sexta-feira, setembro 27, 2013

Frances Eu

Vi no cinema um dia um trailer de um filme em preto e branco, com uma garota meio estranhona que dançava pela rua ao som de uma trilha sonora contagiante. Parecia um filme feliz. Mais, parecia algum filme novo do Woody Allen.
Não demorou muito para descobrir que o filme não era de um dos meus diretores favoritos, mas sim do cara que fez um dos melhores filmes dos últimos tempos, Noah Baumbach, diretor de A Lula e a Baleia.
O tempo foi passando e as salas de exibição foram sendo reduzidas, até que criei vergonha na cara e fui ver o filme. Até então, já tinham saído inúmeras críticas nos jornais e nos sites, e amigos já vinham comentando (um em especial já vira o filme duas vezes).
No maior estilo Flaubert eu digo: Frances Ha sou eu. E é você, se você tem lá os seus 20 e tantos anos, tem ensino superior completo e mora numa grande cidade.
Frances tem 27 anos, se formou em uma boa universidade, saiu da casa dos pais para morar em Nova York, mas não consegue se decidir sobre o que quer fazer da vida. Ela diz que quer ser coreógrafa, mas o que faz para isso? Ela dá aula de balé para crianças na academia de um grupo de dança. Ela perde o emprego, oferecem a ela um outro, como secretária, que ela recusa, e então vai ser garçonete e faz-tudo em sua antiga faculdade com atuais estudantes, passando a morar no dormitório dali. Ela gasta o que tem e o que não tem para passar um fim de semana em Paris, no qual ela dorme o dia todo. Ela cai na rua enquanto caminha, e se levanta rapidinho para que ninguém perceba.
Frances é um tipo de looser dos filmes de Hollywood, aqueles de quem gostamos, no estilo de Miss Sunshine e Juno. Ela me é tão próxima…
No fim, ela dá certo, consegue montar uma coreografia sua. Consegue pagar aluguel na cidade para morar sozinha. Consegue aceitar o casamento de sua melhor amiga.
Ela é o retrato dos filhos da crise ao redor do mundo. Dos filhos das grandes metrópoles. Dos filhos de uma classe relativamente rica financeira e intelectualmente, mas que não tem sobrenome, não tem influência. Ela é o retrato de pessoas que não conseguem ter certezas que direcionem sua vida. De pessoas que são um pouco perdidas mesmo.

imagem do site nerdist.com

Há ainda um jantar no qual uma das presentes diz a Frances: “ah, você tem 27, parece mais velha. Mas mais infantil.”