segunda-feira, junho 10, 2013

Show no Facebook



Quem me conhece sabe: sou chata. Além de mão-de-vaca, tendo a ser muito mal-humorada quando pessoas não deixam a esquerda livre nas escadas rolantes e empacam na porta do metrô ao entrar. Também não curto ir à 25 de março em dias próximos ao Natal e Carnaval, odeio que cabelos alheios encostem em mim, não deixo meu belo-palio-97 com valets e meu esporte favorito, depois talvez de levantamento de garfo, é reclamar.
Reclamo de tudo - tema de muitos posts aqui - e esse é mais um post de reclamação.
Não curto muito ir a shows em que se deve ficar de pé, com exceção de alguns na choperia dos Sescs Belém e Pompeia, prefiro ficar sentada na grama do Sesc Itaquera e do parque do Ibirapuera, ou ficar sentada na minha poltrona, mexendo os braços e batendo os pés. Odeio mortalmente quem fica do meu lado cantando as músicas que estão sendo tocadas, afinal, estou lá para ouvir o artista no palco e não o artista-de-chuveiro-se-realizando-do-meu-lado. (Eu sei, todos os meus amigos já me disseram que isso é chatice minha). Não suporto sequer a ideia de ir a um festival e ficar o dia todo vendo bandas aleatórias, usando banheiro químico, comendo pizza-congelada-da-sadia de 10 dilmas e bebendo copo d'água de 5 dilmas, para ao fim do dia ver a banda-mais-bonita-da-cidade.
Já fui ao show do New Order em 2006 no Via Funchal e ao grande show da Björk na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, em 2007, grudada na grade gritando feito groupie após cada música. E foi só.
Aí, num impulso muito louco, três dias antes do show, resolvi gastar uma pequena fortuna para assistir ao retorno do The Cure ao Brasil após 17 anos sem nos visitar. Oh, The Cure, que junto com The Smiths, New Order, When In Rome, Erasure e outros, fez minha alegria nas festas da Thorns (quem lembra?), quando meu pai ia como responsável por mim e meus amigos menores de 18 anos.
O show foi memorável. Diria, até, que valeu cada rico centavinho. Porém (sim, sempre há um porém), o público era muito estraga-prazer. Chegamos cedo, mas não o suficiente para ficar perto do palco. Ficamos bem localizados, perto da lanchonete e não muito longe do banheiro, bem no alto de um pequeno morro, excelente para quem tem 1,60m num show enorme no Anhembi. Aos poucos o pessoal foi chegando e apertando, apertando e colocando seus 2m de altura a dois centímetros dos meus olhos. Até aí tudo bem né, faz parte.
Mas por que raios você vai para um show para ficar de papo com seus amigos a altos decibéis, do lado de gente que quer curtir o cara que tá lá em cima dando o sangue para cantar? Um grupo de uns seis adolescentes que estavam colados em mim não paravam de reclamar que não conheciam as músicas, ficavam de assuntos aleatórios e postavam fotos loucamente no facebook. Lou - ca - men- te!
Robert Smith no auge dos seus 54 anos cantou por 3 horas e meia sem parar, bela, linda e empolgadamente. É claro que em três horas ele não ia cantar só Boys don't cry, né, meu bem?! Então não reclama de não conhecer as músicas que você pagou 200 contos para ouvir, ou melhor, para não ouvir.
Eu já avisei lá no começo que sou chata. Mas juro que eles falavam alto demais, a ponto de não dar para ouvir as músicas direito. Sério mesmo. Há testemunhas. Eu só me pergunto: por que?
Aí eu me toquei. Eles não paravam de falar de fulano do facebook, sicrano do instagram, e na real, acho que estavam ali mais para dar check-in no foursquare e postar fotos no face dizendo que estavam lá. Aliás, quantas vezes você já não foi a um show em que era impossível ver o cara no palco a não ser por visores de câmeras alheias?
Há pessoas que não vivem mais para viver, mas vivem para contar na internet que estão vivendo e como estão vivendo.
Dancei, dancei muito até furar ainda mais meu tênis. Gritei e cantei. E vou, mais uma vez, sentir saudades do The Cure.