sexta-feira, novembro 23, 2007

"Happening und Fluxus"
1970
Foto: Balthasar Burkhard


Muitos filmes para comentar, muito para desabafar... MAS... muitos textos para ler, muitas dissertações para escrever. Volto já!

terça-feira, novembro 06, 2007

::Descobrindo Masoch::


Gilles Deleuze em Apresentação de Sacher-Masoch, ensaio introdutório de Vênus das Peles de Masoch - cujo original pode ser encontrado no Domínio Público, esse livro está esgotado há anos - pretende desfazer um enorme engano: o sado-masoquismo. O sadismo e o masoquismo não são a mesma coisa, não são diferentes faces da mesma moeda, aquele que faz sexo com o sádico não é o masoquista e vice-versa.

Propondo uma leitura crítica e uma clínica de Sade e de Masoch, Deleuze fala de suas originalidades artísticas e dos mecanismos próprios dos desvios por eles descritos e deles emprestados pela psicanálise, livrando-os do título "pornográficos", o que eles fazem na verdade seria "pornologia" já que em seus textos a linguagem erótica "não se deixa reduzir às funções elementares de comando e de descrição".

Em Sade o raciocínio é uma violência, e os violentos são rigorosos, serenos e calmos; o sádico é demonstrativo, impessoal. Deleuze fala do "espinosismo de Sade", no seu espírito matemático característico de seu naturalismo e mecanicismo, de sua razão demonstrativa. Já Masoch, em sua imaginação dialética, seria platônico.

A possessão é a loucura do sadismo, e para isso precisa das instituições, enquanto o masoquista precisa das relações contratuais para sua loucura própria, o pacto. Tal pacto é necessário para a vítima que busca seu carrasco, ela precisa convencê-lo, persuadi-lo e formá-lo, fazer com ele um acordo, uma aliança, e é a vítima que fala através de seu carrasco, que na verdade nada mais faz do que aquilo que a vítima deseja.

As "revelações" de Freud sobre o papel dos pais na formação sexual até hoje me parecem um pouco chocantes, é difícil encarar certas coisas, e é aí que o texto de Deleuze fica mais interessante ainda, na análise psicanalítica do sadismo e do masoquismo. É pela união sodomita com o pai que as heroínas sádicas se formam, numa união contra a mãe, no masoquismo, ao contrário, quem é negado é o pai, quando o masoquista apanha não é o pai que bate e sim é o que há de pai nele que é surrado e assim anulado.

Como sempre nos textos de Deleuze a conclusão é brilhante, ele enumera onze pontos que resumem seu ensaio e que, de alguma forma, provam o "monstro semiológico" que é o sadomasoquismo. O sétimo diferencia o estetismo de Masoch do antiestetismo de Sade e o nono ponto, sobre a psicanálise, deixa claro que o que triunfa no sadismo é o superego e a identificação, enquanto no masoquismo é o ego e a idealização. No último ponto Deleuze retoma o que crê ser a diferença mais radical entre os dois, a apatia sádica e a frieza masoquista.

Por mais que eu escrevesse, um blog não é necessariamente o local ideal para fazer uma dissertação sobre o texto, que realmente merece mais e melhores palavras, mas fica mais como um lembrete para quem possa ler e para mim mesma da qualidade do ensaio de Deleuze, e do chamado que ele nos faz para que nos voltemos aos escritos dos dois autores.

*Escolhi a imagem acima para abrir o texto porque o episódio de Judite decapitando Holofernes não saía da minha cabeça - que ironia - enquanto lia Masoch.

"(...)pode-se sempre falar da violência e da crueldade na vida sexual; pode-se sempre mostrar que essa violência ou essa crueldade se combinam com a sexualidade de diversas maneiras; pode-se sempre inventar os meios de passar de uma combinação para outra." (Deleuze, Gilles Apresentação de Sacher-Masoch, trad. José Bastos, p.140)

“Não é só a inércia a responsável pelo fato das relações humanas se repetirem caso após caso indescritivelmente monótonas e viciadas. É a inibição frente a qualquer experiência nova e imprevista com a qual não nos achamos capazes de lidar. Mas só alguém que esteja disposto a qualquer coisa, que não exclua nada, nem mesmo o mais enigmático, viverá a relação com o outro como uma experiência viva” Rilke (Creio que esse é o texto que mais cito).

::Vivendo e aprendendo::

escrutínio

¦ substantivo masculino

1 processo de votação que utiliza urna

2 urna onde os votos são recolhidos

3 processo de apuração dos votos

4 exame que se faz minuciosamente

::My headphones saved my life::

Daniel na cova dos leões - Legião Urbana

Aquele gosto amargo do teu corpo

Ficou na minha boca por mais tempo:

De amargo então o salgado ficou doce,

Assim que o teu cheiro forte e lento

Fez casa nos meus braços e ainda leve

E forte e cego e tenso fez saber

Que ainda era muito e muito pouco

Faço nosso o teu segredo mais sincero

E desafio o instinto dissonante

A insegurança não me ataca quando erro

E o teu momento passa a ser o meu instante

E o teu medo de ter medo de ter medo

Não faz da minha força confusão

Teu corpo é meu espelho e em ti navego

E eu sei que a tua correnteza não tem direção

Mas tão certo quanto o erro de ser barco a motor

E insistir em usar os remos,

É o mal que a água faz, quando se afoga

E o salva-vidas não está lá porque não vemos

quinta-feira, outubro 25, 2007

Meu MojoBook. Adorei o release e simplesmente amei a capa.

"Release

Alice no País das Maravilhas encontra Lucy in the Sky with Diamonds, Dorothy, Wendy, Poliana. Uma mulher crescida experimenta novas sensações com a novidade que só a infância - e talvez as drogas - podem proporcionar.
Cores e movimento aparecem como elementos de composição no texto de Úrsula Passos. A leitura alcança um novo tipo de experiência visual e, quem sabe, sensorial. Se Björk ainda não tinha sido MOJIFICADA, agora ela recebe um texto de acordo com sua personalidade intrigante."

Para ler:

www.mojobooks.com.br

sábado, outubro 13, 2007

::Vivendo e aprendendo::


himeneu
Acepções
■ substantivo masculino
1 enlace matrimonial; casamento
2 bodas, festa de núpcias

Etimologia
gr. huménaios,ou 'canto nupcial; matrimônio'; ver himen(o)-; f.hist. 1572 hymeneo (Fonte: Dicionário Houaiss / deparei-me com essa palavra num conto de Sade)


::Sábias Palavras::


"Everybody is somebody's fool"
Orson Welles em A Dama de Shangai


::My headphones saved my life::


I see who you are - Björk

I see who you are
Behind the skin
And the muscles

I see who you are, now
And when you get older later

I will see the same girl
The same soul
Lioness, fireheart
Passionate lover

And afterwards
Later this century
When you and I have become corpes

Let's celebrate now all this flesh on our bones
Let me push you up against me tightly
And enjoy every bit of you


::Divagações no Escuro::


Welcome to São Paulo

Lembro que quando saí da exibição de Paris, te amo, na Mostra do ano passado, pensei que seria muito interessante se fizessem um filme como aquele sobre Sampa. Algum tempo depois descobri que não fui só eu que pensei nisso, e que o filme já estava quase pronto. Bem - vindo a São Paulo reúne também vários curtas sobre a cidade da garoa, porém, sem um tema em comum, e então, o que faz a ligação entre os curtas é uma espécie de narração, em imagem e som, na voz de Caetano Veloso.
Já no começo percebo o tom do desastre, a história da cidade é contada, do descobrimento aos dias de hoje, passando pelos bandeirantes, é claro, acompanhada da imagem que vai do mar, subindo a serra, até chegar ao nossa planalto, e o texto parece ter saído de um livro de história da quarta série do ensino fundamental. "Extrativismo"? Logo no começo de um filme, soltar essa palavra, é a prova do didatismo que se seguirá.
Com exceção de dois ou três curtas, como o da Daniela Thomas, que filma lindamente o Elevado Costa e Silva, vulgo Minhocão, todos os outros esquecem que existe uma coisa chamada sutileza, e vão bem direto aos clichês sobre metrópoles: solidão, desperdício, pobreza, trânsito intenso, miscigenação, correria e por aí vai. E, apesar de ficar claro que São Paulo é imensa, quase não se vêem os bairros, vemos o centro velho, o centro novo e algumas imagens de bairros próximos.
Sinceramente, acho que Caetano Veloso não teve nada a ver, ele não tem sotaque de paulista e dá as boas vindas aos que aqui chegam, apenas aos que chegam, porque o filme não é para os que aqui vivem. A expressão "para gringo ver" encaixa-se perfeitamente aqui, e eu até duvido que seja uma propaganda boa,o filme é deprimente.
Num determinado momento ficamos sabendo que numa votação para escolher a música que melhor representa a cidade ganhou Trem das Onze e, em segundo lugar, Sampa, mas o que ouvimos, incansavelmente, é a segunda, e a primeira vem como um alívio ao final, uma redenção pelo filme todo, um prêmio de consolação...

segunda-feira, outubro 01, 2007

::My headphones saved my life::


Age Of Consent - New Order

Won't you please let me go
These words lie inside they hurt me so
And I'm not the kind that likes to tell you
Just what I want to do
I'm not the kind that needs to tell you
Just what you want me to

I saw you this morning
I thought that you might like to know
I received your message in full a few days ago
I understood every word that it said
And now that I've actually heard it
You're going to regret

And I'm not the kind that likes to tell you
Just what you want me to
You're not the kind that needs to tell me
About the birds and the bees

Do you find this happens all the time
Crucial point one day becomes a crime
And I'm not the kind that likes to tell you
Just what I want to do
I'm not the kind that needs to tell you

I've lost you

::Dançando Almodóvar::


O espetáculo ¿Por que no hacemos cine? da Cia. Lambe-Lambe de Teatro e Afins/Núcleo Cinematográfico de Dança se propõe a dançar o desejo como colocado nos filmes de Almodóvar, cineasta que filma as mulheres como não se fazia desde Godard. O resultado é de tirar o fôlego, quatro bailarinos belíssimos, três mulheres e um homem, desde o começo, com tesudíssimas palavras clamadas em espanhol, bailam seus corpos com um desejo que se pode sentir no ar, são cenas e mais cenas de ficar boquiaberto, inusitados vídeos são projetados ao fundo enquanto a lei do desejo impera e ata-te na poltrona, não vá pensando que são maus hábitos, nem que é má educação, são labirintos de paixões que não cessam de volver.
Apenas de 4 a 7/10 eles estarão em cartaz no CCSP, quinta a sábado, às 21h e domingo, às 20h, na Sala Jardel Filho.

::Redescobrindo Legião Urbana::


"Tudo parece ser tão real
Mas você viu esse filme também."

