E eis que cheguei ao outro lado do mundo. Desde criança ouvia frases como as do Chaves, de que se cavássemos muito chegaríamos à China, mas eu resolvi ir de avião mesmo.
China, palavra que parecia representar o oposto, o outro, o diferente.
Quando me perguntavam por que eu iria passar férias na China, eu não sabia muito bem o que responder. Era uma série de motivos, e explicar assim, de pronto, era meio complicado.
Desde que voltei do intercâmbio na França tinha essa ideia fixa de fazer uma viagem de volta ao mundo, para a qual vinha juntando dinheiro. Já tinha pensado em todas as paradas que faria com o bilhete de avião especial para voltas ao mundo: países na África, Oriente Médio e Ásia. Porém, não queria abandonar meu emprego atual e, sendo assim, em 2015 teria de me contentar com uma viagem de um mês, de férias.
Queria então que fosse algo diferente --já havia estado na Europa três vezes nos últimos cinco anos-- e desafiador, uma espécie de test drive para uma viagem ao redor do mundo. Queria um lugar onde não entendesse as placas e sinais (na Grécia já tinha sido interessante isso), e onde a comida, a história, a cultura e os costumes fossem diferentes, mas queria também um lugar seguro o suficiente para uma garota viajar sozinha.
Desde a época do colégio tenho uma grande amiga chinesa, nascida em Hong Kong, e ela e sua família eram meu laço mais forte com a cultura chinesa. Além disso, cineastas de Hong Kong, Taiwan e da China estão entre meus favoritos absolutos, como Wong Kar Wai, Tsai Ming Liang e Jia Zhang-ke.
Então por que não a China? Mas não Hong Kong ou Taiwan, bastante ocidentalizados, a China China mesmo. E assim foi surgindo o plano das férias.
Da China para Coreia é um pulo. Por que não então visitar minha companheira de apartamento estudantil na época da Sorbonne, minha vizinha e também uma outra coreana intercambista que era minha parceira de sessões de cinema matutinas aos domingos em Paris?
Pronto, foi assim. E por isso parti.
Hoje, de volta ao Brasil após um mês fora de casa, do outro lado do mundo, a compreensão da experiência dessa viagem está se assentando ainda. Estou tentando olhar para tudo o que vivi de uma maneira talvez mais compreensiva do que fui capaz durante meu tempo ali.
É muito complicado julgar ou ler uma cultura diferente da minha com meus padrões, com a minha ideia do que seja etiqueta, respeito, educação; chega a ser injusto. Porém, qual outra lente tenho disponível?
Em 20 dias sozinha na China aprendi muito mais sobre mim mesma do que sobre os chineses. Mas também aprendi muito sobre sua história e cultura milenares, sobre as dinastias, os imperadores, a revolução, Mao, a comida, os hábitos.
Mas não foi fácil, e em alguns momentos queria desistir, pegar o avião de volta e simplesmente estar num lugar conhecido com gente conhecida falando uma língua conhecida, num lugar onde eu fosse capaz de ler as placas e conversar com as pessoas.
2 comentários:
<3 mais mais mais
Ú também quero mais.
Amiga que expperiência, vivência... Tanta coisa interessante. Você abraçando o mundo minha doce amiga.
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