sexta-feira, dezembro 31, 2010

::Caso ou compro uma bicicleta?::
Não gosto de decisões, escolher um caminho impossibilita, na maioria das vezes, que se volte para a bifurcação anterior e veja o que havia no caminho rejeitado, que nunca mais poderá ser escolhido. A vida seria mais fácil, e talvez menos divertida, se pudessemos ter uma amostra grátis das duas, ou mais, situações antes de fazermos uma escolha. Eu tenho dificuldades imensas em fazer escolhas, sou uma pessoa indecisa e pouco decidida, não precisava nem do meu ex-orientador me dizendo isso enquanto eu me descabelava de chorar (normalmente minha reação diante de uma decisão irremediável), nem de uma psicóloga...
Pois bem, e eis-me aqui, diante de um caminho de terra cheio de bifurcações, olhando ao longe já se vê que, não importa qual caminho eu tome na primeira escolha, logo haverão outras e outras, logo em seguida.
Quando eu me inscrevi no concurso para técnico bancário, nível ensino médio, da Caixa Econômica Federal, eu sequer imaginei que eu passaria. Passei, e passei muito bem, bom, então estava me preparando para ser chamada. Afinal, emprego público não faz mal a ninguém e talvez por isso mesmo eu tenha ido fazer aquela prova num domingo de chuva de dia das mães. Os meses se passaram, eu estava belíssima no meu estágio na Bienal, que começou a ficar cada vez mais cansativo e estressante à medida que “o sistema” se revelava. Trabalhar é chato, já me ensinou um velho amigo, não importa o quanto você ache que gosta do que faz, fazer o que gosta com prazos e horários é sempre chato, ter de se preocupar com o dinheiro que cai na sua conta no fim do mês também é um pé no saco que não tenho, despertador tocando então... Crescer é chato, ser adulto é chato, quero a minha Barbie! Mas enfim, em outubro vem o telegrama, convocatória para exames de admissão. Crise.
Fui entregar os documentos milhares pedidos, assisti a uma palestra explicativa sobre salários e vales e direitos e deveres, e entrei em crise. Uma das convocadas no dia tinha sido aprovada no concurso para engenheiro da Caixa, ganharia 7mil por mês, trabalhando naquilo em que estudou para trabalhar. Crise! Afinal, para que eu estudei 5 anos numa universidade? Para sentar minha bunda num banco com ar condicionado e negar financiamentos para casa própria? Será? Chorei, é claro, nos ombros dos amigos, me desesperei, briguei com os meus pais e torci loucamente para que um mestrado em BH me salvasse da decisão. Não salvou. Fiquei em São Paulo, e já que ficaria por aqui, por que não ganhar dinheiro enquanto estudo? Afinal, dinheiro não cai do céu, ainda mais quando se faz mestrado. Respirei fundo e disse a mim mesma que tudo estava bem, trabalharia seis horas por dia, finais de semana livres, mestrado na USP, destino de dois anos traçado.
Porém, não fui considerada apta para o trabalho pelo primeiro psiquiatra que me avaliou. Talvez biruta demais para um trabalho normal demais. Quer trabalho mais normal do que banco público para uma filósofa-que-se-quer-especialista-em-estética? Quer lugar mais não-belo do que banco? Chorei de novo. Como assim, e agora, ficar em São Paulo, morando do outro lado da cidade, sem um puto para me mudar para perto da USP (sonho de seis anos)? Depois de muita espera e muitos outros convocados para trabalhar na minha frente, fui chamada para uma reavaliação com outra psiquiatra, dessa vez uma louca indelicada que me garantiu que minhas doenças psicossomáticas só piorariam trabalhando num banco e que eu deveria me contentar em conseguir uma bolsa de mestrado, isso uma hora depois de eu ter finalmente colado grau no meu bacharelado. Viva!
E então mais espera, achando que minha maluquice me impossibilitaria de ganhar um dinheirinho vendendo minha força de trabalho baratinho baratinho. E chegamos a hoje, quando minha mãe me liga e diz que recebi um telegrama. Semana que vem tenho que ir para a admissão, escolher a agência e começo a trabalhar na outra semana. Férias curtas, pensei. Devia ter ido para a praia. E agora? Agora é, como diz minha mãe no bordão dos caminhoneiros, “ouou desce”, ou, mais poeticamente com Cecília, “ou isto ou aquilo”.
Ou nem apareço lá, fico só com o mestrado, morando na ZL, dedicando-me aos estudos e a não morrer de estresse na minha casa, porque não vou desperdiçar minha santa inteligência cultivada durante anos ajudando velhinhos no caixa eletrônico, ou vou lá com minha carteira de trabalho que nem tinha, branquinha, assino um contrato de emprego público, escolho a melhor agência possível (critérios:1)perto da USP;2)no centrão;3)perto de metrô), me viro nos 30 dois anos para conciliar trabalho e pesquisa de mestrado, ganho uma graninha e depois de dois anos caio fora com uma bolsa de doutorado.
O que me interessa nesse trabalho não é só o dinheiro, confesso, mas a perspectiva de, terminado o mestrado, poder pedir transferência para qualquer lugar do Brasil, de preferência uma cidadezinha bem pequena, perto da praia, com coreto e sorveteria, e ficar nesse emprego por um tempo para justamente poder morar num lugar diferente. Às vezes acho que sou muito nova, e que nada é para sempre, assim, posso muito bem aproveitar a oportunidade para viver, pelo menos por algum tempo, tranquila e quietinha num canto escondido. Às vezes acho que o tempo é cruel, e que passa rápido, e que estar num lugar confortável faz com que fiquemos nele para sempre, ou tempo demais para poder sair dele depois. Às vezes acho que quero ficar nessa enquanto estudo e não consigo alguma coisa melhor, como cargos de professor, o que exige o doutorado. Às vezes acho que não quero ser “filósofa profissional”.
Se tiver trabalho e dinheiro, e mais o mestrado que já é certo e escolha acertada, creio eu, o que fazer também? Fico em casa, guardo o dinheiro para viagens (oh,adoro!) e “minha casa, minha vida”, ou saio de casa, vou morar perto da USP (seis anos atravessando a cidade me cansaram!), tenho meu canto quieto para estudar e andar de meia? Dinheiro na mão é vendaval!
Por enquanto, eis minha decisão: compareço, escolho a melhor agência possível, começo o mestrado sem disciplinas (não tenho outra escolha nesse caso), trabalho e estudo, e tento não me esquecer de quem eu sou (por vezes pode acontecer). Se um dia fiz uma tatuagem para me lembrar de que sim, seria difícil começar a aprender música com 18 anos e que não podia desistir, embora hoje leve mais no passatempo, agora uso um anel-lembrança de que eu não sou bancária, lembrança do caráter temporário dessa decisão. É preciso marcar para sempre o que se é, para não se perder no caminho, minha maneira é marcar no corpo, e em breve haverá uma nova nota mental em tatuagem. Sapere aude!