"Já estou cheio de me sentir vazio" (Baader Meinhof Blues)

Certo, fanatismos à parte, eu assumo e, realmente, concordo, que Legião Urbana é uma mistura de The Smiths com uma espécie de religião, suas letras foram feitas para serem entoadas em alto volume, por jovens utópicos, sedentos da mudança, decepcionados com o mundo e o sistema, a guitarrinha é igual a do Johnny Mars e as letras são melhores que as melodias...
Mas...
E daí?
Eu adoro cantar músicas bem alto, gritando, sentindo aquela dorzinha no peito sendo, pelo menos um pouco, exorcizada, mesmo que por um momento. Ai que felicidade cantar, com muita falta de ar asmática, gesticulando e pulando, os vários minutos de Faroeste Caboclo, ou teatralizar uma tristeza incompreensível nos onze minutos de Metal contra as nuvens!
Sim, quer saber? Eu sou mesmo utópica, sou mesmo do tipo que acha que pode mudar o mundo, mas "se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era para sempre"? Estou decepcionada com o mundo e com o, dito, "sistema", tenho vinte anos e me acho "A" revolucionária... E daí?
Há cinco anos atrás, porém, eu não encarava as músicas da forma como estou encarando nessa redescoberta. Eu, devo dizer, muito ignorante quanto a muitas coisas, achava tudo aquilo poético e lindo, original e tudo o mais, agora, com um pouco mais de conhecimento adquirido, ainda ignorante, percebo o quanto havia de diagnóstico de uma geração e de um período naquelas letras, e mais, o quanto há de verdade universal, aquele tipo de verdade que diz respeito a todos os seres humanos na face da terra, que pode fazer se reconhecer em muitos e, ao mesmo tempo, nos fazer sentirmo-nos únicos.
Sem contar, é claro, muitas presenças da filosofia nas letras, desde política a estética, passando pela metafísica, pelos mitos gregos e muito mais.
Sim, eu gosto de Legião Urbana, algum problema?

"Filósofos suicidas
Agricultores famintos
Desaparecendo
Embaixo dos arquivos" (Petróleo do futuro)

"Você é tão moderno
Se acha tão moderno
Mas é igual a seus pais"

"Então é outra festa
É outra sexta-feira
Que se dane o futuro
Você tem a vida inteira
Você é tão esperto
Você está tão certo
Mas você nunca dançou
Com ódio de verdade." (A Dança)

sábado, setembro 22, 2007

::Amor incondicional?::


Algumas pessoas, não importa o quanto nos magoem, são sempre perdoáveis, relevamos cada detalhe e cada grande mancada, relevamos tudo, na verdade: o chamado amor incondicional, ou seja, que não impõe condições para nascer e, o que é mais importante, para continuar. Mas e quando, em meio a toda essa seqüencia de fatos relevados, revela-se um insuportavelmente imperdoável? E quando sua bondosa alma cristã descobre que não há mais nada de cristão nela e que perdoar nem sempre é possível, nem sempre é um gesto louvável? E quando descobre-se que não adianta de nada ter a bondade de perdoar se não vai ser possivel esquecer? A memória é uma coisa engraçada, quanto mais tentamos esquecer aquilo que nos machuca, mais o ferimento queima, se agrava e nos tortura. Até que eu possa passar pela máquina de Brilho Eterno de uma mente sem lembranças, o que me resta é cantar essa canção a cada vez que me lembro de você, que eu tanto amo, com quem eu tanto me importo mas que escorreu por entre meus dedos, tão rapidamente, e o que eu mais gostaria fosse que o ralo estivesse fechado, mas ele estava aberto.

"Rasgue as minhas cartas
E não me procure mais
Assim será melhor meu bem

O retrato que eu te dei
Se ainda tens não sei
Mas se tiver devolva-me
Deixe-me sozinho
Porque assim eu viverei em paz
Quero que sejas bem feliz
Junto do seu novo rapaz

O retrato que eu te dei
Se ainda tens não sei
Mas se tiver devolva-me"

::A pergunta que não quer calar::


Tudo o que é bom dura pouco?

::Sábias Palavras::


Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos, II

::My headphones saved my life::


Enjoy - Björk

I wish: i want to stay here
I wish: this be enough
I wish: i only love you
I wish: simplicity

Look at the speed out there
It magnetizes me to it
and i have no fear
I'm only in to this to

Enjoy

I wish i'd only look
and didn't have to touch
I wish i'd only smell this
and didn't have to taste

How can i ignore?
this is sex whitout touching
I'm going to explore
I'm only into this to

Enjoy


Stars - Au Revoir Simone

And since we met
I simply cannot forget
You are on my mind
Yes, since the day we met
I think I haven't slept
More than an hour at a time

You make me wanna measure stars
In the backyard
With a calculator and a ruler, baby
I found a letter that describes
How the moonlight will lead me
To a distant place that you will be

I don't know how
But there's a power
For now it conveys a subtle mystery
And from my house
As I look out
The stars align

The open sky
Is mine tonight
It gives a sign
Of what I'll find

domingo, setembro 16, 2007

::My headphones saved my life::


I miss you - Björk

I miss you
but I haven't met you yet
so special
but it hasn't happened yet
you are gorgeous
but I haven't met you yet
I remember
but it hasn't happened yet

and if you believe in dreams
or what is more important
that a dream can come true
I will meet you

I was peaking
but it hasn't happened yet
I haven't been given
my best souvenir
I miss you
but I haven't met you yet
I know your habits
but wouldn't recognize you yet

I'm so impatient
I can't stand the wait
when will I get my cuddle?
who are you?

I know by now that you'll arrive
by the time I stop waiting



::Primeira opção::


Há alguns meses, nesse mesmo blog,escrevi um texto sobre obsessão depois de ter visto o filme Notas sobre um escândalo, uma frase que me marcou muito no filme, e que eu a reproduzi foi:
"Você não é tocada há tanto tempo que o toque acidental de um motorista do ônibus mexe com as suas mais profundas entranhas" Judi Dench como Barbara em Notas sobre um escândalo
Depois de muito tempo consegui ler o livro que deu origem ao filme, Anotações sobre um escândalo de Zoë Heller e estou fascinada pela personagem Barbara, ela é muito mais cativante no livro, embora Judi Dench encarne com perfeição a idéia que se faz dela ao percebemos, ao mesmo tempo, sua crueldade, seu humor super refinado e sua solidão. A frase do filme está assim escrita:
"Elas [as pessoas que não sabem o que é estar sozinha] não sabem o que é ser tão cronicamente intocada que o roçar acidental da mão de um motorista de ônibus em seu ombro manda um solavanco de desejo diretamente para a sua virilha." (ed.Record, 2006, pág.243)
Devo dizer que reconheci um pouco de mim em Sheba também, mas muito mais em Barbara, o que ela tem de certo "puritanismo" eu não compartilho e aí entra Sheba, uma mulher de 40 que se enamora de um garoto de 15, quer coisa menos puritana? Mas Barbara é uma pessoa muito mais, talvez, reflexiva, enquanto Sheba é mais esnobe e expansiva.
Mais do que a obsessão, o que me marcou no livro foi a solidão e as maneira de lidar com ela, até que ponto é condenável? Em que ponto deixa-se de ser crítica e passa-se a ser cruel e até mesmo despeitada? Que tipo de sofrimento justifica certos pensamentos cruéis? E, ainda, será que nós mesmos não temos muitos dos pensamentos cruéis de Barbara mas os negamos até para nós mesmos?
A solidão é inerente ao homem, na realidade, e na mais pura verdade, somos sempre sozinhos, temos nosso próprio mundo incomunicável e impenetrável. Porém, em nosso relacionamento com o outro, podemos ser tão importantes para alguém e esse alguém ser também para nós que passamos a dividir um terceiro mundo com esse alguém, criamos um mundo no qual só os dois têm acesso e assim podemos tentar comunicar uma parte do que somos para outro ser. Não me refiro, exclusivamente, ao amor romântico, acho que falo muito mais de amizade mesmo, e a questão que se dá no livro e pela qual muitas vezes passamos, é ser a primeira opção de alguém, isso talvez seja o que nos faz sentirmo-nos especiais, de alguma forma. Quando pensamos em sair, ir ao cinema, tomar algo e queremos companhia, quando queremos conversar, transar, rolar na grama verde ao sol, quem é nossa primeira opção? Quem é a sua? Será você a primeira opção de alguém? Serei eu a de alguém? Barbara não era a primeira de ninguém e ninguém queria ser a sua, há anos, e isso deve machucar no fundo da alma, pode gerar toda uma vulnerabilidade e sensibilidade ao extremo, uma volatilidade que, se tocada, se esfacela...
Outra teoria muito interessante do livro é a da "tirania do humilde" (p.185), a passividade agressiva e perigosa daqueles que se deixam dominar numa relação, que a torna desigual, enquanto um grita, se descabela, fala, gesticula, teoriza, o outro assiste a tudo calado e concorda com um aceno de cabeça, tudo vai parecendo muito bem quando na verdade milhares de discordâncias vão se formando com o tempo e enfim explodem dando fim a tudo.Triste.

::Divagações no escuro::


Como fazer um filme ideológico

Ingredientes:
1. Um povo, uma nação, um grupo, um modo de vida a ser elogiado e elevado.
2. Um povo, uma nação, um grupo, um modo de vida a ser vilipendiado.
3. Os bonzinhos devem ser passíveis de afeição do público.
4. Ridicularize os inimigos.
5. Salve os bonzinhos.
6. Acabe com os inimigos.
7. Coloque umas músicas de fundo que induzam claramente às suas intenções.
Preparo:
1. A história
O 11 de setembro de 2001, o caso do avião que caiu na Pensylvania.
2. O desenvolvimento
Coloque os "árabes" como "non-english-speakers", bárbaros, que só sabem gritar, fazem o estilo Rambo de ser, meio loucos que viram os olhos enquanto os americanos são postos como muito civilizados, não-caricaturáveis, sensíveis, corajosos, enfim, vítimas.
3. Resultado
Um filme muito bom, bem feito, bem filmado, inovador nas técnicas, envolvente, cativante, triste e muitissimo elogiado: Vôo United 93.

sexta-feira, setembro 07, 2007

::A mulher que não tinha cheiro::


- Bom, melhor não ter cheiro do que ter cheiro ruim.
Eleonora já havia passado da puberdade, há alguns anos, aliás, mas nada mudara na sua condição inodora; não que isso a incomodasse.
- Não, de forma alguma.
Ela pode acordar, fazer ginástica, ir para o trabalho, tomar uma com os amigos e voltar para casa sem se preocupar com desodorante; ela é naturalmente desodorizada.Às vezes fica dois ou três dias, nas férias - é claro - sem tomar banho, de pijama, e nem ela nem suas roupas a entregam pelo crime que ela supostamente cometeu.
Mas que fique bem claro que Eleonora é sim uma pessoa asseada. Seus cabelos brilham, longos, pesados e com um balanço todo seu; sua pele é macia e branca como se nunca tivesse visto sol, chega a ser aveludada, e não só a pele de seu rosto, mas de todo seu corpo; a evolução foi generosa com Eleonora e ela quase não tem pêlos e onde a natureza clama por eles, são muito macios, embora de um castanho duro.
As feições de Eleonora são delicadas, nariz fino, boca pequena, olhos profundos e bochechas rosadas, ao vê- la andar pode-se sentir o coração bater mais rápido, tamanha emoção que sua figura causa, imagina-se que ao se aproximar ela tenha aroma de folhas verdes úmidas, mas o que se sente é, no máximo, um perfume francês de bom gosto. Ela dá duas borrifadas antes de sair de casa, depois do banho, para perfumar seu ser.
- Bom, antes isso do que mau cheiro - essa é a teoria de Eleonora.


