sexta-feira, novembro 23, 2007

"Happening und Fluxus"
1970
Foto: Balthasar Burkhard


Muitos filmes para comentar, muito para desabafar... MAS... muitos textos para ler, muitas dissertações para escrever. Volto já!

terça-feira, novembro 06, 2007

::Descobrindo Masoch::


Gilles Deleuze em Apresentação de Sacher-Masoch, ensaio introdutório de Vênus das Peles de Masoch - cujo original pode ser encontrado no Domínio Público, esse livro está esgotado há anos - pretende desfazer um enorme engano: o sado-masoquismo. O sadismo e o masoquismo não são a mesma coisa, não são diferentes faces da mesma moeda, aquele que faz sexo com o sádico não é o masoquista e vice-versa.

Propondo uma leitura crítica e uma clínica de Sade e de Masoch, Deleuze fala de suas originalidades artísticas e dos mecanismos próprios dos desvios por eles descritos e deles emprestados pela psicanálise, livrando-os do título "pornográficos", o que eles fazem na verdade seria "pornologia" já que em seus textos a linguagem erótica "não se deixa reduzir às funções elementares de comando e de descrição".

Em Sade o raciocínio é uma violência, e os violentos são rigorosos, serenos e calmos; o sádico é demonstrativo, impessoal. Deleuze fala do "espinosismo de Sade", no seu espírito matemático característico de seu naturalismo e mecanicismo, de sua razão demonstrativa. Já Masoch, em sua imaginação dialética, seria platônico.

A possessão é a loucura do sadismo, e para isso precisa das instituições, enquanto o masoquista precisa das relações contratuais para sua loucura própria, o pacto. Tal pacto é necessário para a vítima que busca seu carrasco, ela precisa convencê-lo, persuadi-lo e formá-lo, fazer com ele um acordo, uma aliança, e é a vítima que fala através de seu carrasco, que na verdade nada mais faz do que aquilo que a vítima deseja.

As "revelações" de Freud sobre o papel dos pais na formação sexual até hoje me parecem um pouco chocantes, é difícil encarar certas coisas, e é aí que o texto de Deleuze fica mais interessante ainda, na análise psicanalítica do sadismo e do masoquismo. É pela união sodomita com o pai que as heroínas sádicas se formam, numa união contra a mãe, no masoquismo, ao contrário, quem é negado é o pai, quando o masoquista apanha não é o pai que bate e sim é o que há de pai nele que é surrado e assim anulado.

Como sempre nos textos de Deleuze a conclusão é brilhante, ele enumera onze pontos que resumem seu ensaio e que, de alguma forma, provam o "monstro semiológico" que é o sadomasoquismo. O sétimo diferencia o estetismo de Masoch do antiestetismo de Sade e o nono ponto, sobre a psicanálise, deixa claro que o que triunfa no sadismo é o superego e a identificação, enquanto no masoquismo é o ego e a idealização. No último ponto Deleuze retoma o que crê ser a diferença mais radical entre os dois, a apatia sádica e a frieza masoquista.

Por mais que eu escrevesse, um blog não é necessariamente o local ideal para fazer uma dissertação sobre o texto, que realmente merece mais e melhores palavras, mas fica mais como um lembrete para quem possa ler e para mim mesma da qualidade do ensaio de Deleuze, e do chamado que ele nos faz para que nos voltemos aos escritos dos dois autores.

*Escolhi a imagem acima para abrir o texto porque o episódio de Judite decapitando Holofernes não saía da minha cabeça - que ironia - enquanto lia Masoch.

"(...)pode-se sempre falar da violência e da crueldade na vida sexual; pode-se sempre mostrar que essa violência ou essa crueldade se combinam com a sexualidade de diversas maneiras; pode-se sempre inventar os meios de passar de uma combinação para outra." (Deleuze, Gilles Apresentação de Sacher-Masoch, trad. José Bastos, p.140)

“Não é só a inércia a responsável pelo fato das relações humanas se repetirem caso após caso indescritivelmente monótonas e viciadas. É a inibição frente a qualquer experiência nova e imprevista com a qual não nos achamos capazes de lidar. Mas só alguém que esteja disposto a qualquer coisa, que não exclua nada, nem mesmo o mais enigmático, viverá a relação com o outro como uma experiência viva” Rilke (Creio que esse é o texto que mais cito).

::Vivendo e aprendendo::

escrutínio

¦ substantivo masculino

1 processo de votação que utiliza urna

2 urna onde os votos são recolhidos

3 processo de apuração dos votos

4 exame que se faz minuciosamente

::My headphones saved my life::

Daniel na cova dos leões - Legião Urbana

Aquele gosto amargo do teu corpo

Ficou na minha boca por mais tempo:

De amargo então o salgado ficou doce,

Assim que o teu cheiro forte e lento

Fez casa nos meus braços e ainda leve

E forte e cego e tenso fez saber

Que ainda era muito e muito pouco

Faço nosso o teu segredo mais sincero

E desafio o instinto dissonante

A insegurança não me ataca quando erro

E o teu momento passa a ser o meu instante

E o teu medo de ter medo de ter medo

Não faz da minha força confusão

Teu corpo é meu espelho e em ti navego

E eu sei que a tua correnteza não tem direção

Mas tão certo quanto o erro de ser barco a motor

E insistir em usar os remos,

É o mal que a água faz, quando se afoga

E o salva-vidas não está lá porque não vemos