::Se conselho fosse bom...::
Minha avó sempre diz que devemos passar a virada do ano fazendo o que gostaríamos de fazer pelo resto do ano que começa, pois, segundo ela, é isso que acontece. Então ela diz: “Por isso fique com sua família, assim você vai passar o ano todo junto deles”. Okay, isso parece mais maldição do que simpatia. Se depender da minha mãe, preparando a primeira ceia em anos, vou passar 2011 comendo, e muito. Bom, o ano passado passei a virada no metrô lotado, em Paris, mas ainda metrô lotado, só que em 2010 de fato passei o ano todo em metrôs lotados, mas em São Paulo. De 2008 para 2009 eu passei feliz na casa da minha amiga de sempre, e foi um ano feliz, diga-se de passagem. A verdade é que, se pudesse escolher como passar a virada e isso garantisse o restante do ano, passaria a virada fazendo sexo. E tenho dito.

::My headphones saved my life::
Um pouco de otimismo para passar mais dois anos em Sampa. Descobri enquanto esperava um filme no meu adorado Cinesesc.

Outras capitais - Itamar Assumpção

Quem quiser final feliz vá pra Florianópolis
Quem quiser pura beleza se pique pra Fortaleza
Quem quiser viver a vida seu lugar é Curitiba
Quem quiser só uma ilha eu recomendo Brasília
Eu já estou cheia demais quem quiser dormir em paz
Que vá pra outras capitais

Quem quiser fugir do frio a Dutra vai dar no Rio
Quem quiser destino alegre que desça pra Porto Alegre
Quem quiser saber da história melhor lugar é Vitória
Quem quiser comer caju é claro que é Aracaju
Eu já estou cheia demais quem quiser dormir em paz
Que vá pra outras capitais

Quem quiser sossego e luz o seu rumo é São Luís
Quem quiser só vida boa que voe pra João Pessoa
Quem quiser nada de mal o seu lugar é Natal
Quem quiser longe a chatice que vá morar no Recife
Eu já estou cheia demais quem quiser dormir em paz
Que vá pra outras capitais

Quem quiser a mente zen que vá pra Belém
Quem quiser curtir duende decerto que é Campo Grande
Quem quiser beber da fonte sossegue em Belo Horizonte
Quem quiser sair da trama embarque para Goiânia
Eu já estou cheia demais quem quiser dormir em paz
Que vá pra outras capitais

Quem quiser só descansar se mande pra Cuiabá
Quem quiser ter boa vista perfeito é Boa Vista
Quem quiser levar à sério que siga pra Porto Velho
Quem quiser lavar a alma o certo é que vá pra Palmas
Eu já estou cheia demais quem quiser dormir em paz
Que vá pra outras capitais

Quem quiser sanar a dor vá sanar em Salvador
Quem quiser mapa da mina descambe pra Teresina
Quem quiser só viajar a lógica é Macapá
Quem quiser entrar no embalo que venha pra mim São
Paulo
Eu já estou cheia demais quem quiser dormir em paz
Que vá pra outras capitais

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Tentando ressuscitar

::Eu tive um sonho, vou te contar, eu me atirava do oitavo andar::
Em Assis tive um sonho bizaríssimo, talvez por conta de estar lendo o Coração das Trevas do Joseph Conrad. Sonhei que uma tribo indígena super violenta me perseguia, tinha todo um enredo, parecia que estava num filme, do tipo A Missão, misturado um pouco com aquela minissérie A Muralha, pelas serras e mares dos locais. O livro do Conrad é bastante envolvente, e as descrições me jogam direto naquele rio selvagem no meio da África, dá até para sentir o calor e a umidade. Assim que puder vou ver de novo Apocalipse Now e tentar localizar onde está o livro no filme, além da figura misteriosa interpretada pelo Marlon Brando.