::My headphone saved my life::


P.D.A. (WE JUST DON'T CARE), de JOHN LEGEND

Let's go to the Pad
I wanna kiss u underneath the stars
Maybe we go to far
We just don't care

U know I love u when u loving me
Sometimes it's better when it's publicly
I'm not ashamed I, don't care who sees
Just hanging & kissing our love extra basically

We run devour up on the fire escape
I like to setup an alarm today
The love emergency don't make me wait
Just follow I'll lead u
I urgently need you

Let's go to the Pad
I wanna kiss u underneath the stars
Maybe we go to far
We just don't care
Lets make love, let's go somewhere they may discover us
We just don't care

I see u closing down the restaurant
Let's sneak and do it when your boss is gone
Everybody's leaving will have some fun
Or maybe it's wrong but u turn me on
Ooh, will take a visit to your Mama's house
Creep to the bedroom while your Mama's is out
Maybe she will hear it when we scream and shout
And we will keep it rocking until she comes knocking

Let's go to the Pad
I wanna kiss u underneath the stars
Maybe we go to far
We just don't care
Let's make love, let's go somewhere where they may discover us.
Let's get lost and lost
We just don't care

If we keep up on this fooling around
Will be the talk of the town
Let's trun around they will arrive anytime
Let's open up the blinds

Ooh I don't care about the priority
Let's break the rules and ignore society
Maybe the neighbor wants to spy too
So long if they watch what we do

ONE NIGHT, de THE CORRS

Long day and I'm ready,
I'm waiting for your call,
Cos I've made up my mind.
My heart aches with a hunger,
And a want that you were mine,
No, I can not deny.
So for one night,
Is it alright,
That I give you....

My Heart, My Love, My Heart,
Just for one night.
My Body, My Soul,
Just for one night.
My Love, My Love,
For one night.
One Night

When morning awakes me,
Well I know I'll be alone,
So dont you worry about me.
I'm not empty on my own,
For inside, I'm alive,
That for one night,
It was so right,
That I gave you....

My Heart, My Love, My Heart
Just for one night
My Body, My Soul
Just for one night
My Love, I Loved
For one night
One Night

For one night
It was so right
That I gave you

My Heart, My Love, My Heart
Just for one night
My Body, My Soul
Just for one night
My Love, I Loved
For one night


::Divagações no Escuro::


Filhos do Paraíso e as modas do cinema

Lembro-me de conhecer a história de "um filme iraniano sobre duas criancinhas que dividem o mesmo sapatinho", mais ou menos desde 2002 e, finalmente, tive a oportunidade de assistir a ele.
Não me interessava muito por cinema na época do boom do cinema iraniano no circuito alternativo de São Paulo e Rio, só peguei a moda dos filmes argentinos e a dos coreanos e chineses exóticos, dizem agora que está vindo a moda dos romenos, os festivais confirmam. Ainda não vi A Leste de Bucareste. Enfim, o ponto é: não vi muitos filmes iranianos, o único que guardo na memória, marcante, é Gosto de Cereja do Kiarostami.
Filhos do Paraíso é sim um melodrama, é filme para chorar, para enternecer. Mas não é vazio. Podia ser um filme brasileiro, ambientado no sertão do nordeste, o pai vai jardinar, sei lá, em Recife, mas o fato é que é no Irã. As escolas são divididas para meninos e meninas, as garotas escondem seus rostos sob véus e usam sapatos desconfortáveis para fazer educação física, elas não trabalham fora de casa, aliás, já é demais irem à escola. Elas não rezam com os homens nas mesquitas e não tomam aquele chá com açúcar, talvez não tenham competições de corridas nem ganhem canetas. Triste.
Depois de muita calmaria, sujeira, esgoto, é desconcertante ver viadutos, prédios, avenidas, casas gigantescas, sofremos da mesma surpresa que o menino, que vive com os pais e a irmã num cômodo só, mas será que algum dia a irmã verá aquilo tudo? Será que é melhor viver numa condição sem saber de condições melhores?
Sede, desespero, angústia, tristeza, o filme consegue passar esses sentimentos não só pelo conteúdo como também pela forma, talvez resida seu triunfo e não se torne apenas um filme meloso e triste.

quinta-feira, agosto 30, 2007

:: Contorções e convulsões (ou Ensaio não acadêmico para você gostar de mim)::


Você sabe que eu gosto de você, não sabe? Eu sei que você sabe porque você me tortura, não é? É sim, você é uma espécie de sádico que gosta de me ver com os olhos esbugalhados a cada coisa que você fala e, eu sei que, se algum dia eu deixar que descubra que esse texto é sobre você, as coisas vão piorar.
Eu sequer consigo olhar nos seus olhos e você percebe isso, eu sei que percebe, você não é bobo. Eu queria poder olhar seus olhos e descobrir que você também olha os meus e assim, bem devagar, ver nosso reflexo em nossos olhos se aproximarem, sentir meu coração bater cada vez mais forte e enfim beijar sua boca.
Por isso não olho em seus olhos, não quero mais uma frustração.
É, eu sei que você tem namorada, você já me disse isso, várias vezes, e eu sei que você a ama, mas eu sou muito egoísta para não ficar pensando que eu podia ser muito melhor para você. Ossos do ofício de ciumenta invejosa.
Será que você faz de propósito? Esforço-me para descobrir se é proposital o jeito que você me trata e que fala comigo, parece estar me seduzindo para depois dizer NÃO. Você já explicou que não é isso, que é coisa da minha cabeça, mas não posso evitar me sentir especial pelo menos observando como você lida com os demais.
Eu sei, eu sei, somos amigos e você gosta da nossa amizade, eu também gosto mas isso não me impede de fantasiar além, porque acredito que não mudaria em nada nossa amizade, só me faria mais feliz e satisfeita.
Você é complexo e gosto disso em você, o problema é o quanto gosto, não só admiro como gostaria de dividir mais nossas semelhanças e discutir mais as diferenças. Queria, por isso mesmo, sentir pelo menos uma vez o peso do seu corpo, é...talvez mais de uma vez, mas enfim, não posso ser muito exigente.
Ah sim, sou muito exigente, acabo de me lembrar. Sou tão exigente que penso em você como possível satisfazedor de muitas das minhas exigências e, assim, quem sabe, eu poderia me tornar uma pessoa menos sem graça.
É, eu sei que não é! E depois sou eu que sou exigente.
Ah, mas querer não é poder, água mole em pedra dura por mais que bata não fura, e quem solta o pum não fica com a mão amarela, tudo mentiras que contam nessa nossa vidinha. Inclusive é mentira que os homens não se importariam de serem objetos, você se importa.
Comigo você faz piadas, é engraçado, discutimos filosofia, literatura, falamos de cinema e existencialismo, pragmatismo, estruturalismo, machismo, maoismo. Na verdade eu não sou boneco Playmobil porra nenhuma, talvez eu tenha cérebro demais para você e nossas conversas sejam interessantes demais para você me levar para a cama, talvez eu seja inteligente demais para ser uma amiga a menos de um palmo de distância, na verdade, é, talvez seja isso: eu sou além das expectativas de uma mulher que você deseja, passei do ponto além do qual o desejo se torna inviável. Ah, sim, eu sou muito legal e nossos papos são ótimos, mas sem papo cabeça no café da manhã, por favor!

::My headphones saved my life::


Leoni - Só Pro Meu Prazer

Não fala nada, deixa tudo assim por mim
Eu não me importo se nós não somos bem assim
É tudo real nas minhas mentiras,
E assim não faz mal
e assim não, me faz mal não

Noite e dia se completam, nosso amor e ódio eterno
Eu te imagino, eu te conserto, eu faço a cena que eu
quiser
Eu tiro a roupa pra você, minha maior ficção de amor
Eu te recriei
só pro meu prazer, só pro meu prazer

Não vem agora com essas insinuações
Dos seus defeitos ou de algum medo normal
Será que você, não é nada que eu penso
Também se não for, não faz mal
Não me faz mal, não

Só pro meu prazer
Eu quero você como eu quero
só pro meu prazer
Eu quero você como eu quero

::Sábias Palavras::

Orlando Pedroso - http://www.fotolog.com/orlandopedroso/

terça-feira, agosto 21, 2007

::Vício novo::







The Bubble e a representação de relacionamentos homossexuais no cinema


"Eu me recuso a aceitar que um indivíduo possa ser identificado com e através de sua sexualidade." Michel Foucault

