segunda-feira, outubro 20, 2014

Divagações no escurinho da Mostra

Quando comecei esse blog, meu segundo, em 2007 (naquele tempo em que conseguia escrever mais de dois posts por mês), ele tinha uma seção chamada Divagações no Escuro, na qual eu falava, brevemente, sobre os filmes que via, na TV, no cinema, não importava.
Por isso resolvi voltar a esse nome agora para falar dos filmes que tenho visto na Mostra deste ano. 2007 foi também o primeiro ano no qual trabalhei como monitora do evento, na correria do shopping Frei Caneca. Vamos ao que interessa, ou ao que não interessa a ninguém, pouco importa.

Cena de Amigos da França (Les Interdits)


-O Quarto dos Ratos-
Um filme egípcio que mostra um dia na vida de vários moradores de Alexandria. A montagem fez com que tudo ficasse meio confuso e o filme ficou perdido entre seus personagens: uma noiva no salão de beleza prestes a se casar, uma mulher que acaba de ficar viúva, um senhor de pijamas que passa o dia olhando o mar, uma garota que vai se mudar para Londres. Fossem histórias separadas em pequenos esquetes, ou fossem histórias que se cruzam com mais naturalidade, o filme sairia ganhando. A trilha sonora, contudo, é espetacular.

-7 Dias em Outro Lugar-
Fui ver este filme com uma grande expectativa, por ser do grande Marin Karmitz, que chegou a ser assistente de Agnes Vardà e de Godard. O filme é fruto de seu tempo, facilmente identificável que foi realizado no final da década de 60, na França. Porém, também é um filme que parece ter ficado parado por lá, que não transcendeu sua época, e muito disso se dá porque o que era para ser estilo na verdade é cacoete. São coisas que estavam lá nos primeiros filmes da turma da Nouvelle Vague, principalmente em Acossado, e que Karmitz usa, um pouco a exaustão. Mas as cenas de ensaios de dança são de uma beleza incrível e, no fim, são o que fica na mente após o filme.

-Conto de Cinema-
Esse filme de 2005, de Hong Sang-soo, é, para muitos, um clássico e, se não o é, é no mínimo muito respeitado (ele já esteve entre os filmes comentados no cineclube do Jean Douchet, na Cinemateca Francesa, por exemplo). Infelizmente eu nunca tinha visto, mas esse mal está agora reparado. Que filme maravilhoso, que filme gostoso, incrível. A vida que se faz cinema e o cinema que se faz vida. Além disso, grandes atuações. Um grande filme que sai de um fiapo de história, que saiu de uma sala de cinema em Seul.

-Amigos da França-
Uma ficção mais ou menos baseada em fatos reais daqueles que a maioria desconhece. Um grupo de judeus franceses que atuava na União Soviética junto a judeus que queriam emigrar para Israel. Tudo se passa em 79 mas, agora, o que o filme evidencia são as questões que estavam em torno do sionismo no período, o sonho que Israel representava para aqueles que moravam atrás da Cortina de Ferro, e o que é, e se ela existe, uma identidade judaica. E o que faz o filme grande é que, junto de tudo isso, é claro, há uma grande história de amor entre jovens que vivem uma utopia que de repente parece desaparecer diante de seus olhos. Quem nunca?