quinta-feira, outubro 04, 2012

Eleições 2012


Os que me conhecem e tem me visto nos últimos tempos sabem que de cada dez palavras que eu falo duas são reclamando do curso que estou fazendo na ETEC, três são sobre comida e cinco são sobre as eleições municipais que se aproximam. Quando considerados os status de Facebook, ali talvez a proporção seja de cada dez, dois são sobre Gabriela, dois são reclamações em geral e seis sobre as eleições. Assim sendo, estou impressionada com o fato do dia 07 de outubro estar se aproximando sem que eu tenha dedicado um post sequer à questão.
Daqui três dias vamos às urnas e as pesquisas ainda mostram um cenário digno de um 2012 como ano do fim do mundo. Pensando na catástrofe possível que se aproxima pensei muito em mudar meu voto, praticar o conhecido voto útil e tenho certeza de que não sou só eu na cidade de São Paulo pensando no voto-salve-se-quem puder. Mas no fim resolvi que não mudarei, continuarei no voto que considero o melhor, e não o menos pior. Meu voto é minha voz, é um voto de confiança e de apoio, e eu vou dá-lo ao melhor candidato, àquele que tem as melhores propostas, ainda que ele não tenha chances reais de ganhar. Quem já viu meu carro, minha bolsa e meus bottons sabe que meu candidato é o Giannazi do PSOL e não tem porque não dizer isso.
Ainda assim, definido o voto já desde o começo das oficializações de candidaturas, acho importante saber o que dizem os demais candidatos. Mesmo que se tenha certeza do voto, que se conheça muito bem as propostas do seu candidato, é preciso acompanhar a corrida eleitoral, as propostas e propagandas de todos os candidatos. Fazer parte da democracia não é apenas acordar cedo e disposto no domingo e ir votar, é acompanhar as candidaturas, conhecer as plataformas, assistir aos debates e saber quem são os candidatos que se abandona ao escolher um único, já que nem sempre aquele que se escolhe será o vencedor. Além de ser uma atitude republicana e interessante a de buscar entender as motivações que levam a maioria a votar naquele que ganhar.
Já ouço as vozes dos defensores do voto nulo [quem lê esse blog sabe que ouço vozes, o tempo todo] dizendo que a política não vale a pena, que todos os políticos são iguais e que igualmente nenhum presta. Eu estou com aqueles que acreditam que ao abandonar a política por desprezo ou pretenso nojo, se está fadado a ser governado por aqueles que não sentem nojo. Além do que, a política não é nojenta nela mesma, ela é um aspecto incontornável da vida, você pode até fugir dela, mas deverá arcar com as conseqüências. Numa reinterpretação de Aristóteles, eu diria que interessar-se por política é como escovar os dentes e tomar banho, você não é obrigado a fazê-lo, mas isso influencia diretamente na sua vida social. Se você abandona uma situação, alguém toma conta dela. Simples assim.
A cada eleição fica mais e mais evidente a necessidade de uma reforma partidária no Brasil. Partidos surgem como mato na calçada, são bancados por verbas públicas e promovem figurinhas. Há muito não existe no país o voto pelo partido e sim pela figura, muitas vezes o eleitor sequer conhece o partido do qual o sujeito faz parte, qual sua filiação ideológica e sua história; o importante é um único indivíduo, como se ele fosse gerir uma cidade, um estado ou o país sozinho. Não se sabe mais o que é esquerda e direita, e pega bem falar que é de centro e que colabora pelo fim da disputa entre dois lados que são historicamente inconciliáveis. E aí surgem as figurinhas douradas super poderosas que fazem crer que a política seja simples e feita de meras opiniões.
Os candidatos a prefeito de São Paulo são numerosos demais, tornando a escolha confusa, pulverizada e favorecendo estrelismos. Venho observando a campanha desde o início e acho que é chegada a hora de fazer comentários aos candidatos, na reta final.

Miguel Manso (PPL) – ainda no começo da oficialização das candidaturas fui a um debate organizado com os candidatos pela Rede Nossa São Paulo, e apareceu esse Miguel Manso de um tal de PPL. Eu nem sabia que existia um partido chamado Pátria Livre, aprovado pelo TSE em outubro do ano passado e formado por militantes do MR-8, o que, diga-se de passagem, não se percebe muito pela propaganda eleitoral do candidato à prefeitura de São Paulo, que pelo discurso aproxima-se mais a figuras como Levi Fidelix do que Anaí.