Considerar uma relação homossexual (pois já me convenci de que as relações é que são homos ou heteros e não as pessoas nelas envolvidas) diferente de uma heterossexual pode ser uma interpretação do espectador ou a premissa da qual partem muitos realizadores de filmes ao escolherem retratar uma relação amorosa. De qualquer forma, para mim, é um erro comum e por isso alguns filmes me parecem abomináveis.
Existem os clichês dos filmes de relacionamentos gays e muitos deles se encontram no começo da relação, o que há é a não escapatória, o relacionamento se dá pois não há o que se possa fazer, e aqui entram os dois caubóis de Brokeback Mountain. Tive a impressão de que eles transaram simplesmente porque estavam lá, no "middle of nowhere" de uma propaganda da Marlboro, há meses sem sexo, "à perigo" como se diz por aqui, e é capaz que transassem até com um cavalo, o filme foi mal sucedido em tentar me convencer de que aquilo era amor, de que aquele filme era diferente, de que aquilo, enfim, não passava de uma farsa hollywoodiana, até a voz deles era farsesca.
O outro clichê do começo do relacionamento é tecer um dos personagens como o mais 'propenso' e mais interessado e que vai 'corromper' o outro, mais tolinho, um exemplo é Meu amor de Verão. A menina rica é culta e engenhosa, lê Nietzsche e ouve Edith Piaf, a menina pobre tem problemas com o irmão que a acha 'vagabunda' e não é lá muito instruída, é ela, é claro, que vai se ludibriar pela menina rica, o amor de admiração, o amor pelo que se gostaria de ser, até descobrirmos que as duas não são lá muito confiáveis, são mentirosas e de imaginação um pouco fértil demais, como se o relacionamento tivesse se tornado possível por seus distúrbios comportamentais.
Poderia passar páginas e mais páginas falando de filmes que deturpam totalmente a idéia de relacionamentos gays, mas esse post é dedicado a um filme que vai além dos clichês e emociona, por isso gostaria de citar outros como ele.
O recente C.R.A.Z.Y. trata da descoberta do mundo por um adolescente que não se contenta com a idéia socialmente difundida de que homens devem se relacionar com mulheres e vice-versa e apenas, ele quer mais e isso o confunde, como ir além daquilo que a sociedade nos impõe? Como lidar com o fato de quando criança ter preferido brincar de bonecas, sendo menino, à jogar bola? Como aceitar o fato de ter gostado mais de sexo com um homem, sendo também um homem, do que com uma mulher? Mais do que trabalhar em cima de um relacionamento C.R.A.Z.Y. é sobre um conflito pessoal, uma fase de aceitação do que se é a despeito do que os demais são.
Imagine você e eu é um filminho mamão-com-açúcar, melado, comédia romântica de Sessão da tarde e por isso me pareceu genial. Usar uma fórmula já bem difundida, bem absorvida e bem comum, digamos, como é a comédia romântica 'típica', para falar de um amor entre duas mulheres acaba se tornando uma inovação. Sempre senti falta disso, de um filme que falasse de amor entre mulheres ou entre homens como se fala de amor entre um homem e uma mulher, porque de fato não há diferença entre eles, mas parece que ninguém nunca tinha feito isso, eu pelo menos nunca tinha visto, por isso o filme é bem-vindo.
Antes dele o que mais se aproximara do 'não-exagero' fora Assunto de Meninas, tradução de Lost and Delirious, através do qual vemos o sofrimento de quem ama aquele que não aceita seu amor. Paulie e Tori namoram, estamos convencidos que o amor é mútuo e verdadeiro entre elas, até que Tori resolve largar Paulie por um cara e continuamos convencidos de que ela fez isso puramente por uma imposição social, seguimos então, de perto, a dor de Paulie em toda sua sensibilidade, até explodir, não no final, mas na cena da valsa, com "River Waltz" do Cowboy Junkies ao fundo.
E falando de música é que chego ao mote do texto: The Bubble, o novo filme de Eytan Fox. Para quem viu Delicada Relação outra tradução infeliz das que abundam nos cinemas daqui, a mudança é drástica, não só do conteúdo mas mais da forma, agora o diretor se mostra mais maduro e mais corajoso, se é que é possível ser mais corajoso do que já tinha sido, considerando seu país e seu tema, foi possível sim. O que vemos agora é uma mistura de influências musicais e cinematográficas, do mais 'indie' ao mais pop, desde 'Israel Idol' (o American Idol de lá) até Jules e Jim passando por Britney Spears, Bent (a peça de teatro) e Bebel Gilberto, sem esquecer da semelhança entre a loja de discos de lá e a de Alta Fidelidade. Misture a isso um israelense judeu recém-saído do serviço militar se apaixonando por um palestino muçulmano, ataques terroristas, tiros, bombas, canções de amor, fortes amizades, raves pela paz e mesmo assim você precisa ir ao cinema para ter uma idéia do resultado. Numa sessão do filme seguida de conversa com o diretor e com o ator principal tudo o que eu queria dizer era "Parabéns caras!" e ficar lá, em estado de graça, ouvindo o que eles tinham para falar, acho que as congratulações foram entendidas pelos dois após alguns minutos de aplausos e pelas lágrimas presentes nos olhos de todos, jovens, idosos, judeus, ateus, israelenses, brasileiros.
Eu sou totalmente fascinada por filmes sobre o 'conflito-eterno' entre Israel e Palestina, lembro-me de que era o meu assunto favorito nas aulas de geografia, eu sabia as datas e os porquês de cada conflito, de cada tomada de território, de cada invasão, se bem que não haja mesmo verdadeiros 'porquês'. Para alguém que vive em São Paulo, onde todos parecem conviver tão bem, uma cidade na qual podemos almoçar sushis e jantar macarronadas, na qual a miscigenação corre na veia de quase todos, aliás, vi um documentário chamado Cosmópolis, muito bom sobre a cidade e essas questões, ver aquela guerra sem fim é um desafio à compreensão, é um exercício constante de projeção e por isso me interessa tanto. A idéia de vingança corre solta no ar da região e vemos isso em muitos filmes sobre a questão, assim que há um atentado em Israel há uma represália na Palestina e vice-versa, e de represália em represália eles andam em círculos há anos, isso fica bem claro em The Bubble, apesar de ser uma parcela pequena dentro do filme.
O que distancia tanto o filme de Eytan Fox dos demais filmes sobre o Oriente Médio é que ele não é sobre isso e sim sobre a juventude, sobre seus anseios, amores e problemas existenciais, apesar do contexto peculiar, podemos nos reconhecer nos personagens, dialogar com eles, ter a sensação de que conhecemos pessoas novas ao final. O filme é sobre o amor, a amizade, os gostos pessoais, o distanciamento e o engajamento político, e é também, sim, sim, sobre o conflito Israel-Palestina.


::Divagações no Escuro::

A decepção com Little Children

A sutileza é uma das primeiras virtudes que um filme deve ter se não quiser tratar seu interlocutor como um idiota, por isso nos sentimos mais confortáveis ao ver Réquiem para um sonho do que Diário de um adolescente, por exemplo, deixando de lado, é claro, a criatividade de cada um. Se o filme tem uma tese a ser provada esta não precisa ser argumentada à exaustão para ser compreendida, se você tem em suas mãos um instrumento como o cinema, com suas possibilidades audiovisuais, no qual você pode trabalhar seus argumentos através de palavras e imagens, por que tratar tais possibilidades como se fossem deficitárias em si quando o que falta é criatividade a você? Essa é a pergunta que nos fazemos muitas vezes ao ver um filme.
Pecados Íntimos, tradução infeliz de Little Children, carrega a tese de que os adultos é que são, na verdade, infantis. Certo. Boa tese. A ver como se desenvolve. O filme faz uso de meios extremamente 'didáticos' para provar sua tese, tão didático que o filme mesmo se torna infantil e parece tratar-nos como crianças. Bom, se a tese é 'todos os adultos são infantis', então ela se comprovou já que os realizadores se mostraram infantis e endereçaram o filme a pessoas, no caso, adultos, também infantis. Aplausos então.
Posso estar enganada, mas vindo de onde veio acho que a intenção do filme não era bem essa, pelo menos não foi muito convincente e é por isso que ele decepciona, é fraco e superficial. É um ultraje ligar a infantilidade de personagens com o fato de não trabalharem fora, ligar seus fetiches pessoais a perversões, mais uma vez Hollywood tenta fazer um filme diferente e esbarra no velho american way of life e no puritanismo, acompanhado, é claro, de um certo determinismo social.

Um filme, uma frase

Ascensor para Cadafalso - É, eu gosto mesmo de filme francês e em preto e branco.
Nas profundezas do mar sem fim - Por favor, acabe logo, me livre desse sofrimento.
Cine-olho - A vida como ela era... na Rússia... na década de 20.
Dália Negra - Cada filme que passa eu gosto mais desse Brian de Palma.
Os Conquistadores - Lang no Far Oeste.
Ensina-me a viver* - Ensine-me a viver!
O Segredo da porta fechada - Num suspense de Lang eu fico com medo.
O samurai do entardecer - Delicadeza, sutileza, beleza, arigatô.
Filhos do Paraíso* - Que paraíso?
Pequena Miss Sunshine* - De perto ninguém é normal.
Lucia e o Sexo* - Não sei se quero mais Lucia ou mais sexo.
Deu a louca na Chapeuzinho - Poderia ser pior?
Amar e Dançar* - O clichê do filme de dança elevado a um novo patamar.
Procura-se Amy* - Tudo sobre minha vida.
Estamira* - Como o trocadilho, ao contrário, permitiu que as pessoas rissem nesse filme?
The Wind - E o vento levou a virgindade...
Bonecas Russas - Louco, tresloucado, amalucado, divertido e bem-feito.
Em Busca do Ouro - Um clássico é um clássico.
Waking Life* - Até agora a luz não acendeu.
Jornada da Alma - Os psicanalistas também amam.

*talvez recebam mais do que uma frase.

::A pergunta que não quer calar::

Por que eu demoro tanto para escrever?

sexta-feira, julho 27, 2007

::Divagações no escuro::


Fabricando Tom Zé

Um gênio com síndrome de rejeição. Bom, melhor do que subir nas tamancas e ser Ministro da Cultura, não é? Mas falemos baixinho! Ou... gritemos?
O mercado é injusto e nós brasileiros somos um bando de lambe-bunda-de-gringo!!! Precisou um deles ouvir um de nós e dizer para eles que é bom para que nós ouçamos e constatemos que é bom mesmo, para que nós fizessemos um filme que nos mostra tocando para eles.
Entendeste?
Então vá ao cinema e veja por si mesmo, ouça por si mesmo e ria, ria muito, da desgraça alheia, que também é sua, é de todos nós, brasileiros.


Um filme, uma frase

Touro Indomável - A boa e velha "ascenção e queda".

As férias do Sr. Hulot - Mr. Bean é sem graça e, descubro agora, nada original!

Harry Potter e a Ordem da Fênix - Que Ordem da Fênix?

Neve sobre Cedros - Para ver depois de "Memórias de uma Gueixa".

O fim de São Petersburgo - História do proletariado versus burgueses.

5 mulheres marcadas - Feminista...os primeiros 30 min...

Kedma - Agüente firme porque o final compensa.

Memórias de uma gueixa - Chinesa fazendo papel de japonesa, usando lente e falando inglês: filme para americano ver e sonhar com as "belezas" do Oriente.

O Buraco - A febre de Taiwan: dançar o tcha-tcha-tcha!

La Marsellaise - História dos burgueses versus aristocratas.

Mouchette - A angústia de Bresson numa pobre menina.

Plata Quemada - Os brutos também amam.

::My headphones saved my life::


Tô - Tom Zé

Tô bem de baixo prá poder subir
Tô bem de cima prá poder cair
Tô dividindo prá poder sobrar
Disperdiçando prá poder faltar
Devagarinho prá poder caber
Bem de leve prá não perdoar
Tô estudando prá saber ignorar

Eu tô aqui comendo pra vomitar

Tô te explicando
Prá te confundir

Tô te confundindo
Prá te esclarecer
Tô iluminando
Pra te esclarecer
Tô iluminando
Prá poder cegar
Tô ficando cego
Prá poder guiar

Devagarinho prá poder rasgar
Olho fechado prá ver melhor
Com alegria prá poder chorar
Desesperado prá ter paciência
Carinhoso prá poder ferir
Lentamente prá não atrasar
Atrás da vida prá poder morrer
Eu tô me despedindo prá poder voltar

Guindaste a rigor - Tom Zé

Eu quero um trem de doze vagões
Pra marcar o compasso que eu vou cantar
Quero dez máquinas de concreto
Porque não gosto de violino
Quero um discurso do Nero
Para fazer contraponto
Doze motocicletas no lugar do contrabaixo
Para reger o conjunto, um guindaste à rigor
E na hora do breque um belo assopro de coca-cola
Ah, ah, ah que cola
A tonalidade é ré sustenido bem claro
Ou mi colorido bemol
Sidomidelamefalasemsirelanosolfa

Para parceiro na letra
Satanás de babydoll
Ou um camundongo sádico que tem a língua vermelha
E no fim da primeira parte deixe a Brigitte Bardal

Mas hora veja:
Enquanto eu cantava
O verbo enganado
Com a língua do poeta enrolada no pescoço
Pendurado sem socorro
Já parou de balançar as pernas
Já parou

::A pergunta que não quer calar::


Saudade de quê?

terça-feira, julho 10, 2007

::Divagações no Escuro::


Um filme falado: Branca de Neve de João César Monteiro

"Não, diz, o que vês? Diz logo. Através dos teus lábios deduzirei o bonito desenho desse quadro. Se o pintasses, por certo atenuarias habilmente a intensidade da visão. Então, o que é? Em vez de olhar, prefiro escutar."trecho do filme

