A escritora feminista Naomi Wolf uma vez disse: "Suspeito que as mulheres estejam entediadas sexualmente". Eu também!
Por uma união de peças que prega o destino + uma amiga companheira de roubadas + a minha absoluta mão de vaquice que não me deixa desperdiçar nada, nem mesmo ingressos gratuitos para o cinema, fui ver "Magic Mike XXL" na quinta da estreia. E olha que nem vi o primeiro.
A plateia era formada por mulheres, sozinhas ou em duplas, e casais de homens gays. Não havia sequer um casal heterossexual na sala. Primeira pergunta: será que nesses filmes cheios de mulheres gostosas só há homens sozinhos, ou com amigos, e casais de mulheres lésbicas? Ou será que as mulheres não se importam de acompanhar seus companheiros para ver mulheres gostosas enquanto os homens rechaçam completamente "Magic Mike"?
Logo de cara um ator tido como gatinho em Hollywood (não ligo muito pro Tatum não, mas não o acho mau ator) expõe seus grandes muques torneados em trabalhos de marcenaria. (ah, a marcenaria, esse grande clichê para enlouquecer mulheres!)
Aí o marceneiro faz uma dança muito louca, incluindo rebolados profissionais, ao som de uma música também muito louca. (ah, se os homens --especialmente os de São Paulo-- soubessem como é sexy homens dançando eles iam parar de acusar os homens que dançam de gays.)
Até aí legal né. Pensei: ok, acho que vai ser uma noite divertida no cinema.
Mas então entra toda essa história, como vocês devem saber de que se trata o filme, de strippers e danças de "clube das mulheres".
Mulheres gritando, se descabelando, se descontrolando diante de homens sem camisa que dançam e se esfregam em algumas delas. Mulheres entre 30 e 50 anos, com a câmera, e os strippers, dando especial atenção às mulheres gordas da plateia. Mulheres que são tratadas pela MC Rome (vivida por Jada Smith) por "rainhas" e num tom condescendente.
O discurso das MCs e dos strippers voltado a essas mulheres loucas por um peitoral visa aumentar sua auto-estima e condenar seus parceiros (e os homens não-strippers) como incapazes de entendê-las na cama. "Vocês são muitas e nós somos tão poucos" um deles diz em meio a um show.
Há pelo menos duas sequências exemplares dessa relação: no casarão-clube mantido por Rome uma mulher comemora com as amigas o seu divórcio, um dos "strippers" (entre aspas porque ele é mais cantor) compõe na hora uma pequena canção para a moça estimulando-a a acreditar em sua força interior, dizendo que ela é linda e que ele a ama. Isso tudo numa casa de strip.
Em outra ocasião, o grupo de strippers do tal Magc Mike está na casa de uma mulher de meia-idade recém divorciada (vivida por Andie McDowell) que está recebendo amigas e bebendo vinho. Elas, "soltinhas", começam a falar com esses caras fortões sobre seus descontentamentos na cama com seus companheiros, atuais e passados. Um deles abraça uma delas, depois de uma história sobre frustração sexual no casamento, canta para ela, mexe em seu cabelo, como se ela fosse uma criança triste, e aí senta em seu colo e se esfrega nela.
As danças, ainda que super bem executadas e com passos de street dance a serem mega louvados, simulam movimentos sexuais, com especial atenção para o pênis na boca da mulher. É claro que o stripper também simula a esfregação da cara dele na área vaginal da mulher, mas, como muitas vezes na vida real, é 10 "pênis na boca" para cada uma "vagina na boca". Além, é claro, do clássico mulher de quatro com o cara atrás.
Não estou dizendo que o filme não seja fiel à realidade, é totalmente capaz que ele retrate fielmente este universo "clube das mulheres" e o problema é a realidade mesmo.
Por que, eu me pergunto, essa mistura de sensualidade, sexo simulado e autoajuda? É disso que as mulheres gostam? É disso que precisamos?
Strippers mulheres não ficam de papinho "sua mulher tem te tratado bem?", "sua mulher dá para você sempre?", "você tem que se achar roludo, gostoso e lindo, meu rei" com os caras que foram lá vê-las tirar a roupa. Ou estou enganada?
Por que mulher tem que ganhar "terapia" quando vai atrás de algo sexual?