quinta-feira, janeiro 27, 2011

::My headphones saved my life::
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar



::Não esquecer de Brusky::

Num encontro com o artista Paulo Brusky numa palestra para os arte-educadores da Bienal, ele nos contou uma história que jamais serei capaz de esquecer. Brusky trabalhou a vida inteira como funcionário público numa repartição da saúde no Recife, um dia um pintor foi entregar um quadro que havia vendido para um médico grã-fino da cidade e encontrou Brusky em seu trabalho. Assustou-se:
-Pô Brusky, o que você está fazendo aqui, você é um artista, por que está aqui?
Ao que Brusky responde:
-Para não suar minha arte embaixo do sovaco.
Desde esse causo, o Brusky virou meu herói, aquele sujeito bonachão me conquistou e sua causa também.
Mas agora, pensando melhor, reavalio a situação e vejo nisso uma pitada de arrogância e de covardia. Pode ser que eu esteja avaliando a mim mesma, mas o fato é que tal “causa” supõe que sua arte é boa demais para se sujeitar ao mercado, e como um tem de viver, vende sua força de trabalho diariamente para ser um artista livre. O capitalismo é cruel, nenhuma novidade, e para os meros mortais que não nasceram em berço de ouro e não foram estudar administração/direito/engenharia, o que resta, aparentemente, é isso, jornada dupla, vida dupla.
Numa você sobrevive, na outra você vive. Não seríamos muitos de nós artistas que preferiram não suar sua arte no sovaco e que acabamos por não suar mais por nossa arte?

::Juras::
Para mim a cama nunca é estreita, ela é o mundo, o universo no qual me atiro de corpo e o que mais tiver em mim. Há muitas coisas que gostaria de ouvir dele, espero por momentos e por frases das quais não me esqueceria, que me fariam flutuar. Mas essa espera não pode me cegar para os momentos e as falas mudas dos agoras que vivemos. Eu sou da fala, da escrita, analfabeta dos gestos e dos olhares, não sei ler entre linhas, não consigo ouvir suspiros. Assim a vida parece sempre em suspensão, uma expectativa por demonstrações que nunca virão e, logo, a frustração.
E entre o sono e a vigília, no leve movimento para alterar a posição no encaixe de meu universo, ele dorme com um sorriso nos lábios, e pega a minha mão, afaga-a contra a sua, e dá um beijo, terno, leve, cheio das afirmações que quero ouvir, e que não pode dizer.

sábado, janeiro 15, 2011

::O que me faz falta::

Não sinto falta de trabalhar na Bienal, trabalho é sempre chato, sinto falta é das férias, isso sim, de viajar, de praia, mas não de trabalho. Mas quase um ano é muita coisa e é claro que penso sempre na Bienal. E sinto falta...
... das idas com a Mari nos últimos meses, aquele tempo que passavamos no trânsito da Radial Leste era minha terapia diária;
... dos abraços e beijos no começo do dia;
... da bagunça;
... dos olhos brilhantes das pessoas que estavam deslumbradas com o que viam, essa é a beleza de verdade;
... do filme do Nastio Mosquito;
... dos espelhos da Monir;
... da raiva que eu sentia ao subir as rampas do prédio;
... das discussões acaloradas;
... daquele nosso lugar no auditório, o lugar da turma do Giu;
... das travessias do pontilhão;
... daquele sofazinho salvador;
... de ver todos os dias as minhas amigas, e filar os lanches delas.

::My headphones saved my life::

Mentiras – Adriana Calcanhoto

Nada ficou no lugar
Eu quero quebrar essas xícaras
Eu vou enganar o diabo
Eu quero acordar sua familia

Eu vou escrever no seu muro
e violentar o seu rosto
Eu quero roubar no seu jogo
Eu ja arranhei os seus discos

Que é pra ver se você volta
Que é pra ver se você vem
Que é pra ver se você olha
Pra mim

Nada ficou no lugar
Eu quero entregar suas mentiras
Eu vou invadir sua alma
Queria falar sua lingua

Eu vou publicar seus segredos
Eu vou mergulhar sua guia
Eu vou derramar nos seus planos
o resto da minha alegria

Que é pra ver se você volta
Que é pra ver se você vem
Que é pra ver se você olha
Pra mim

domingo, janeiro 09, 2011

vâmo que vâmo


::Divagações no Escuro::