Eymael (PSC) – esse e o candidato do PRTB sequer merecem meu respeito; são chupins do sistema necessitado de reforma partidária, se candidatam a cada dois anos para qualquer cargo para se beneficiarem da grana pública pra campanhas. Além disso, o Eymael há anos com essa música grude pode estar incluído entre os melhores jingles publicitários da história e rivalizou com Chalita nas frases de efeito lendo textos que pareciam jograis de escola.

Levi Fidelix (PRTB) – o candidato eterno está todo feliz com essa história do monotrilho ser uma cópia da sua ideia do aerotrem, lançou sua filha pra vereadora e se beneficia dos votos-tiririca de pessoas que acreditam ser nele um voto de protesto ou simplesmente que ele merece votos por ser engraçado. Um pulverizador a favor do PSDB, ficou trocando amores com Serra nos debates e arrancando risadas das platéias; e, apesar de estar correto em seu argumento, travou a possibilidade de debate na Globo.

Ana Luiza (PSTU) – o partido se esforçou, os programas de TV estavam super bem-feitos e com bom texto. Assim como o PCO, o PSTU abandonou a estética Dolly tradicionalmente ligada à esquerda mais radical brasileira e parou de insistir na frase “Contra burguês, vote 16”, que pelo menos era atrativa e incisiva.

Anaí Caproni (PCO) – todos os dias naquela espécie de biblioteca das propagandas que esqueceram a roda dentada, nada de fábrica, indústria, operários, só a Anaí falando entre livros. Apenas no último dia voltaram ao jargão com ar de Star Wars: “quem bate cartão, não vota em patrão”.

Giannazi (PSOL) – não fui só eu que reclamou do corte de cabelo, todos sabem que a apresentação é importante e por isso os candidatos escolhem bem suas roupas e sapatos de acordo com a mensagem que querem passar. Aparentemente o PSOL tinha a menor verba para as campanhas da TV, ou pelo menos tinha os piores técnicos de audiovisual, a captação de som era sempre péssima e foi o único partido da esquerda a manter a estética visual da miséria, ainda que a música seja bem gostosa e grudenta. Giannazi ligou o Plínio-mode-on em alguns momentos do debate e avacalhou todo mundo do jeito que merecem, dos tucanos aos petistas, sem perdoar o pelego da Força. Porém, talvez a estratégia do PSOL de igualar PT e PSDB não seja a melhor para São Paulo, o PT não está acima do bem e do mal, é verdade, nem o partido, nem o Lula, mas num momento em que Russomanno ganhava vantagem na cidade era importante focar nele e talvez assumir um discurso um pouco mais simples e direto ao invés de citar frases de professores da USP, isso só atrai votos da USP e por lá o Giannazi aparece empatado com Serra na disputa.

Paulinho da Força (PDT) – o pelego da Força quer se passar por defensor dos trabalhadores só porque é sindicalista. Começou a campanha dizendo desconhecer quem seja Paulo Freire, mas criticando o fato de os alunos não serem mais reprovados. Deu muito mais atenção às multas aplicadas a motoristas e aos semáforos (o que ele chamava de uma cidade injusta com seu cidadão), do que à injustiça do transporte público. O mais despreparado dos candidatos.

Soninha (PPS) – a Sonsinha. Nem ela vai votar em si mesma, parece que vai votar no Serra, que ela defendeu quase até o fim. Quando viu que subiu um pouco, passou a falar mal do Kassab, mas nos debates parecia deslumbrada com o tucano amiguinho. Candidatura pulverizadora, como explicou Anaí no último dia de propaganda na TV, para conseguir união de votos no segundo turno para o PSDB. Nos dois debates a que fui da Rede Nossa São Paulo a candidata parecia uma garotinha de 15 anos tirando fotos para postar em seu twitter e escrevendo em seu celular enquanto os outros candidatos falavam. Não pensa no que diz e acha que fazer política de maneira diferente é andar de jeans e tênis. Sua candidatura atrai votos daqueles que não são conservadores no aspecto religioso e moral, que querem direitos iguais para seus iguais, a favor do casamento gay, do aborto e das bicicletas, mas nada de morador de rua na minha praça do centro ou de pobre na universidade.

Chalita (PMDB) – o bom mocinho do ano, amigo de padres e escritor de belos livros com belas palavras de amor e fé. Quando Platão falou sobre os filósofos governarem a polis, não foi bem isso que ele imaginou... Se Russomanno tivesse a retórica de Gabriel, estávamos mais ferrados do que estamos. Na primeira vez que o vi falando em público, num debate, fiquei arrepiada e não me orgulho disso, o tom de voz e as palavras muito bem escolhidas miram diretamente o seu coraçãozinho. Junto com o Russomanno, formam a dupla dos cuidadores; Chalita quer cuidar de mim, de você e de todos nós. Incorporou o em-cima-do-murismo do PMDB e prometeu acabar com a “picuinha” entre PT e PSDB, aliás, acho que nos últimos dois meses ouvi mais a palavra picuinha do que ouvi nos 25 anos de vida que tenho. Mas com dia 07 se aproximando ele resolveu apertar o Plínio-mode-on também e jogou merda no ventilador no debate da Gazeta e em sua propaganda do rádio e da TV, talvez por isso chegou aos 11% na última pesquisa, o sangue-no-zóio rendeu mais voto que o bom-mocismo. Mas não dá para avacalhar todo mundo e dizer que é amado pelos professores da rede estadual, aí já é demais, né Chalita Poeta?!

