quinta-feira, setembro 10, 2009

Jours 4,5,6,7,8 e 9

    A ideia de escrever um diário, e mesmo a de manter o blog sempre atualizado, já foi por água abaixo. Aqui os dias são longos (por enquanto), e eu estou muito animada (creio que isso não vai mudar), então tenho o que fazer o dia todo, se tiver de escolher entre parar para escrever o que estou vivendo e sair de casa para viver, preferirei sempre a segunda opção. É assim que tem sido.
    Sábado eu acordei bem tarde, confesso, quase meio dia, mas foi bom para descansar. Fui ao mercado fazer umas comprinhas simples e necessárias, como papel higiênico, leite, macarrão (e por isso tive que comprar o óleo para cozinhá-lo), molho, pão, manteiga e géleia, e precisava de frutas, então escolhi dois tipos diferentes de ameixa que nunca vi, uma se chama myrabelle, amarela, e a outra, roxa, é a ameixa clássica, da qual era feita a sopa da babá do Doug :) Confesso que errei na escolha da géleia, não o sabor, groselha, mas a marca mesmo, muito mole, sem pedaços de frutas (mãe, ainda não vi St.Daufort aqui, acredita?). Depois disso resolvi que era hora de ir à Cinemateca, escolhi ir de ônibus porque se pode ver mais coisa do que de metrô, sempre que posso pego ônibus,mas aqui é bem complicado, há muitas linhas que cruzam a cidade meio que em linha reta. Fui andando até a Gare de Auterlitz para pegar o ônibus, passando pela Mesquita de Paris, realmente muito bonita.
    Quando cheguei à Bercy tive um choque. Tudo lá é muito bonito, e eu não sabia que era do outro lado da biblioteca nacional nem que a passarela Simone de Beauvoir ficava lá, por cima do Sena (da Sena, na verdade,hehe), ligando Bercy à Biblioteca François Mitterand. Donc, eu fui passear pelo parque, lá há um jardim cheio de flores, legumes e frutas com os nomes de tudo, atravessei a ponte, passeei pela pátio da biblioteca (quatro prédios em formato de livros abertos), e escutei um tango vindo de longe, era um casal ensaiando embaixo da ponte, onde há uns espaços suspensos. A cena inusitada foi realmente linda e me emocionou. Tinha um encontro com o Nabil mais tarde no Hôtel de Ville, então não pude ficar muito tempo por lá. Descobri as ruas com nomes de diretores de cinema, olhei de fora a Cinemateca, mas... na hora de entrar...não pude. Vindo do Parc de Bercy há um carrossel antes da entrada da Cinemateca, passei por ele, e lágrimas vieram aos meus olhos (isso agora está mais comum aqui,mas desta vez foram muitas), senti meu coração disparar, e resolvi não entrar. Domingo que vem eu vou, sem frescura, porque pela manhã o Museu do Cinema é gratuito.
   Peguei um bus (com biquinho) mas não sabia ir até lá só assim, então pela primeira vez peguei o metrô, na Gare de Lyon, imensa, onde eu me perdi completamente várias vezes. O metrô daqui, parêntesis para falar disso, não é rápido, não é limpo, mas é divertido, você vê o esgoto vazando em algumas estações, não tem muito lugar para ficar em pé no vagão, mas mesmo assim, há sempre alguém que canta (mal!) ou que toca alguma coisa (amei o cara do acordeon). Então encontrei o Nabil, Linus e Florence na Hotel de Ville e fomos ao Marais, um bairro muito legal, cheio de gente, mas menos afetado que aqui perto da rue Moufettard. Fomos a um bar que se chamava Etoile Manquant, algo como estrela que falta, estrela faltante, e resolvi experimentar pastis, uma bebida típica do sul da França, feita de anis, realmente muito forte, que misturamos com água. Passeamos um pouco pelo bairro e voltamos à pé, realmente agradável.