Profecia dos Sapos
Fazia tempo que queria ver essa animação, que chance melhor do que a sessão especial para crianças do Cinesesc de domingo de manhã? Convidei minha mãe para me levar, afinal, sabia que estaria cheio de mães e pais com seus filhos, nada mais justo, não é? Recomendo essa sessão, todos os domingos pela manhã. Rua tranquila, dia tranquilo, e já começa com muita animação e alegria em ver crianças fofas brincando com tudo e sorrindo e correndo. E o melhor de tudo... durante toda a sessão não diríamos que a sala estava cheia de crianças, elas deveriam dar aulas de boa educação no cinema para os frequentadores dos Cinemarks da cidade.
A animação é linda, com estilo giz de cera e traços meigos, destrava o olhar viciado em animações computadorizadas no estilo Era do Gelo e Toy Story. A história, simples, prende a atenção e traz mensagens que serão sempre necessárias, básicas. Baseado na história de Noé da Bíblia, conta sobre um dilúvio do qual escapam um casal e seu filho adotivo juntamente com a amiguinha dele e muitos animais num celeiro que bóia graças a uma câmera de pneu de trator. Amizade, confiança, esperança e respeito à diversidade e ao meio ambiente, tudo isso e uma grande festa de confraternização ao final.

Última Parada 174
Queria saber o que esse filme tinha para ser levado ao Oscar como representante do Brasil, e é lógico, não ficar nem entre os 9 selecionados. A Globo deveria fazer suas sessões de filmes nacionais o ano todo e não só no começo do ano, semana maravilhosa essa do começo de janeiro, todo dia um filme nacional em horário nobre, melhor do que a falta de graça do Casseta e Planeta ou os animais e a obesidade no Globo Repórter.
Enfim, o filme tem todas aquelas qualidades de “filme brasileiro para exportação” cunhadas com Cidade de Deus. Se numa época eram o sertão, a miséria, a fome e a esperança, agora são o Rio, as favelas, o tráfico, tiro e pancadaria, bandidagem e suspense. Que história melhor do que uma real que mexeu com o Brasil? E nada melhor do que uma história triste por trás da desgraça, um determinismo social incrível para gerar nos espectadores um misto de culpa social com pena e comiseração. Mas o filme não é de todo ruim, tirando os clichês, ele é bem executado, e isso é importante para o cinema nacional, que tenta crescer e melhorar sua qualidade, como a de sincronização do som.
Vídeo do Youtube com as cenas reais, no filme essa parte ficou muito boa, de fato.
http://www.youtube.com/watch?v=MLMkBq--M_A


::Achado na gaveta::

Visita a BH em novembro

São Paulo está largada às traças, abandonada, é o deus-nos-acuda, o salve-se-quem-puder, “e agora, quem poderá nos ajudar?”
Uma cidade em que tudo é 24 horas, se orgulha disso, mas não tem transporte 24 horas. A “província” de BH, o “interior”, como chamam os paulistanos-metropolitanos-urbanizados-desenvolvidos, tem ônibus 24 horas. Como eu faria para chegar da minha casa na rodoviária às 4 horas da manhã? Sem ônibus, sem metrô. Impossível. Mas de onde se vê estrelas, o galo canta de manhã,e o vizinho abre o portão para eu comer jaboticaba do pé, ah, de lá até a rodoviária fui em 20 minutos às 4 horas da manhã em transporte público. E o ônibus não custa R$2,70, ou melhor, R$3, né?
Desenvolvimento para quem, cara pálida?
Na incrível terra em que um café expresso e um pão de queijo custam menos de R$3 e o quilo do pão menos de R$7, o centro é bem iluminado, menos sujo e mais policiado, o rio também é poluído, também tem trânsito, mas ouve-se menos buzinas, veem-se mais andorinhas e beija-flores.
“Oh Minas Gerais, quem te conhece não te esquece jamais”.
“Não permita Deus que eu morra sem que volte para lá”.

::Fases::

Existe uma fase do estar apaixonada em que a super confiança em si e o otimismo saem de cena para dar lugar à insegurança.



segunda-feira, janeiro 03, 2011




::Na prateleira::