O título do filme atraiu pais desavisados com seus filhos pequenos que queriam ver a história da garota bonita que, perseguida por sua madrasta má, vai morar com anões na floresta, come a maçã e, bom, todo mundo já sabe da história. Lá pelos 20 minutos de filme todas essas crianças, descepcionadas, e seus respectivos pais, já tinham se retirado do cinema do CCSP. Mas uma corja de gente chata, que fala durante o filme, ainda não tinha desistido. Depois de mais uns 10 minutos eles resolveram erguer suas bandeiras brancas e ir embora. Aí sim houve paz para os que ficaram poderem pensar sobre aquilo que estavam vendo.
Há muito tempo que ouço falar desse filme, pelo menos desde 2000, o ano de seu lançamento. Ele fez muito estardalhaço, e até agora não tinha conseguido assistí-lo, nem sei dizer o porquê. Até agora. Depois de tamanha experiência, com certeza todos saem da sala pensando o cinema de maneira diferente do que pensavam antes,e se, não pensavam o cinema, começam a pensar, é um filme que incomoda, que mexe no íntimo daqueles que apreciam a sétima arte, que discute, que chega na sua cara de fim de semana e grita: "Escuta aqui, onde foi que chegamos?". Saí de casa despreocupada e aérea, não voltei mais a mesma pessoa.
Okay, pode não ter acontecido com todo mundo, mas para mim, que levo o cinema muito à sério, foi um filme inesquecível. Já sabia que seria uma tela escura, preta para ser mais exata, e apenas falas, mas não sabia mais nada. É realmente um filme sobre Branca de Neve, mas não o conto de fadas e sim um texto de Robert Walser que discute o conto e assim o diretor discute o cinema. O filme, e o texto, ao qual o primeiro é fiel, são uma negação do "e viveram felizes para sempre", é um "e depois?", "e se não fosse assim, seria como?". E se a madrasta má não fosse má? E se o filme não tiver imagens? Já se fez de tudo no cinema, Godard, Dogma 95, irmãos Dardenne, o que há ainda para ser feito? - Branca de Neve!
O filme sufoca, oprime mesmo, como quando você vê uma obra de arte, um monumento, uma pintura, que é tão grandiosa e tão boa que você se sente diminuído. E assim eu passei mais de uma hora lutando contra aquilo, tentando entender aquela grande idéia, o procedimento, a mensagem, podendo respirar a cada imagem de céu, que gritava como um treinador carrasco: "Agora respira, respira". E novamente enfia minha cabeça num galão de água. As cenas de céu são como a do final de Hamaca Paraguaia, uma espécie de oportunidade de salvação, uma ascenção, como a instalação de fumaça de Anish Kapoor.
João César Monteiro manda às favas as convenções cinematográficas, porém, como uma vez alguém disse, não me lembro quem, quando se entra numa sala de cinema é como se assinasse um acordo com o realizador, você entrega sua atenção e seu tempo por cerca de duas horas e ele faz por merecer, ou não, mas, o caso é que me senti privilegiada de ver aquele acontecimento, toda surpresa que ele me deu fez com que minha percepção de cinema mudasse, radicalmente.

::Sábias Palavras::


"I have lost my origin
And I don't want to find it again"
Björk - Wanderlust

::My headphones saved my life::


Kings of Convenience - Misread

If you wanna be my friend
You want us to get along
Please do not expect me to
Wrap it up and keep it there
The observation I am doing could
Easily be understood
As cynical demeanour
But one of us misread...
And what do you know
It happened again

A friend is not a means
You utilize to get somewhere
Somehow I didn't notice
friendship is an end
What do you know
It happened again

How come no-one told me
All throughout history
The loneliest people
Were the ones who always spoke the truth
The ones who made a difference
By withstanding the indifference
I guess it's up to me now
Should I take that risk or just smile?

::A pergunta que não quer calar::

Faço algo da minha vida ou espero ela fazer algo de mim?

quinta-feira, junho 14, 2007

::My headphones saved my life::


Happy Together - The Turtles

Imagine me and you, I do
I think about you day and night, it's only right
To think about the girl you love and hold her tight
So happy together

If I should call you up, invest a dime
And you say you belong to me and ease my mind
Imagine how the world could be, so very fine
So happy together

I can't see me lovin' nobody but you
For all my life
When you're with me, baby the skies'll be blue
For all my life

Me and you and you and me
No matter how they toss the dice, it has to be
The only one for me is you, and you for me
So happy together


::A não ser que::


Um livro de "auto-ajuda" é algo que não faz o menor sentido, pelo menos para quem sabe o mínimo de português. Se é AUTO ajuda, não é necessário um livro e se é um livro que te ajuda não é você mesmo e por isso não é auto-ajuda, faz sentido? A não ser que...
A não ser que eu mesma escreva um livro para me ajudar, aí ele será um livro de auto-ajuda. Como nunca acreditei no poder de um livro para me ajudar em algo, pelo menos não diretamente, porque Clarice Lispector, Virginia Woolf e outros me ensinaram muito, resolvi escrever um livro para ajudar a mim mesma.
Um desabafo, um esvaziamento de tudo que estou cansada de conter em minha memória.
Wish me luck.


::Carta aberta a minha ex-ibicionista::


Darling,
Eu não quero saber com quem você transou ou deixou de transar, o que eu queria é que você apenas fizesse amor, comigo. Mas não há o que ser feito, não é mesmo?
Já que eu não existo, eu sou apenas um avatar de um passado distante, com o qual de vez em quando você troca algumas palavras, simpaticamente, mas eu sou virtual, não sou parte da realidade.
Eu queria sofrer uma lobotomia, uma espécie de lavagem cerebral, servir de experimento para a máquina de Brilho Eterno de uma mente sem lembranças. Com certeza seria você que eu escolheria deletar, mesmo que tudo saísse errado, seria a melhor opção. Seria ótimo poder vê-la, ouvir seu nome, ver sua foto e não sentir minhas pernas tremerem, meu coração acelerar e um suor frio percorrer minha espinha, como se a memória procurasse e a resposta fosse: DADOS INSUFICIENTES PARA REAÇÃO, um conjunto vazio.
Tudo isso porque você já me esqueceu. Talvez ainda se lembre de meu nome e o ligue a uma fisionomia em particular mas às suas lembranças não vêm os sentimentos, as sensações ligadas a mim, os cheiros, as cores, os sabores daquilo que um dia tivemos. Os encontros às escondidas nas datas comemorativas, as alianças trocadas - um pacto? - sua mão quente na minha, nossos abraços, seu sorriso, nossos apelidos íntimos.
Hoje tudo que você tem deve ser exibido, seu corpo, suas ações, seus sentimentos. Você porta como um estandarte o corpo que um dia eu quis ter só para mim, as ações que eu nunca achei que você fosse capaz de cometer e os sentimentos que envolvem necessariamente ir para cama com alguém e fazer bem feito, para que seja memorável e espalhável.
Não seria exibível um amor como o que tivemos, pelo menos como o que eu tive por você, ainda tenho, você não o exibiria porque ele não é reproduzível, ele é único e foi esquecido.
Sweetie.


::Espero que sejam Sábias Palavras::


"Relaxa querida,você vai achar fruta melhor,tenho certeza, alguém muito melhor, que seja inteligente
de verdade, que saiba ter diálogos como os de Gilmore Girls ... Porque você fala meio rápido também. Que te leve para o campo, para que você não fique tão estressada, que te entenda de verdade, uma pessoa que te ame intensamente e que não seja algo tão exagerado. (...) E olha que praga de amigo gordinho e meigo pega."
Meu amigo meigo


::A pergunta que não quer calar::


Por que toda luta tem de ter seu preço?

segunda-feira, junho 11, 2007

::My headphones saved my life::


Para quando for a Praga, um dos meus destinos dos sonhos.

All Dressed Up - Damien Rice

I pack my suit in a bag
I'm all dressed up for Prague
I'm all dressed up with you
All dressed up for him too

Prepare myself for a war
Before I even open up my door
Before I even look out
I'm pissing all of my bullets about...

Wrap myself in a bag
I'm all wrapped up in Prague
I'm all wrapped up in you
I'm all wrapped up in him too

Prepare myself for a war
And I don't know what I'm doing this for
Trying to let it all go
But how can I when you still don't know?

I could wait for you
Like that hole in your boot
Waiting to be fixed
I could wait for you
What good would that do
But to leave me bruised?

Darlin' - here's to you and your lover
Darlin' - I got years.

Pack my suit in a bag
All dressed up for Prague

Pack my suit in a bag
All dressed up for

::Aprendizados da migração Leste-Oeste::


Existem várias leis tácita no transporte público,uma delas, principalmente no ônibus, é a seguinte: o lugar que ficar vago será daquele que estiver em pé mais próximo do lugar em questão. Acontece que muitos não respeitam isso, estão a uns 10 passos de distância e quando alguém levanta se jogam em cima daquele lugar lindo que de repente ficou vazio, isso quando não jogam bolsas, casacos, para dar tempo de chegar.Eu odeio isso.

::Sábias Palavras::


"Eu não sabia que existiam prostitutas de óculos. Mas existem." Haruki Murakami , Dance Dance Dance

::Divagações no escuro::


O Tigre e a Neve

Podem falar o que quiserem, que o filme é nada mais nada menos que uma variação de A vida é bela, que Roberto Benigni é forçado, que ele tenta imitar o Chaplin, não me importa, o filme novo de Roberto (imagine a Sofia Loren falando seu nome como no Oscar) é maravilhoso, poético, engraçadíssimo e muito triste. Assim como A vida é bela? Sim, os dois são dignos desses adjetivos, os dois falam da guerra mas os dois merecem ser reconhecidos como filmes diferentemente memoráveis.
Muito mais romântico que seu antecessor, O Tigre e a Neve mostra um homem que qualquer pessoa gostaria de ter apaixonado por si. Se antes eu pensava que se alguém me descrevesse como José de Alencar descreve Amélia em Senhora eu casaria na mesma hora, agora meu espírito romântico desacreditado acha impossível que alguém real faça tudo o que se faz por amor nesse filme.
De qualquer forma vale à pena sair de casa para ver o filme, dar um tempo a seu coraçãozinho para que ele ainda acredite no amor romântico, ou esperar sair na locadora e ver naquele dia em que você está com vontade de protagonizar a cena inicial de O Diário de Bridget Jones.

Inconscientes

Comédia para se descabelar, uma piada inteligente com a psicanálise de Freud, dividido em capítulos que têm nomes de complexos descritos pelo "destruidor psicanalista", como 'a inveja do pênis', o filme é bem feito, rico em diálogos e situações engraçadas, cheio de reviravoltas, final revelador, realmente prende a atenção. Não sei dizer o porquê mas a cor amarela prevalece dando um quê especial e o estilo remete aos filmes do início do século.