    No domingo acordei realmente cedo, porque queria ir na feira aqui perto dar uma olhada. Comprei e experimentei pela primeira vez groselhas, myrtilles (blueberry) e framboesas amarelas. Na hora do almoço fui ao Cassoulet do CouchSurfing na Arena de Lutèce, um antigo anfiteatro romano, maravilhoso, onde o pessoal joga futebol e pétanque (uma bocha que todo mundo joga, não só o pessoal da terceira idade). Cassoulet é algo maravilhoso, uma "feijoada" francesa, com carne de porco também, e feijão branco. Com mais de 100 pessoas seria impossível ficar sozinha, e conversei muito com dois franceses, uma italiana e um holandês, todos muito simpáticos. Uma delícia. Até queria jogar pétanque, mas erao primeiro domingo do mês e vários museus são gratuitos nesse dia, então escolhi o que fechava mais tarde e fui ao Centro Pompidou. No caminho resolvi pegar ruas novas e encontrei nada mais nada menos, sem querer, a casa em que ficava Descartes em Paris! Eu estou viciada nessas placas de prédios e muros daqui, e cada dia descubro uma nova que tem uma história emocionante, gente que foi fusilada naquele local pela liberação da França dos nazistas na Segunda Guerra e coisa do tipo.
    Lá no Pompidou havia uma exposição feminista que não tive tempo de ver porque fui direto para o andar da coleção de arte moderna. Choque! Rothko, Modigliani, Duchamp, Picasso, Matisse, fotos de Diane Airbus, meu querido Calder, e muito mais, tudo ali, diante de mim. Fora as paredes de vidro do quinto andar do Centro, ao pôr do sol de Paris, de onde se podia ver a cidade toda.
    Segunda feira não foi feriado aqui, começaram minhas aulas de francês. Várias nacionalidades na sala, mas até hoje ninguém que não se conhece falou muito, o que é uma pena, talvez porque todos estejam com sono, porque as aulas começam às 8h, e eu, que moro do lado, acordo às 7h, imagine quem mora longe. E finalmente nesse dia fui à Torre Eiffel. E dessa vez há fotos de mim, porque fui com Noelle, minha companheira de quarto. Até então a maioria das minhas fotos eram apenas dos lugares, pouco turista, eu diria, hehe, porque não havia ninguém para tirá-las para mim. Se bem que hoje, em Montmartre, um moça viu eu tentando tirar uma foto de mim mesma com a Sacre Coeur ao fundo, e se ofereceu para tirar uma foto minha. Ah, e o mais bizarro aqui, é que quando as pessoas pensam que você é turista, começam a falar em inglês com você, e aí eu continuo falando francês, até porque várias pessoas me disseram aqui que eu falo bem o francês, e isso me deixa muito feliz.
    Ontem a dona da padaria aqui perto, uma padaria muito boa, artesanal,  nos (a mim e a Noelle) deu um livrinho sobre a arte de fazer pão na França, com muita coisa, e mesmo mapas das regiões da França, e disse que era um presente porque nós falávamos bem o francês e assim podemos aprender palavras novas. Ainda bem, porque quando vou à padaria não sei o que significa nada. E hoje a dona da fotocopiadora aqui do lado disse que eu digo Merci de um jeito bonito ;)
   A Torre Eiffel, ah, ela é linda, imensa, maravilhosa! Mas como muitas coisas aqui, há sensações que não consigo descrever. Eu ia dizer que não se podem descrever, mas se podem sim, mas talvez eu não seja muito capaz de descrever. Só queria que as pessoas que talvez leiam esse blog, que estejam pensando em mim aí no Brasil, saibam que eu estou muito feliz, como nunca havia sido antes, é uma coisa magnífica!
