Para começar
devo dizer que já no título do texto tive de recorrer ao Google. Como escrever
"batibégui"? Aparentemente é desse jeito aí em cima, não achei em
dicionários, mas descobri que em espanhol o mesmo brinquedo parece chamar-se
picabolas. Entusiasmante. Mas tudo bem, esse texto já estava quase pronto em
minha mente antes da escolha do título e antes mesmo de eu me lembrar desse
brinquedo de barulho irritante. Escolhi o brinquedo como mote de uns dias para
cá.
Fui viajar já
pensando na nostalgia da infância, e no avanço extremamente rápido das mudanças
na vida nos últimos anos, e, quando eu volto, um mês depois, todos estão para
cima e para baixo com seus bat-bags por São Paulo. Primeiro pensamento: que
merda é essa? Voltei a 1996? Depois de ver celulares 3D e ter certeza de que
pousei na São Paulo de 2012, segundo pensamento: por que adultos estão batendo
essa coisa? Sim, não só os camelôs que vendem o brinquedo, brincam, adultos e
idosos divertindo-se com o brinquedinho barulhento estão por todo lado.
Pesadelo.
Poderia passar
horas destilando meu veneno e minhas críticas que seriam mal compreendidas
pelos defensores do politicamente correto de plantão, que avacalhariam minha
avacalhação de adultos que brincam de bat-bag por aí, sim, poderia estar
matando, poderia estar roubando, mas não, vou ficar quieta sobre esse ponto. Já
deixei clara minha estupefação, e vou retornar ao tema que me instigava desde o
início, desde antes do ressurgimento macabro das bolinhas coloridas: a boa e
batida frase "poxa, estou ficando velho".
Muitas
conversas com amigos em bares e ruas e filas de cinema e do bandejão começam ou
acabam com essa frase. Para quem ainda não está na faixa dos cremes Renew ou
Chronos, é de se pensar o motivo de tal constatação. E pensando bem descobri
que os avanços é que foram rápidos demais. Tive uma infância mais parecida com
a dos meus amigos que tem 30, 35 anos, do que com a do meu irmão, quatro anos
mais novo do que eu.
Vamos aos
exemplos. Quando eu estava na escola, no fundamental I, que naquele tempo não
muito distante todo mundo ainda chamava de primário, estudávamos geografia
fazendo mapas em papel manteiga. Quem lembra? Copiávamos os mapas dos atlas com
o papel transparente por cima e pintávamos os rios de lápis de cor azul claro.
Suspeito de que na papelaria do bairro nem vendam mais papel manteiga. Atlas,
nunca mais vi. E eu que copiava os mapas de uma Barsa que tinha em casa na qual
não existia Tocantins (até aí tudo bem, é novinho) e na qual ao lado do Rio
ficava o estado da Guanabara. Talvez meu pai tivesse razão em investir numa
Enciclopédia Larousse mais tarde, ou não muita, quem poderia prever o fim das
enciclopédias? Nem Diderot e D'Alembert teriam imaginado a Wikipédia. Sem falar
das réguas que todos queriam, mas os professores proibiam, rainhas da 25 de
março, réguas com o mapa do Brasil. Não precisa nem ser professor ou aluno para
saber como os estudantes levam mapas à escola hoje, né?
Quando eu era
criança lá em casa não tínhamos telefone. Tínhamos o aparelho, que eu adorava
ficar abrindo e brincando com as peças, mas nada de linha telefônica. Para
pedir pizza era preciso ir ao orelhão do bairro, sim, como disse, não sou
velha, já tinha o "delivery". Para ligar para as amiguinhas que
tinham telefone, orelhão do bairro. Isso porque a linha era super cara, tinha
gente que alugava linha telefônica mais caro que aluguel de casa. Era por
sorteio e quem tinha também era acionista da Telebras ou Telesp, coisa que o
valha. Nosso primeiro telefone foi um celular da BCP, e eu já tinha 10 ou 11
anos, um ano depois veio a internet, discada, e com ela nossa linha de telefone
fixo. Quem lembra do barulho e das tentativas de número 100 para conectar no
final de semana? E hoje todo mundo tem pelo menos um celular, tem gente com
mais de um numero, como é meu caso, internet no celular e tudo mais.
Mesmo o
bat-bag (ok, não me conformo), em 1996, ano da segunda ou terceira onda da
febre do brinquedo (porque teve uma nos anos 70 também), eles eram feitos com
corda de varal e uma porca de metal, não sei o nome específico, algo como uma
porca. Hoje é um cordãozinho mais fresco e uma pecinha de plástico.
A televisão a
cabo, quando muito, tinha legenda. A primeira vez que vi Cartoon Network na
vida era em inglês, sem legenda, pela TVA. Quando meus pais assinaram tv a cabo
em casa nada era dublado, nem os desenhos. Meu video game era um Super Nintendo
no qual eu jogava Super Star Soccer e hoje o Wii dá de mil a zero no Super
Nintendo, com seus cartuchos que a gente assoprava para funcionar melhor. Quem
lembra?
Vi meus pais
trocarem todos os LPs por CDs, e eu gravava a primeira música da Britney Spears
num toca-fitas, apertando play e rec ao mesmo tempo e prestando atenção para
não pegar a propaganda da rádio, e nisso eu já estava no então chamado ginásio,
na quinta série, 1998, e em 2008 os CDs já eram obsoletos. O LP reinou por o
que? Uns 70 anos? E o CD não conseguiu ser soberano por 10 anos. Do primeiro
celular Star Tek ao Smartphone também foram só uns 10 anos, se muito.
Vi o fechamento
de diversas salas de cinema de rua, uma a uma, do Centro nos anos 90, da
Paulista nos últimos anos. Vejo o Cinemark crescer loucamente e 30 salas
passarem o mesmo filme o dia todo em versão dublada. Agora, quando quero saber
a capital de um país digito no Google e já vejo a bandeira e já ouço o hino.
Antes, ia lá na Barsa, e para ilustrar trabalhos de escola eu desenhava com
lápis de cor ou usava adesivos ou decalques. Lembro de um trabalho de geografia
na Copa 98 em que tivemos de desenhar a bandeira de todos os países
participantes (aí eu descobri a Croácia) e foi muito trabalhoso pesquisar todas
e desenhar todas à mão. Hoje ligo a impressora e pronto.
Não estou
ficando velha, no meu tempo não era melhor, meu tempo é agora, foi só o mundo
que resolveu dar uma acelerada rápida e eu era criança bem quando isso começou
a acontecer. Quem lê esse humilde blog sabe que sou muito nostálgica, às vezes
pareço uma velha com 50 gatos, mas não tenho nenhum. Só é chocante, só isso!
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