Labirinto de Paixões

"Que overdose!" Por falar em comédias, filme de Almodóvar de 82 que faz o cinema vir a baixo de tanta risada, eu ria do filme e das risadas alheias. Creio que nunca ri tanto no cinema, nem em O Cheiro do Ralo.
Muito anos 80, aquelas cores trash da década, história "non-sense at all", situações tão cômicas que talvez seja melhor ver o filme de fralda. Muito se fala sobre sexo, é claro, e há até piadas escatológicas. Inesquecível ver meu Pedro querido travestido. Hilário. "Gran ganga, gran ganga, lárálárálárá..."

sexta-feira, junho 01, 2007

::My headphones saved my life::


Meu Erro - Paralamas do Sucesso

Eu quis dizer
Você não quis escutar
Agora não peça
Não me faça promessas
Eu não quero ti ver
Nem quero acreditar
Que vai ser diferente
Que tudo mudou

Você diz não saber
O que houve de errado
E o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria
Oh meu deus era tudo o q eu queria
Eu dizia o seu nome
Não me abandone jamais

Mesmo querendo eu não vou me enganar
Eu conheço os seus passos
Eu vejo os seus erros
Não há nada de novo
Ainda somos iguais
Intão não me chame
Não olhe pra trás


Blue Moon - versão "Revisited" do Cowboy Junkies

Blue Moon
You saw me standing alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own
Blue Moon
You know just what I was there for
You heard me saying a prayer for
Someone I really could care for

And then there suddenly appeared before me
The only one my arms will hold
I heard somebody whisper please adore me
And when I looked to the Moon it turned to gold

Blue Moon
Now I'm no longer alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own

::Em algum lugar do passado::


Ontem foi noite de Lua Azul, a última, pelo que me lembro, foi no dia 31 de julho de 2004. Dizem que noite de Lua Azul é noite de sorte no amor, por isso eu fiquei em casa, assistindo televisão debaixo das cobertas. Após a Lua Azul de 2004, achei que seria mais seguro ficar na minha casa mesmo. Relembro então um texto que escrevi no meu blog da época depois daquela noite (com as correções gramaticais e ortográficas pertinentes depois de 3 anos melhorando meu português):

O amor e a felicidade estão intrinsecamente ligados?Por que passar 6 horas às vezes parece uma eternidade e às vezes parece ter passado apenas 2 horas? Por que na maioria das vezes que acontece isso estou com quem amo,quando eu gostaria que 1 hora durasse uma eternidade? Por que é preciso apanhar tanto,zangar-se tanto,brigar tanto para depois descobrir que te amo de verdade? Por que vemos tudo mais perfeito na pessoa que amamos? Como um olhar pode ser tão cheio de significado? Significado este que milhares de palavras não explicariam. Passei tanto tempo esperando,chorando e achando que tudo daria errado para numa fração de segundos, quando te reconheço do outro lado da rua, tudo virar fumaça e meu coração bater a mil,minha boca ficar seca e a única coisa que conseguia fazer era olhar-te,como nunca,para sempre!

::Sábias Palavras::

"Eu aborto
Tu abortas
Todas calamos"
Espécie de "colagem grafite" na entrada do Teatro Fábrica

::Divagações no escuro::


Violação de Domicílio

O filme todo é uma grande metáfora sobre a situação palestina atual, a tomada de espaços pelos israelenses é vista de uma forma até poética. Gandhi fez escola e o pai de família quer uma luta por meio da paz, da "desobediência pacífica" mas muitas vezes o ódio não é controlável.
Godard também fez escola e a câmera chega a ser tão próxima que parece que estamos lá, naquela casa invadida e violada, naquele lar. A técnica do faux raccord (aquela coisa que parece que o DVD está pulando ou que faltou alguma parte da película) foi a melhor que vi nos filmes de um ano para cá.

O Passageiro

O que fazer para mudar de vida quando desta dependem tantas outras vidas? A liberdade não é livre arbítrio mas nem por isso tudo é determinado, não lembro de quem é a frase, mas "liberdade é fazer aquilo que você quiser daquilo que fizeram de você".
Tavez seja preciso descobrir sua própria identidade antes de trocá-la com a de outrem.
Mesmo que você não goste de Antonioni o filme valerá pela última seqüencia. GENIAL.

::Aprendizados da migração* Leste-Oeste::


Isso eu já sabia, mas é sempre reforçado: NUNCA, JAMAIS, saia de casa sem um guarda-chuva na bolsa.

*Valeu Lu por me fazer perceber que migramos e remigramos todos os dias.

sexta-feira, maio 25, 2007

::Em algum lugar do passado (num novembro distante de 2003 fizeram um poema para mim)::


So many things I wanna to say to you
so many things I wanna share with you
So many nights without sleep
Only thinking about you

Day and night you´re with me
I just can´t get you out of my head
Everything I do reminds me of you
The way you hug me
The way you kiss me
The way you hold me in your arms

You´re my everything
My reason to go on living
My sunshine on a cloudy day
My blanket on a cold night

I think I´m going nuts
I don´t know what to do
I don´t know what to say
My hands shake when you´re around
My heart beats faster
My thoughts race
I cannot breathe without you
I cannot live without you

::Sábias palavras::

Liberdade é amar quem se ama mesmo que não ame você
Grafite na Rua da Consolação

domingo, maio 20, 2007

:: Olé (da série Confissões - Você II) ::


Semáforo verde, eu engato a primeira e acelero, antes mesmo de trocar para a segunda, em questão de segundos, você troca o sinal para vermelho sem ao menos passar pelo amarelo. O carro morre.
Desalento.
Um sol quente e forte, corremos num gramado, sorrindo num gramado verde cintilante, você corre atrás de mim, não me alcança durante horas a fio até que consegue me agarrar pelo vestido florido quando me agacho para pegar o chapéu que voou de minha cabeça. Nos abraçamos. Aí então você faz um gracejo e sai correndo, quem deve perseguir agora sou eu, porém o máximo que consigo é tocá-la com as pontas dos meus dedos, várias vezes por pequenos instantes. Você se cansa, apaga-se seu sorriso.
Desencanto.
Você passa ao meu lado na mesma calçada, eu não a conheço, você assobia, solta um elogio, meu fone de ouvido está no volume máximo. Depois de alguns dias, eu passo ao seu lado na mesma calçada, você não me conhece, eu assobio, solto um elogio, seu fone de ouvido está no volume máximo.
Decepção.

"Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
P'ra mudar a minha vida
Vem vambora
Que o que você demora
É o que o tempo leva" (Vambora - Adriana Calcanhoto)

::Sábias Palavras::

"Não aceitaremos mais a forma imposta, a reflexão não mais se molda. Nossa crítica não se calará com puras palavras, o puro pensamento infinitamente maleável.
O pensamento toma as mãos, que não mais tomam sua submissão, não tomam menos do que o mundo, do que aqui, sua história." Lucas Itacarambi

::A pergunta que não quer calar::

Onde eu estava nesses últimos 20 anos?


::Divagações no Escuro::


Quatro amigas e um jeans viajante
O argumento é meio insosso, okay, dou uma chance ou não? Resolvi apostar no filme, no mínimo esperando aquela diversão que se tem ao ver pela décima vez "Quero ser grande" na Sessão da Tarde.
E não é que o filme é divertido? Tocante até. Adoro esses filmes com quatro amigas, como o "Agora e Sempre" e "Jovens Bruxas", eu sei que não guardam em si quase nenhuma semelhança, mas são histórias de quatro amigas.
As atrizes são todas muito boas, as cenas na Grécia são paradisíacas e, falando a verdade, eu bem que gostaria de ter um jeans que desse sorte e que servisse em qualquer corpo.

terça-feira, maio 08, 2007

::Divagações no Escuro::

Eu, você e todos nós


Preciso falar desse filme mas não sei ao certo o que dizer. Começo então pelo fim.
A série Confissões a que dei início nesse humilde blog teve inspiração nesse filme de Miranda July, ela escreveu, dirigiu e atuou nele.
O filme mostra cada um de nós, todos ou ninguém, depende do seu ponto de vista. Conto o meu. Para mim aquelas personagens são tão reais, bem como as situações que vivem, que quando o filme acabou tive a impressão de que ele não terminava ali e fiquei curiosa para saber o que aconteceria àquelas pessoas depois. É uma espécie de complexo voyerista muito discutido por diretores (como Hithcock em Janela Indiscreta) e pensadores do cinema, essa vontade de ver a vida das pessoas sem que elas nos vejam. Mas o filme mostra um íntimo que não teria a audiência de um Big Brother Brasil, um íntimo que, se quiséssemos, se prestássemos verdadeira atenção àqueles que nos rodeiam, poderíamos perceber, mesmo que nebulosamente. Afinal, aquelas pessoas podiam ser suas vizinhas, a menina do enxoval, as garotas que querem ser adultas ou você mesmo pode ser aquele que queima a mão para salvar a própria vida.

::My headphones saved my life::


Would You Be Happier - The Corrs (trecho)

Have you ever wonder where the story ends, and how it all began, I do
Did you ever dream you were the movie star with popcorn in your hand, I did
Do you ever think you're someone else inside, when no one understands you are
And wanna disappear inside a dream but never wanna wake, wake up
Then you stumble on tomorrow, and trip over today

Would you be happier if you were someone together
Would the sun shine brighter if you played a bigger part
Would you be wonderful if it wasn't for the weather
You're gonna be just fine

::Equilíbrio (da série Confissões - Eu (I)::


neste --------------------------- depois
antes ----------------------- instante

---------------- eu ---------------------
------------- inconstante -----------------
----------- desequilibrada ----------------


::A noite que passei com ela (da série Confissões - Todos nós (I)::


Toda aquela bebida não foi o suficiente para me fazer esquecer que ela estava ao meu lado. A TV ligada já não me chamava atenção, sua orelha sim me chamava e eu fui em direção a ela. À sua orelha, seu pescoço, sua bochecha, sua boca.
Perdi-me.
A TV ficava cada vez mais distante, aquele carnaval de sei-lá-onde não me importava mas só o meu carnaval e o dela, aquele carnaval de quatro braços e quatro pernas.

::Sábias palavras::

"Temo que os bichos considerem o homem como um semelhante que se privou da razão animal sadia, como um animal no delírio, que ri e que chora, como um animal infeliz." Nietzsche em A Gaia Ciência.
"A atração sexual é a tônica da nossa civilização." Henri Bergson

Amiga é amiga!

FELIZ ANIVERSÁRIO!

O tempo vai passando e a amizade vai ficando.
Lembro-me do dia em que te conheci, foi notando a sua imensa cara-de-pau e isso é, até hoje, uma das coisas que mais admiro em você.
Coloco essa mensagem de PARABÉNS pelo seu niver aqui porque não dá tempo de chegar nada pelo Correio, a última carta ainda nem chegou, achei que daria tempo, que os Correios seriam mais rápidos, mas nem rolou,né?
Tenho muito para te dizer, e você sabe disso, mas prefiro deixar para depois, com um presente e brigadeiro, quem sabe, isso aqui é mais instantâneo mesmo. Taí, esse é um cartão de aniversário Miojo.

domingo, maio 06, 2007

::Não é fácil [da série Confissões - Você (I)]::


Todo dia de manhã

Enquanto tomo meu café amargo

É, ainda boto fé


De um dia te ter ao meu lado


Na verdade eu preciso aprender

(...)