   Por falar em Brasil, hoje na frente da Sacre Coeur havia um grupo jogando capoeira, e no parque de Bercy também havia. Eles jogam, tocam berimbau e passam o chapéu, é claro. Também encontrei dois ou três restaurantes brasileiros por aqui, todos muito caros, como por exemplo mandioca com picadinho por 15 euros. Haha, como isso por 5 reais no Brasil! Bom, também, é só lembrar quanto pagamos no cassoulet aí no Brasil também, aqui vende na lata até.
   Na terça foi dia de burocracia, ir na Cité Universitaire validar meu visto. Valeu a viagem porque lá é tudo muito bonito. Depois disso fui com Noelle ao cemitério de Montparnasse visitar alguns túmulos, e o primeiro foi o de Sartre com Simone de Beauvoir. Havia dois vasos de fortunas vermelhas sobre o túmulo, um desenho de um bonsai escrito Sartre e Simone em coreano (Noelle leu para mim) e um desenho MUITO fiel dos dois, escrito embaixo "O existencialismo é um humanismo", em português mesmo, bem assim, o nome de uma palestra que Sartre deu certa vez, e, é claro, muitos bilhetes de metrô com mensagens escritas e segurados por pedras. Eu deixei um bilhete também, mas não de metrô, porque já uso o cartão, então um recado num papel normal.     
    Após o passeio meio mórbido fui encontrar o Nabil no Jussieu e passeamos pelo boulevard Saint Martin, quando nos separamos acabei indo até a Notre Dame, que ainda não tinha visto,mas não entrei, espero ir no concerto de órgão domingo à tarde. Mas por fora e em volta ela é realmente linda, e foi de chorar, de novo, estar no marco zero da França, em frente a catedral.
    Ontem a Jelena chegou a Paris, após o curso de francês fui buscá-la com Kioungmi no ponto de ônibus para ajudá-la com as malas, depois fomos ao CROUS e finalmente voltamos ao Concordia, nossa residência. A noite nos juntamos para uma pequena reunião, Noelle, Kioungmi, Suok (não sei como escrever,só sei dizer, mas é uma outra coreana que está na residência), Jelena e moi, para comer pão, queijos, comida coreana, e vinho. E, é claro, falar, falar muito!
    Hoje no almoço fomos comer kebab, que é como o nosso churrasco grego, roda, roda, roda, mas tem uma aparência melhor, aqui na maioria das vezes é feito por árabes ou turcos, e, por causa disso, é carne de carneiro e não de porco. Deliciosa, escolhemos num lanche com salada e molhos, que vem com fritas também. O sabor é bom, mais leve que de boi ou porco e mais saborosa também. Além da Coca Cola e da Fanta terem sabor diferente aqui, sem contar o leite, que é horrendo, a mostarda é mais forte (ah, e vou levar muitas Dijon porque aqui é BARATO) e o ketchup também,mas a maoinese é ruim.
    À tarde resolvi ir à Montmartre, depois de ir no banco resolver umas coisas.Não passiei muito pelo bairro porque logo escureceu,mas fui à igreja, vi o pôr-do-sol do alto das escadas de lá, e peguei um tipo de elevador que sobe até,mas desci pela escadaria. Fora que o bairro é tão alto que mesmo a estação de metrô tem elevador, o maior que já vi. Mas preciso voltar ao bairro e ir a Pigalle, ver o Moulin Rouge e o bar em que trabalhava Amelie no filme,ah, e também visitar o museu do erotismo!
   Para amanhã será a exposição de Henri Cartier-Bresson, o museu de arte moderna da cidade de Paris e depois... Louvre, de graça!