::O fim e o começo::
Acabo de colar grau. Agora o JupiterWeb informa o início (2006) e o fim do Bacharelado em Filosofia. E agora, José? Quando olho para trás parece que passou muito rápido, quando na verdade sentia, a cada semestre, o tempo se arrastar. A verdade é que voou, é como se ontem mesmo estivesse fazendo matrícula no prédio da História com uma funcionária da seção de alunos extremamente antipática, enquanto davam uma placa para minha mãe escrito: "minha filha entrou em filosofia, onde foi que eu errei?". Sobrevivi a três recuperações, aos seminários de Filosofia Medieval e Filosofia da Ciência, li muito, mas menos do que eu gostaria, bem menos do que eu deveria. Tive satisfações, alegrias, tive medo. Medo de errar de novo, de não dar certo, de no fim não dar em nada. E agora acho que foi uma decisão muito acertada quando resolvi sair do curso de física para prestar filosofia, acho que escolhi bem as disciplinas que cursei ao longo de cinco anos, e que fiz bem em esperar um ano a mais e passar um semestre fora. A decisão errada foi ter cursado apenas um semestre fora e não dois, mas aí são outros 500.
Lembrarei para sempre não só das recuperações sobre Kant, Agostinho e Montaigne, mas também dos cursos maravilhosos do Prof. Terra, do curso maluquetes da arte sem nome, de Deleuze-indecifrável-para-mim e, é claro, do Apêndica da Ética de Espinosa.
A aproximação do final gerou muito desconforto no começo de 2010, mas conforme foi chegando foi ficando inevitável aceitar o prosseguimento dos estudos no mestrado, não que não seja isso que eu quisesse, mas por vezes me iludi achando que poderia dar um tempo, ir fazer outra coisa, alfabetizar adultos no Amazonas, ser guia turística na Europa, enfim, sossegar por um tempo a minha inquietação. Porém não deu nem tempo de pensar, o fim foi chegando e um novo começo teve que ser planejado rapidamente. Às vezes penso que talvez não valha a pena um esforço na busca por bolsas de estudo para fazer o mestrado na França, às vezes acho que o que eu quero encontrar por lá não mais existe, também pode não ser a cura para esse desassossego.
Mas não sentirei saudades dos corredores, dos professores, das amigas da secretaria, do lanche de berinjela da Tia Bia e do gelo da sala pró-aluno. Meu plano de sair da cidade de São Paulo não deu certo, e então continuo por lá. Mas uma porta se fecha. O bacharel. E quando vejo as disciplinas que serão oferecidas para a pós no próximo semestre, para começar com chave de ouro o mestrado, dou de cara com apenas quatro disciplinas, nos campos mais problemáticos para mim e mais distantes da minha pesquisa: lógica, ciência, política e medieval. E agora, José? E nada de disciplinas mais interessantes na Unesp ou Unicamp para alunos externos. O que me resta é inscrever-me no Cepê (finalmente, após 6 anos, a idade, afinal, me chama), acompanhar como ouvinte alguns cursos nas artes plásticas e história, e ler muito, ler muito mesmo, montar um projeto para tentar uma bolsa na Fapesp e dedicar-me sem descanso a minha pesquisa.


Formando
Enformando
Desformando
Informando
Desinformando


::Quero ser Carrie Bradshaw::

Carrie em Paris com o Russo, última temporada, ele a deixa esperando no hotel usando o vestido mais lindo da face da Terra, um bolo magnífico.



::My headphones saved my life::

Enguiço - Adriana Calcanhoto

Eu, hoje,ando atrás de algo impressionante
Que me mate de susto
Um impulso, um rompante
Que é pra me desviar desse mar de calmante
Rodei New York inteira e não te achei
Você mora em Belém

Eu sempre andei atrás de alguém pra andar na frente
Ah, eu quis me apaixonar assim perdidamente
Um engano redondo
O ciúme intuiu meio tarde demais
Ah, o meu orgulho já perdeu teu endereço
Mas o meu coração não
Eu não
Eu não esqueço

Eu, hoje, ando atrás de algo impressionante
Que me mate de susto
Um discurso, um romance
Que é pra me desviar desse mar de calmante
Rodei Belém inteira e não te achei
Você mora com alguém...

Eu sempre andei atrás de alguém pra andar na frente
Ah, eu quis me apaixonar assim perdidamente
Um engano redondo
O ciúme intuiu meio tarde demais
Ah, o meu orgulho já perdeu teu endereço
Mas o meu coração não
Eu não
Eu não esqueço

O meu orgulho já perdeu teu endereço
Mas o meu coração não
Eu não
Eu não esqueço