Haddad (PT) – o homem novo para um tempo novo, não consigo deixar de rir quando ouço isso. José Simão acertou em cheio quando disse que o transformaram em ator de Bolywood, parece indiano mesmo, fizeram um bronzeamento artificial no material da campanha e o professor da USP, como ele adora insistir, olha pra cima com Lula e Dilma como um pôster de filme de astronautas americanos. Qual o objetivo da campanha dele ao insistir no fato de ele ser um intelectual? Ganhar votos da paulistanada que odeia o Lula porque ele não tem ensino superior e não fala francês? Ah ta, então mostram que sua filha toca piano em casa, seu filho toca violão e a esposa também é professora da USP. A esquerda limpinha, só ela ganha em Sampa, a dos Matarazos. Tem o mais completo e digno de receber o nome de plano de governo entre todos os candidatos, está bem preparado em debates e comícios e está aproveitando bem a máquina que está a seu favor. Devo dizer que tem uma baita de uma proposta com o lance do bilhete mensal, bola cantada pelo PSOL de início. Se ele for pro segundo turno, sou Haddad desde criancinha. Na verdade meus pais insistem que eu cantava “lula lá brilha uma estrela” em 89...

Serra (PSDB) – o beijoqueiro e arrasador de corações, fazem de tudo para que ele seja o homem novo, mas não é preciso ser jovem para isso. Até me surpreende que os paulistanos possam ter algum tipo de resistência ao Serra porque ele é velho, tanta coisa pior que ele já fez sem ser envelhecer. Ainda que ele tenha uma enorme e brilhante rejeição, eu acho que ele representa muito bem os paulistanos em geral, conservador e blasé que se diz de esquerda só porque foi líder estudantil. Nos debates parecia que foi abduzido por alienígenas e substituído por um clone, com anos e anos de experiência em debates, não se sabe como pode ir tão mal quando confrontado aos demais candidatos. Protagonizou cenas que se espalharam pelo Facebook, deu mil desculpas por ter abandonado o cargo quando foi prefeito (o que eu até acho que estão fazendo auê à toa) e continua em segundo lugar. O PSDB tanto fez que mudou sua cor, o nome do Serra aparecia na TV com as cores azul e laranja, ao invés de amarelo, para horror dos tucanos de plantão na sala. Do que adianta criar mais e mais etecs e escolas e hospitais com trabalhadores sub-empregados?

Russomanno (PRB) – assustador, não só pelo que representa, mas até mesmo por como representa, pálido e com um sorriso falso de fazer criancinha sair correndo da sala. Suas propagandas na TV eram como seus programas de defesa do consumidor, mostrando problemas e sem oferecer soluções razoáveis. Isso qualquer um faz, aliás, tem muito mais paulistano aí conhecedor dos problemas e sofredor do que um milionário que vive no Morumbi e diz ter origem humilde. É um salafrário de marca maior, alpinista social, populista do pior tipo que deve mesmo é ter vontade de cuspir no povão. Ele lembra o Caco Antibes do Sai de Baixo, não sei como consegue enganar tão bem seus ex-35% do eleitorado, atual 27! Defende quem compra, o consumidor egoísta e individualizante, e promete cuidar de mim, de você e de quase todos nós. Sua melhor proposta, sem dúvida, foi a de passar recolhendo a droga dos usuários da cracolândia a cada 15 minutos. A melhor proposta do ano.

     As pesquisas mostram um novo cenário essa semana, com o Russomanno perdendo votos e o meio de campo embolado com Haddad e Serra. Não podemos esquecer que pesquisa nenhuma previu a vitória estrondosa e alucinante de Aloisio Nunes na última eleição pra senador. A Record e a Globo terem cancelado seus debates foi um desfavor para cidade e para democracia, a primeira por motivos obscuros, a segunda por birra infantil e mimada. O que ainda não entendi é a estratégia da Globo, porque acho que ela não ficaria muito feliz com uma vitória da Record também nas urnas.
      Agora é torcer muito para um segundo turno palatável.