Se você quisesse ia ser tão legal


Acho que eu seria mais feliz


Do que qualquer mortal


Na verdade não consigo esquecer


Marisa Monte/Arnaldo Antunes/Carlinhos Brown - Não é Fácil




Ontem encontrei você. Hoje resolvi reencontrar você. Ontem cruzei com você por acaso, estava escuro, talvez você nem tivesse reparado minha presença mas eu a chamei e nos cumprimentamos rapidamente e indiferentemente. Hoje queria reencontrar você de tempos atrás, não você de ontem, você-estranha, queria reencontrar você-conhecida, você-que-me-amava, você-meu-desejo-de-consumo.


Liguei o rádio e coloquei o CD com as músicas das quais você me mandava as letras quase diariamente, aumentei o volume e cantei mais alto ainda, alto o quanto pude agüentar, como que na esperança de que você me ouvisse.


Faria diferença? Será que você se lembra dessas letras, será que quando ouve essas canções pensa em mim? Quanto a mim, é inevitável, cada uma delas se tornou uma marca ainda em brasa de você por todo meu eu e cada palavra é como uma ferida sendo invadida pela ponta-seca de um compasso enferrujado.


You're my satellite


uma ferida


You're the right kind of wrong


outra pontada


I can't breathe until you're resting here with me


e mais outra


Ao escolher um chocolate, hoje, diante de uma enorme diversidade, escolhi aquele da embalagem laranja, o gosto de sua boca, nossa sobremesa antes de nosso primeiro beijo. Será que você lembra disso? Quais são as chances de você ter esquecido tudo o que viveu comigo e, mais, tudo que sonhamos juntas?


- Grandes! - diz meu otimismo.


- ENORMES! - grita meu pessimismo.


- Eu sei, eu sei, eu sei!


Pelo menos a cada quinze dias imagino uma nova maneira de tentar um novo exorcismo de você de mim. Já tentei de tudo. Quer dizer, ainda me resta magia negra e algumas crendices populares.

Já passei o triplo do tempo que vivi COM você, sofrendo POR você e, após todos esses anos você é a figurinha dourada do meu álbum Decepções Amorosas, a número 1 e dourada. VOCÊ!

quinta-feira, abril 26, 2007

::A difícil arte de estar só::

Talvez o mais difícil quando se termina um relacionamento de longa data não seja parar aquele filminho que passa na mente, play e rewinde, infinitamente, também talvez não seja contornar as lágrimas e ver em frente, talvez, o mais difícil seja voltar a ficar só.

Somos todos sós. Mas num relacionamento, por muitos pequenos instantes, sentimos que somos compreendidos e que fazemos parte de algo comum a duas pessoas. Temos, realmente, alguém que se importa e pensa em nós a cada 2 ou 3 minutos. Num relacionamento você tem a certeza de que pode contar com alguém e parece que alguém entende sua angústia, seu vazio e suas alegrias, pelo menos é o que parece.

É difícil acordar e se acostumar a não perguntar: "dormiu bem?", "que horas você acordou?".

Estar só não obriga satisfações mas às vezes é bom saber que alguém se importa, é bom ser mimado, bajulado.

Sempre preferi a solidão à multidão, porém, depois de muito tempo, me vejo tendo apenas a mim para dividir as coisas.

Preciso voltar a me conhecer, já tinha me esquecido de como eu era, sozinha no quarto, sem telefone na orelha, sem e-mails na caixa todos os dias, sem mensagens no celular, sem mãos para pegar ao atravessar a rua.

"Eu sou um outro".

"O inferno são os outros".

Prazer, esta sou eu!


::Divagações no escuro::

Shoah
Grande oportunidade, talvez única: ver Shoah na Cinemateca. O documentário de 9 horas foi dividido em 2 dias, sábado e domingo, exibição em DVD com legendas em inglês.
Apesar de um acontecimento raro, poucos foram ver, poucos mesmo, cerca de 10 pessoas, no sábado, no domingo eu compareci.
A idéia do filme, o "conceito" é interessante e intrigante: num momento da década de 80 em que os chamados "revisionistas" lançavam teorias de que o Holocausto nazista não foi mais do que uma invenção dos judeus visando compadecimento mundial, Claude Lanzmann resolveu fazer um filme diferente sobre o acontecido da II Guerra. Esqueça "O Pianista", "A lista de Shindler" e todos os outros, Lanzmann parte do princípio de que aquele horror todo não é reconstituível, nem os lugares, nem as pessoas e nem acontecimentos são passíveis de serem reconstruídos, no fundo, ninguém que não viveu aquilo pode entender o que realmente foi. Interessante como essa sempre foi minha opinião sobre qualquer momento histórico, mas enfim.
O filme então se faz de entrevistas com sobreviventes, judeus, alemães, poloneses e imagens dos locais como estão no momento em que foram filmados, no caso, 1985. O resultado é impressionante, muitos, afirmam que a emoção nos toma instantaneamente diante de uma imagem que nos choca e que a emoção nos vai tomando aos poucos através de um relato de tal imagem ou ação. Bom, todo filme, todo cinema é um relato, por mais realista que seja, você não está num deserto, numa tribo africana e nem em Aushwitz de verdade, assim, Shoah se constituiria então como um relato de um relato. A cena da sopa de O Pianista nos dá sensações, assim como a garotinha de vermelho de A Lista, só para falar dos mais recentes e famosos filmes sobre o tema, mas com certeza podemos citar mais de 50 filmes que tratam do assunto.
As falas, porém, dos sobreviventes no documentário, realmente nos atinge aos poucos, mas o fato é que depois de 2 horas aquilo já está surtindo um efeito catastrófico e ao cabo de 4 horas do primeiro dia eu já não podia mais com aquilo tudo. Fui para casa tentando decidir se voltaria no dia seguinte, passei a manhã toda do domingo pensando na mesma decisão e acabei decidindo ficar em casa, por fraqueza mesmo, eu confesso: não agüentaria.
A tese do filme está mais do que provada, não precisamos de um cenário que evoque os campos de concentração, de personagens construídas a partir de um real, o real, ali, diante das câmeras, mesmo que depois de 30,40 anos é o real e suas falas, mesmo que sejam apenas falas, que vêem perdendo sentido num mundo dominado pelas imagens, são mais significativas, suas descrições mexem com o que de mais humano existe em nós e a pergunta não se cala: como foi possível?
O diretor arranca confissões incríveis de oficiais alemães e vizinhos poloneses dos campos, coisas de se ficar boquiaberta, com duas ou três perguntas se faz todo um diagnóstico das relações entre aquelas pessoas naquela época determinada, e a pergunta continua sem se calar.
Não sejamos cegos o bastante para ignorar que não só judeus foram mortos nos campos, apesar de não haver muitos filmes, canções, museus para eles, ciganos, homossexuais e negros também morreram e não só os nazistas tiveram seus campos, os soviéticos, os chineses, aliás, vale a pena ver Balzac e a Costureirinha chinesa para entender outros caminhos do autoritarismo. Sim, muitos outros, de muitas classes sociais, religiões, orientações sexuais e ideológicas morreram, em muitos outros holocaustos. Mas a pergunta ainda assim não se calou.

Antes do Pôr-do-Sol
O que é um desconhecido se no fundo no fundo todos são desconhecidos? Nove anos atrás eles não se conheciam de tudo, em Antes do Amanhecer e se apaixonaram e viveram intensamente uma noite e falaram sem parar e quando pararam aproveitaram e se despediram e...
Nove anos mais tarde se reencontraram e saíram para tomar um café e passearam por Paris e tomaram um barco e não pararam de falar um segundo e ela se confessa fraca como todos nós e apaixonada e o filme vai acabando e ela canta uma canção de amor e ele vai perder o avião de volta para casa e ...


::My headphones saved my life::

The Corrs - Intimacy(trecho)

We come into this world alone
From the heart of darkness
The infinite unknown
We're only here a little while
And I feel safe and warm
When I see you smile

Damien Rice - Amie (trecho)
Something unusual, something strange
Comes from nothing at all
But I'm not a miracle
And you're not a saint
Just another soldier
On the road to nowhere


::Sábias Palavras::

"Talvez amanhã a novela acabe mais cedo, talvez amanhã você não goste do que vê no espelho e queira mudar a cabeça sem mexer no cabelo" (Jack - http://trixa.com.br/cmto/?p=97)

sexta-feira, abril 20, 2007

::My headphones saved my life::


She Bop - Cyndi Lauper

We-hell-i see them every night in tight blue jeans
In the pages of a blue boy magazine
Hey Ive been thinking of a new sensation
Im picking up
good vibration
Oop--she bop
Do I wanna go out with a lions roar
Huh, yea, I wanna go south n get me some more
Hey, they say that a stitch in time saves nine
They say I better stop--or Ill go blind
Oop--she bop--she bop
She bop--he bop--a--we bop
I bop--you bop--a--they bop
Be bop--be bop--a--lu--she bop,I hope he will understandS

Hey, hey--they say I better get a chaperone
Because I cant stop messin with the danger zone
No, I wont worry, and I wont fret--Aint no law against it yet
--Oop--she bop--she bop--She bop--he bop--we bop...


::Pintar ou fazer amor e A Casa dos Budas Ditosos ou uma educação sentimental para a moral::


Apesar do carnaval, das praias e do calor que, aparentemente, promovem a nudez propagandeada por nós mesmos sabre o Brasil, o brasileiro é um reprimido, na melhor das hipóteses, um hipócrita.
Os americanos são puritanos mas, okay, muitos deles são realmente puritanos. O brasileiro é reprimido por uma moral tradicionalmente católica e agora piorada. Países como Itália, Espanha e Portugal, dos quais somos depositários, muitas vezes discutem em seus filmes e livros as conseqüências dessa tão enraizada cultura do pecado pregada pela Igreja e presente até mesmo nas famílias de tradição não religiosa.
Mas será o brasileiro realmente reprimido ou meramente hipócrita? As piadas mais famosas no Brasil, depois das de português, são as de corno; ainda comete-se a animalidade (coitados dos animais) de matar por vingança ao adultério, mas muitos traem, traem loucamente. E aqui não critico ao adultério, nada contra, é tudo uma questão de assumir, que se traia, mas que se assuma. Aliás, devemos pensar uma relação entre as piadas de cornos serem sobre homens traídos e a violência ser contra a mulher.
A hipocrisia está nesse "não me toques", tudo um choque, um rubor coletivo, enquanto entre quatro paredes acontece de tudo. ASSUMAM. Gritemos alto todos nossos pecados e perversões e daqui algum tempo, depois de tanta gritaria, não serão mais chamados assim os nossos desejos.
A peça, baseada no livro de João Ubaldo Ribeiro, A Casa dos Budas Ditosos abriu minha mente para muitas coisas. Uma senhora sexagenária conta sua vida inteira pelo aspecto sexual e, a despeito dos mais conservadores, é invejável. Ao final da peça ela fala para que coloquemos as mãos nos "ógãos genitais" de nosso vizinho de poltrona, será que alguém fez isso? Se a peça não fosse tão cara eu assistiria de novo e no final faria o que ela sugere. Qual o real problema? Não vai arrancar pedaço.
O filme Pintar ou fazer amor, embora num registro totalmente distinto, também aborda a questão da liberdade sexual, é uma poesia em filme, uma ode extremamente sexy. Os diálogos, a trilha sonora, o cenário, tudo faz dar vontade de estar naquele filme e de se apaixonar loucamente.
Precisamos urgentemente colocar o sexo na boca do povo (com ou sem duplo sentido) não como uma coisa pervertida da qual se ri ou sobre a qual se fala baixo, devemos falar como falamos de política, culinária, com um pouco mais de entusiasmo, é claro.