  
  
  

sexta-feira, setembro 04, 2009

Jours 1, 2 et 3

Je me promène
Aqui os dias são imensos, mas ainda não consegui escrever nada, seja aqui, seja no meu diário que pretendo, ou pretendia ter disciplina para fazer aqui. Entre andar por aí e sentar e escrever, prefiro andar, mas talvez adote um método de levar o caderno para passear comigo.
O voo para Amsterdã foi bem tranquilo, para uma primeira vez andando de avião, achei que teria medo, mas as sensações são tão boas que o frio na barriga se torna maravilhoso.
Mentira: comida de avião não é ruim, pelo menos a da KLM não é.
E o leite do café da manhã no avião estava muito bom, muito melhor que o daqui, não sei bem porque mas o leite daqui não é bom. Amanhã vou tentar comprar o UHT, porque o fresco é horrível, um pouco amargo e bem fraco para um integral.
Quase perco a conexão para Paris em Amsterdã, tudo porque esqueci de tirar o celular do bolso ao passar no raio X, aí já era, a mulher me revistou todinha, quase um estupro, me fizeram perguntas. O Pedro e eu atravessamos o aeroporto inteirinho correndo e por pouco não perdemos o voo. Um avião bem menor do que o que veio de S.Paulo, tão menor que balançava bem mais. O voo durou 50min, foi só o tempo do lanchinho, um lanche holandês muito bom, um com queijo e outro com uma mortadela diferente meio apimentada.
No aeroporto esperamos alguns minutos e logo Jean Philippe chegou para nos buscar. Muito simpático ele nos levou ao CROUS e nos esperou lá por um tempo, só que lá as coisas demoraram bastante. Ainda bem que o couch para a primeira noite era bem perto, porque carregar todas as malas foi muito difícil mesmo, tive que parar em vários momentos. Kiahyon, o couchsurfer que nos recebeu foi muito legal, nos deixou num studio só para nós, no mesmo prédio, o mais lindo que eu vi aqui por enquanto.
À noite, mesmo cansada, fomos à Rue Mouffetard, num pub e tomamos um chopp, creio eu, que era francês, por um preço até acessível. Caminhamos um pouco pelo Quartier Latin e voltamos para dormir.
A coisa aqui é que tirando o fato de que não me acostumei com o horário, o dia começa cedo e termina tarde, hoje acordei às 7h30 e já estava bem claro, e escureceu às 21h, então chega 22h e eu estou ainda animada. Afinal, quando os franceses dormem? Porque às 8h a rua está cheia de gente indo trabalhar, muitas mães com os carrinhos levando as crianças para as creches e escolas (eu moro em frente a um Maternelle), e às 21h30 ainda está cheia, a praça de Contrescarpe e a Mouffetard estava lotada de gente nos bares e restaurantes.
O monumento que mais vi aqui: o Pantheon, acho que o vi já umas 7 vezes ou mais, nesses dois dias e meio aqui, é perto da residência e no caminho para a Sorbonne, por isso quero descobrir um caminho que não passe mais por lá, e aí nessa procura eu me perdi hoje pela manhã, e tive que sacar o mapa. Aqui o lance com o mapa é engraçado, e com a câmera também. Quando se está na rua, andando, ou sentado, e mesmo no ônibus, as pessoas te olham de um jeito, aí você saca o mapa ou a câmera e os olhares te fuzilam... aparentemente eles não gostam de estrangeiros. A mesma coisa ao falar, se eu hesito um pouco nas palavras, pronto, a cara de impaciência vem. Mas as pessoas não são antipáticas aqui, ainda não encontrei alguém realmente antipático, ah sim, o funcionário da estação Port Royal do RER, nossa, ele foi grosso.
Verdade: as pessoas aqui cheiram bem e se vestem muito bem mesmo.
Verdade: há muitos turistas por todo lado.
Verdade: todo mundo leva uma baguete p/ casa no fim do dia, é incrível, e realmente elas não são totalmente cobertas, eu não achei nenhum lugar que vendesse toda coberta, então você leva p/ casa tomando o ar de Paris. E a baguete não fica dura depois de um dia, comprei uma ontem à tarde e ela ainda está comestível.
Verdade: a Nutella aqui é barata. a normal é cara, mas o pote enorme, com quase um kg é muito barato.
Ontem comprei minha primeira Cahiers du Cinéma, foi lindo, numa banca no Boulevard St Michel. E hoje comi um macaron, enorme, mas achei muito doce. Il faut aller à Hermé, os macarons mais famosos do mundo. Agora a missão é comprar frutas. Hoje comi um kiwi no bandejão daqui, se bem que chamar de bandejão é mancada. Não é tão barato,mas a comida é maravilhosa, comi bata frita e peixe, um creme de groselha maravilhoso, AH, COMI GROSELHA, a fruta mesmo! Enfim, salada e kiwi.
Hoje eu precisava escrever porque hoje, enfim, eu chorei. De dia eu chorei de raiva porque não consegui fazer o velib, as bicicletas daqui, e deu tudo errado, e chovia, e só aceita cartão com chip e eu tive que abrir uma conta no banco. No passeio do fim da tarde eu chorei de alegria, quando desci até o Seine, A Seine, como eles chamam aqui, vi o rio, andei ao lado dele, vi o sol se pôr atrás da Tour Eiffel, quando cheguei na Place des Vosges, e na volta quando passei pela Cardeal Lemoine e vi onde o James Joyce terminou "Ulysses" e onde o Hemingway morou durante os anos que descreve em "Paris é um Festa".
O Oliver vem me visitar no fim de semana da Festa do Patrimônio, dia 18,19 e 20. E amanhã vou ver o Nabil.