme que passa eu gosto mais desse Brian de Palma.
Os Conquistadores - Lang no Far Oeste.
Ensina-me a viver* - Ensine-me a viver!
O Segredo da porta fechada - Num suspense de Lang eu fico com medo.
O samurai do entardecer - Delicadeza, sutileza, beleza, arigatô.
Filhos do Paraíso* - Que paraíso?
Pequena Miss Sunshine* - De perto ninguém é normal.
Lucia e o Sexo* - Não sei se quero mais Lucia ou mais sexo.
Deu a louca na Chapeuzinho - Poderia ser pior?
Amar e Dançar* - O clichê do filme de dança elevado a um novo patamar.
Procura-se Amy* - Tudo sobre minha vida.
Estamira* - Como o trocadilho, ao contrário, permitiu que as pessoas rissem nesse filme?
The Wind - E o vento levou a virgindade...
Bonecas Russas - Louco, tresloucado, amalucado, divertido e bem-feito.
Em Busca do Ouro - Um clássico é um clássico.
Waking Life* - Até agora a luz não acendeu.
Jornada da Alma - Os psicanalistas também amam.

*talvez recebam mais do que uma frase.

::A pergunta que não quer calar::

Por que eu demoro tanto para escrever?