Os e-mails mudaram muito nossa vida, muitos crêem que para melhor. Começo a ter minhas dúvidas quando leio biografias.
Como serão escritas as biografias no futuro? Onde procurará o biógrafo por fatos importantes na vida de uma pessoa importante? Se você sabe que se tornará importante não esqueça de não deletar seus e-mails e de deixar a senha num lugar visível antes de partir.
Simone de Beauvoir soube desde cedo que sua vida seria digna de livros, não apenas porque viveria grandes coisas, mas também porque ela mesma seria sua biógrafa, e sabia que escreveria muito bem sobre sua vida. Ela foi vivendo e contando, e muitas vezes vivendo de maneira que os acontecimentos fossem dignos de serem contados. É uma grande piração se pararmos para pensar, mas também fez com que ela vivesse um grande livro.
Mas não só os biógrafos sofrerão com a era dos e-mails, mas também os comentadores e teóricos. Existem livros e livros sobre como Kant escreveu seus livros, a ordem dos capítulos, as inspirações, e grande parte das teorias são baseadas em sua correspondência. A visita à exposição sobre Clarice Lispector no Museu da Lingua Portuguesa há alguns anos atrás foi muito mágica em grande parte por conta da sua correspondência lá exposta em pequenas gavetas de descobertas. E o livro de cartas entre o Nelson Algreen e, mais uma vez, Simone de Beauvoir; as Cartas a Théo de Van Gogh e muitos outros momentos de possibilidade de magia.
Ler correspondência de pessoas importantes, ou melhor, interessantes, não é um mero passeio por fotos da Ilha de Caras. Se ler diários é muito intenso pois é íntimo, ler correspondências é emocionante porque é uma troca, porque nos localizamos num espaço-tempo de outra pessoa, dentro de suas relações, percebendo o que é dito e muitas vezes escondido, quais momentos ganham relevância, e o que é partilhado.
Como se chamarão os romances epistolares depois do e-mail? Joguei essa pergunta para o Google, nosso instrumento que subtitui, por vezes, horas de buscas dentro de uma biblioteca. Achei um romance de Matt Beaumont que poderia se encaixar nesse novo gênero, constituido apenas por trocas de e-mails. Mas não tive resposta de dicas para o novo nome desse gênero de literatura.
Mas voltando a vidas reais e não ficcionais, não é só o fato de o e-mail parecer menos interessante, mais superficial, menos espirituoso, digamos, porque não carrega nem mesmo a letra do remetente. Muitas cartas passaram a ser escritas com máquinas de escrever,ok. Há sim uma espécie de fetichismo, para usar palavra em voga, em torno das cartas enviadas por Correio (que aliás, está um abuso de caro), a sua objetividade, sua tatilidade (existe?), a espera etc. Mas existe também o problema da relação efêmera que temos com os e-mails, assim como com as mensagens de texto de celular. A tecla deletar. Tudo bem que a carta podemos rasgar de raiva, jogar fora como se nada fosse, mas a tendência é guardarmos numa caixa nem que seja no fundo do baú. Será que seremos capazes de desenvolver uma outra relação com o e-mail, justamente por ele ser mais virtual do que real? Será que passaremos a dar mais importância ao que falamos, à maneira como escrevemos e teremos a consciência da importância deles para a posteridade (claro que não eu que não serei famosa, bom, quem sabe...)?
Como serão escritas as biografias no futuro? Onde procurará o biógrafo por fatos importantes na vida de uma pessoa importante? Se você sabe que se tornará importante não esqueça de não deletar seus e-mails e de deixar a senha num lugar visível antes de partir.
Simone de Beauvoir soube desde cedo que sua vida seria digna de livros, não apenas porque viveria grandes coisas, mas também porque ela mesma seria sua biógrafa, e sabia que escreveria muito bem sobre sua vida. Ela foi vivendo e contando, e muitas vezes vivendo de maneira que os acontecimentos fossem dignos de serem contados. É uma grande piração se pararmos para pensar, mas também fez com que ela vivesse um grande livro.
Mas não só os biógrafos sofrerão com a era dos e-mails, mas também os comentadores e teóricos. Existem livros e livros sobre como Kant escreveu seus livros, a ordem dos capítulos, as inspirações, e grande parte das teorias são baseadas em sua correspondência. A visita à exposição sobre Clarice Lispector no Museu da Lingua Portuguesa há alguns anos atrás foi muito mágica em grande parte por conta da sua correspondência lá exposta em pequenas gavetas de descobertas. E o livro de cartas entre o Nelson Algreen e, mais uma vez, Simone de Beauvoir; as Cartas a Théo de Van Gogh e muitos outros momentos de possibilidade de magia.
Ler correspondência de pessoas importantes, ou melhor, interessantes, não é um mero passeio por fotos da Ilha de Caras. Se ler diários é muito intenso pois é íntimo, ler correspondências é emocionante porque é uma troca, porque nos localizamos num espaço-tempo de outra pessoa, dentro de suas relações, percebendo o que é dito e muitas vezes escondido, quais momentos ganham relevância, e o que é partilhado.
Como se chamarão os romances epistolares depois do e-mail? Joguei essa pergunta para o Google, nosso instrumento que subtitui, por vezes, horas de buscas dentro de uma biblioteca. Achei um romance de Matt Beaumont que poderia se encaixar nesse novo gênero, constituido apenas por trocas de e-mails. Mas não tive resposta de dicas para o novo nome desse gênero de literatura.
Mas voltando a vidas reais e não ficcionais, não é só o fato de o e-mail parecer menos interessante, mais superficial, menos espirituoso, digamos, porque não carrega nem mesmo a letra do remetente. Muitas cartas passaram a ser escritas com máquinas de escrever,ok. Há sim uma espécie de fetichismo, para usar palavra em voga, em torno das cartas enviadas por Correio (que aliás, está um abuso de caro), a sua objetividade, sua tatilidade (existe?), a espera etc. Mas existe também o problema da relação efêmera que temos com os e-mails, assim como com as mensagens de texto de celular. A tecla deletar. Tudo bem que a carta podemos rasgar de raiva, jogar fora como se nada fosse, mas a tendência é guardarmos numa caixa nem que seja no fundo do baú. Será que seremos capazes de desenvolver uma outra relação com o e-mail, justamente por ele ser mais virtual do que real? Será que passaremos a dar mais importância ao que falamos, à maneira como escrevemos e teremos a consciência da importância deles para a posteridade (claro que não eu que não serei famosa, bom, quem sabe...)?
Esqueci de dizer. O último post foi o de número 100 do blog! O primeiro post foi no dia 23 de março de 2007. Ok, em quase 5 anos 100 posts não é muito, mas é um motivo para comemorar ainda assim.
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