::Sábias Palavras::

"A primeira lei que a natureza me impõe é gozar à custa seja de quem for."
"Um prazer nunca é um erro!"
"Tudo é ótimo quando em excesso."
Marquês de Sade

::Curtindo a vida adoidado::


Ultimamente tenho procurado ouvir muitas das bandas comentadas nos jornais e nessas você pode acabar descobrindo muito lixo mas também muitas pérolas, uma boa é a banda de garotas The Long Blondes com o álbum Someone to drive you home.
Uma exposição muito bacana em cartaz em Sampa é a do Museu do Salvador Allende no prédio da Fiesp, vale a pena a visita, gratuita, para ver de tudo um pouco.

domingo, abril 08, 2007


::A Morte::


A verdade verdadeira é que não temos a menor idéia do que acontece após a morte, só sabemos que vamos morrer, com toda certeza, isso dá medo, é aterrorizante mas, cedo ou tarde, temos que aprender a lidar com ela, a inevitável.
Sempre que penso sobre minha morte, confesso, faço o maior esforço para mudar de pensamento, canto uma música, vou fazer algo, tento dormir, qualquer coisa que me ajude a evitar tal reflexão.
Porém, sem querer, me deparei com a morte em diversos meios de expressão em dias seguidos. Estava lendo Um Sopro de vida, último livro da Clarice antes de morrer, ela ditou o livro a sua amiga Olga ao mesmo tempo que ditava A Hora da Estrela, ela sabia que ia morrer e isso fica claro no livro, é um adeus, uma reflexão e um processo de aceitação da própria morte, triste e feliz ao mesmo tempo, é uma angústia seguida de certa forma de alívio, é mesmo um suspiro.
Fui ver uma peça por indicação de um amigo, que eu indico a todos seres sensíveis do mundo, Adubo ou a sutil arte de escoar pelo ralo, uma peça, basicamente e bem simplificadamente falando, sobre a morte, textos excelentes e interpretações de alma, gritos e sussurros que ferem, mexem lá dentro e reviram tudo, tudo à flor da pele e sem meias palavras, "entre morrer meu pai ou eu, morre meu pai que é mais velho", sobre homicídio, suicídio, todo tipo de morte, natural, por queda, arma de fogo, ataque do coração, velhice, de gente, de pássaro, de cachorro, gente rica, pobre, homem, mulher, afinal, todos morrem.
Dias mais tarde vi o mais recente filme de Woody Allen e, sobre o que era? Morte! Não digo agora que aceitei o fato de um dia ter de morrer, mas creio que de agora em diante pensarei, sem fugir, no assunto mais claramente e ainda acredito que sou muito nova para deixá-la me levar.
Quero ler Intermitências da Morte do Saramago agora.

::My headphones saved my life::


Play Dead - Björk

Darling stop confusing me
with your wishful thinking
hopeful enbraces
don't you understand?
I have to go through this
I belong to here where
no-one cares and no-one loves
no light no air to live in
a place called hate
the city of fear

I play dead
it stops the hurting
I play dead
and hurting stops

It's sometimes just like sleeping
curling up inside my private tortures
I nestle into pain
hug suffering
caress every ache

::Sábias Palavras::


"Será que, depois que a gente morre, de vez em quando acorda espantado?"
"A vida é muito rápida, quando se vê, se chegou ao fim. E ainda por cima somos obrigados a amar a Deus." Clarice Lispector, Um sopro de vida, págs. 145 e 131.


::Divagações no escuro::


Superdose de Woody Allen
Essa postagem era para ser toda sobre a morte mas não agüentei esperar para escrever sobre meu ídolo-mor e, talvez, faça mesmo sentido incluí-lo aqui. Explico: juntamente com Truffaut, Kieslowski e Almodóvar, Woody Allen é meu diretor favorito e, um dos dois que ainda vive. Acontece que ele é a pessoa que mais me faz rir nesse mundo e seria terrível, então, que simplesmente não houvesse mais novidades dele. Eu tenho que encarar o fato, contudo, de que ele está bem velhinho e que, um dia, premeditado em seu novo filme, ele partirá dessa para uma melhor (?).Mas...
Como esse dia ainda não chegou, comemoremos sua vida.
Tive uma superdose de Woody Allen nos últimos dias, assim como nas férias tive uma de Fellini. Digo superdose porque o viciado nunca admite ter tido uma overdose, e para mim certas coisas nunca são demais.
Resolvi alugar uns filmes antigos de Woody para me preparar para finalmente ver Scoop, mas devo dizer que só fico 100% satisfeita quando ele mesmo aparece nos filmes com suas neuroses e traumas. Então, para encurtar a história e simplesmente promover o cinema de que gosto, rapidinhas:
- O Dorminhoco(1973) - Como Woody está novo, com cabelos quase ruivos e muitas sardas. É o primeiro filme com Diane Keaton, sua musa que eu mais gosto. Muito engraçado, esqueça Star Wars, isso é que é filme de ficção-científica.
- Crimes e Pecados(1984) - Ou um ensaio para Match Point, sério mas ainda engraçado, com a presença carismática e divertida de Woody como um cinéfilo e diretor que não se deixa corromper pela indústria. Percebo que a figura de Woody Allen aproxima-se à de Didi do imaginário brasileiro, com relação às mulheres, um cara legal e bem mais velho que se apaixona por belas e jovens mulheres que quase nunca ficam com ele ao final.
- A Rosa Púrpura do Cairo(1985) - Para os viciados de plantão, um filme digno de corujão. Pura metalinguagem para assistir de boa aberta e sem piscar. Mia Farrow dá um show!
- Broadway Danny Rose(1989) - Cenas excepcionais, um dos mais engraçados que já vi, uma cena em especial devia marcar as cenas de comédia da história do cinema: a do galpão dos caminhões. Tão engraçada e diferente quanto Buster Keaton "dançando" no trem em A General. Queimem-me por isso os puritanos do cinema.
- Todos dizem Eu te amo(1996) - Um musical ou um anti-musical? Clássicos do jazz dançados e sapateados. A Julia Roberts tentou mas não conseguiu destruir esse filme.
- Scoop(2006) - Divertido, interessante e cheio de tiradas sensacionais. "Eu fui criado no judaísmo mas agora aderi ao narcisismo". Triste ao nos obrigar a ver a morte levando o simpático mágico. Referências ao seu filme anterior e brincadeiras com suas personagens femininas e seu sempre nova-yorkino-judeu-neurótico. Dessa vez ele não se envolve com uma jovem que tem idade para ser sua filha ou neta, ele assume isso e vira pai da heroína. Discuti muito com uma amiga também fã de Allen sobre a presença de Scarlett Johansson, ela odiou, e não gostou do filme no geral. Eu lembro apenas uma frase de um crítico da Folha, "antes um Woody Allen ruim na mão do que vários Norbits voando". Eu acredito também que a Scarlett Johansson vem estragando muitos filmes por aí com seu complexo de "ai como sou gostosa", mas acho que dessa vez deu certo, bem melhor do que a atriz de Will&Grace em Dirigindo no Escuro alguns anos atrás, o pior filme dele que já vi.
Qual a melhor trilha sonora com música clássica, Match Point, Scoop ou Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão, de 82?

O Cheiro do Ralo
"Esse cheiro ruim que você está sentindo é do ralo."
Outro dia comentávamos entre amigos: é incrível o certo sado-masoquismo que temos quando o assunto é cheiro ruim. Você sente um cheiro péssimo e fala:
-Alguém está sentindo esse cheiro?
E todos fazem força para sentir, enquanto todos não sentirem ninguém fica satisfeito, inclusive você, fora que todos tentam descrever o cheiro, parece lixo, diarréia, cocô de nenê e nojeiras afins, sem fim.
Se todos falaram do humor politicamente incorreto de Borat, eu defendo o humor de Cheiro do Ralo, realmente engraçado, divertido e inteligente, às vezes deve-se até pensar duas vezes antes de rir de certas tiradas do personagem Lourenço, mas o cinema vem a baixo e você quase se mija de rir, gargalhar mesmo.
O filme é machista? Creio que não. Pensando bem nem o personagem é machista, ele não faz da mulher um objeto e sim de uma parte do corpo dela um objeto, pode ser a bunda dela como podia ser a de um homem. O filme é devasso? Passa dos limites? Não podemos confundir os personagens e a história que o filme conta com o próprio filme em si, que não é preconceituoso, maluco, pecador nem nada disso, é inovador no humor e na estética do cinema brasileiro.
A cenografista do filme descreveu o ambiente criado como uma estética da merda, tons marrons e esverdeados pareciam emanar o cheiro fétido que vinha do ralo do banheirinho.
Certas coisas são proibidas de falar, temos, muitas vezes, que engolir o sapo, às vezes um elefante, e continuar como se nada tivesse acontecido mas e se não precisassemos calar? E se simplesmente saísse? Se não tivessemos nenhuma moral, nenhuma educação e costume a seguir? Nenhuma noção do que socialmente aceitável...Mandaríamos muita gente ir se f* e ir tomar no cu, sem acento, por favor.
Se as nossas relações com o outro já estão tão deterioradas não podemos nos abalar ou sentirmo-nos ofendidos por estar diante de um personagem que coisifica as pessoas,certo? Errado? Sei lá, esqueça isso por alguns minutos e have fun.
Fazer um filme tão bom com míseros R$300 mil é memorável, incrível e uma atitude louvável e que deve ser aplaudida de pé, se você conseguir levantar com a dor de barriga que dá depois de tanto rir.
Visite o site: www.ocheirodoralo.com.br

::Curtindo a vida adoidado::

Apesar de nunca pensar em fazer um filme a sério - eu gosto mesmo é de ver e falar de cinema, mas não de colocar a mão na massa - diferente de pensar em escrever um livro, ou plantar uma árvore, eu coleciono na memória lugares nos quais eu faria um filme, locações mesmo, lugares que me lembram de algum tempo distante no qual não vivi, que me dão uma nostalgia mágica, enchem meu ser de vida e de saudades. Quem quiser fazer uma visita a esses lugares, cito dois:
Doceria Pólen na região da Pompéia na R. Clélia, doces e ambiente maravilhosos.
Cinema Gemini, na Av.Paulista, funcionários simpáticos, freqüentadores educados e poltronas confortáveis num cinema que não se fazem mais iguais, apesar da tecnologia não ser "de ponta" a emoção é imbatível.

::A pergunta que não quer calar::

Qual a incrível coincidência que me permitiu ver o Selton Melo masturbar-se em duas cenas em dois filmes distintos em menos de um mês? (Ver Lavoura Arcaica e O Cheiro do Ralo.)