Outro dia na Folha de São Paulo, a colunista Mirian Goldenberg começou uma discussão sobre o desconforto causado pelas novas categorias inomináveis de relacionamentos. O texto de novembro começa: “Muitas mulheres dizem que não sabem como definir o homem com quem estão tendo uma relação afetiva e sexual.” O que une essas pessoas é mais o sentimento e menos o rótulo de compromissos aceitos e classificados pelos pactos sociais. A discussão é pertinente, e fez o favor de atentar para o fato de que os homens podem simplesmente dizer “esta é minha mulher”, porém se uma mulher apresenta o homem com quem tem um relacionamento como “meu homem” soa extremamente vulgar. Em dezembro, Goldenberg e suas leitoras propuseram que se comece um movimento “pró-meu-homem”, que comecemos a chamar nosso “affaire” de “meu homem”, apresentá-lo assim para famílias e amigos, sim, na maior cara-de-pau. Problemas da vida moderna. O Facebook entendeu, e disponibilizou diferentes opções além dos clássicos “solteiro/casado/divorciado/viúvo”, como amizade-colorida e relacionamento enrolado, mas qual relacionamento não é enrolado?
Uma das pessoas citadas por Goldenberg diz: “Eu me classifico como tendo um relacionamento sério. Mas na vida real como posso apresentá-lo aos meus amigos? Este é fulano, o meu relacionamento sério?" Pois é, pois é, pois é. Respiro fundo. O problema de não querer se auto-rotular é a dificuldade de comunicação. As palavras são convenções para que, a partir do momento em que signifiquem as mesmas coisas para um grupo de pessoas, estas possam se comunicar entre si. Sem rótulos, tudo parece ideal, porém a confusão é geral ao deparar-se com uma sociedade que funciona por rótulos.
Já tive namoros, namoricos, casos escusos, relacionamento aberto, affaire, sexo sem compromisso, amigo com benefícios, amizade-colorida. Mas e quando você dá de cara com sua avó? “Oi vó, esse é Fulano, meu amigo-colorido”. Minha avó vai pensar que meu amigo é gay. Ou “oi vó, esse é Fulano, o cara com quem tenho saído nos últimos tempos e com quem faço sexo usualmente”?



::Divagações no Escuro::

A Rede Social

Vou falar bem baixinho, vai que a Associação dos Pseudo-Intelectuais me ouve... Eu gosto do Justin. Muita calma nessa hora, não o Justin Bibier, mas sim o Justin Timberlake. Não sou fã de sua carreira como cantor, mas quando assisti a Alpha Dog ele foi o ator que mais chamou minha atenção, mais do que a Sharon Stone transformada em mulher-feia. Em A Rede Social é ele de novo quem rouba o filme, proporcionando os melhores momentos do longa.
O filme não tem nada de especial e diferente, mas é um ótimo filme, porque reúne todos os elementos para ser um bom filme, sem vanguardismos ou afetações. Temos ali uma boa história, do tipo que todo mundo gosta: o nerd desprezado que dá a volta por cima. Com requintes de crueldade. E você nem sabe se fica do lado do Zuckerberg ou do Eduardo, afinal, você foi com a cara do Mark, ele é um cara legal e incompreendido, que estava lá, na dele, sendo nerd! Além disso, para os usuários apaixonados do Facebook, a curiosidade que vai sendo aos poucos alimentada para saber como surgiram diversas ideias para o programa só aumenta o prazer em ver o filme. No fundo é isso, não é o novo Godard, não é bonito, é prazeroso.

Tron 
Sim, sim, quero ver os blockbusters! Tenho tempo para todos nas férias, vi o novo Godard, retrospectiva do cinema brasileiro 2010, o recente Almodóvar e o do Michael Jackson na TV e, finalmente, criei coragem para colocar a mão no bolso e ir ver um filme em IMAX. Super concorrido, consegui um péssimo lugar, vendo filme de lado, o que, em 3D devia ser proibido. Fora que uma sala para uma tela daquelas, com uma projeção daquelas, deveria ter sido melhor projetada, não é justo que se pague tão caro para ter um péssimo assento. Bom, de fato a tela logo na entrada já me fascinou. O filme não é lá essas coisas em 3D, por serem muito escuros os óculos só tornam a situação pior e, como sempre, são desconfortáveis, e por não ter mesmo muitos efeitos de 3D. Boa mesmo foi a abertura da Disney, com o castelinho, em 3D, foi genial, de arrepiar o braço.
Não vi o filme da década de 80, o que mais me atraiu para o cinema, além do IMAX, foi a trilha sonora do Daft Punk, que não decepcionou, ainda mais quando eles aparecem na festa, com o vilão que merece concorrer o MTV Movie Awards de melhor vilão do ano, hilário o Michael Sheen como Castor.




::Anamnese Epistolar::

A vida é curta e a vida é mais do que podemos suspeitar, as pessoas são maravilhosas, às vezes. E somos sozinhos.