terça-feira, novembro 29, 2011

Contra Sr. e Sra.Smith: pelo casamento vanguardista.


Casamento é o vínculo estabelecido entre duas pessoas, mediante o reconhecimento governamental, religioso ou social e que pressupõe uma relação interpessoal de intimidade, cuja representação arquetípica é a coabitação, embora possa ser visto por muitos como um contrato.


  Outro dia chegou aqui em casa um convite de casamento, bonito e com letras invejáveis, para o seguinte destinatário: Sr. João da Silva e Sra. (nomes ficticios,ok? mas estava o nome do meu pai e sra.) Bom, sra., eu suponho, é a minha mãe. O que isso quer dizer? Para o Sr. João da Silva e sua senhora? No estilo das novelas de época? Ou, o que de fato dá na mesma, Sr. e Sra. João da Silva? Até onde eu saiba o nome da minha mãe não é João da Silva.
   Okay, podem me dizer que sou uma chata e que teimo com qualquer coisa, que o mundo é assim, ninguém mandou casar e colocar o sobrenome do marido, mas poxa... um pouco de avant-gardismo, por favor! Estamos no século XXI e, por mais que o casamento pareça uma instituição um pouco retrógrada, depende de como nos relacionamos com ela. Minha mãe tem nome, e, se fosse comigo, eu devolveria o convite, dizendo que lá não tem nenhuma Sra. João da Silva, ou fazia meu pai ir sozinho à festa, mas ele não tem culpa, afinal. Em que momento um mulher que se casa perde seu nome e vira Sra. Nome do Marido? Pode parecer uma besteira, mas por trás de um pensamento tão bem espalhado pela sociedade se encontra uma ideia muito perigosa: a anulação da mulher.
   No Facebook, alguns estão postando uma campanha contra mulher mercenária, que não quer trabalhar e nem estudar e vai procurar marido rico. Falar mal de tal situação é tão problemático quanto dizer que os alunos da USP são filhinhos de papai porque não precisam trabalhar. Ninguém sequestrou um cara, ameaçou a família dele para ele casar com uma mulher que não trabalha, ele casou e casam-se até hoje porque os dois querem e sabem que assim será. E por que ninguém questiona e faz campanha contra homens que se casam para ter uma segunda mãe, para não ter que cozinhar, lavar e passar e cuidar de si mesmos? Nenhuma mulher foi obrigada a casar com homens assim, e ainda se casam, como falei anteriormente. Mas parece bem mais engraçado fazer piada com mulher, não é?
   O problema não é o casamento em si, mas as interpretações que se fazem dele. O casamento vem impregnado por grande machismo em nossa sociedade. Coisa horrorosa é aquela camiseta com um noivo e uma noiva e a frase Game Over, qual game, meu bem? Você mal sabe que talvez esse seja o chefão, para você chegar nesse ponto tem que passar de fase muitas vezes, e aí sim pode ser um fechar do jogo se você vencer o chefão, o desafio de uma vida a dois.
   Ao mesmo tempo que a tradição do preconceito e da estrutura patriarcal da sociedade persistem, aumentam o número de pessoas que não se casam e que não desejam se casar. Em parte porque acreditam ser o Game Over das múltiplas possibilidades do amor livre, achando-se muito progressistas eles só fazem reafirmar a tradição, sem subverter em nada a instituição do casamento. Em parte porque acreditam que não vale a pena o esforço de ceder a diversos desejos e sonhos em nome de uma união duradoura, esse é o fim da crença no amor, o fim do romantismo em seu ideal, fruto, muitas vezes, do egoísmo e ego-centrismo com o qual somos educados, da intolerância e impaciência para a discussão visando ao acordo. Há ainda aqueles que defendem que a causa homossexual está equivocada em lutar pelo casamento gay, pois esta é uma instituição falida de uma sociedade preconceituosa com a qual não se deve compactuar, esse motivo também mereceria um post, mas além de ignorar a liberdade que é o real motivo da luta, a liberdade de escolher se casar ou não, esse argumento ainda ignora o poder de mudança que há na assimilação do casamento gay pela sociedade.
   Mesmo que tomemos o casamento unicamente como uma instituição patriarcal, capitalista, que visa a manutenção da propriedade privada (ver o brilhante texto de Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado), não consigo acreditar que se, abolido, não surgiriam duplas de pessoas que se unem por laços de sentimentos e que coabitam, designadas assim por outra nomenclatura. Por mais revolucionário que se seja, não posso acreditar no fim do amor ou qualquer outro nome que se possa dar a um sentimento que impele duas pessoas a se unirem.
    A tradição, os costumes que passam de gerações para gerações não precisam ser anulados. Carecemos sim, e é isso que quero dizer, de uma penetração de determinados avanços em esferas ainda fechadas. O casamento não desaparece quando livre para casais homossexuais, não desaparece quando duas pessoas mantem seus nomes, e cada um seu Facebook, vale lembrar. O casamento não desaperece quando os dois trabalham, nem quando o homem fica em casa e a mulher trabalha, nem quando os dois ganham na Mega-Sena e não precisam mais trabalhar. O casamento não desaparece quando é ele o mais importante da festa e não ela, quando desejamos parabéns aos dois ou boa sorte a ela (ah, só para dizer a quem não sabe que existe uma tradição, e uma etiqueta!, de dizer parabéns à noiva e boa sorte ao noivo), assim como não desaparece se o casal não tem filhos.
   O casamento, também ele, está precisando de uma revolução copernicana. O Sol continua existindo mesmo depois que passamos a entender que é a Terra que gira em torno dele e não vice-versa. Como um dia paramos para nos perguntar o que é a arte, abandonando a busca pelo belo, quem sabe é hora de nos perguntarmos: o que é o casamento?

sexta-feira, novembro 11, 2011

USP



Bom, no dia de hoje, nas últimas semanas, basta escrever USP no título para todos saberem do que se tratará a seguir. E eu nem sei direito por onde começar, mesmo que tenha tido bastante tempo para pensar sobre os últimos acontecimentos. Acho que vou começar então por criticar exatamente meu início de texto, porque aí já reside um dos problemas da crise. Agora seja na internet, seja na televisão, seja nos jornais impressos, todo mundo quer falar sobre a USP, todo mundo quer dar opinião, dizem que a universidade se mantém com dinheiro de todos, mas... espera aí, e até então, a USP se mantinha com o dinheiro de quem? E quem estava interessado em saber o que estava acontecendo lá dentro, como é a vida e o cotidiano dentro da universidade?
Como brincou o José Simão, o pessoal só leva o cachorro para passear na Cidade Universitária, usa como atalho do P3 ao P1 e vice-versa, vai para lá fazer uma sessão diferente da academia... Mas ninguém nunca esteve nem aí para o fato de eu e muitos outros milhares de estudantes estarmos lá estudando com o dinheiro público, não é? E todo mundo quer dar pitaco justo agora, e dizer que lá só tem filhinho-de-papai, que os pais não sabem educar etc etc etc!
Toda a história que deu no que deu o mesmo pessoal que está falando pelos cotovelos nas redes sociais e por aí nem sabe de onde começou. O que a televisão diz (e não vamos só avacalhar a Globo, a Record e o SBT também prestaram seus desfavores, que eu tenha visto)? Aluno da USP morto no campus (caso que ainda não deu em nada, mas todo mundo se comoveu, diferente do descaso quando o aluno da filosofia que morreu do nada no meio da Cidade Universitária por falta de socorro), três estudantes presos por fumarem maconha no campus, estudantes se rebelam contra presença da USP no campus, LOGO, os alunos reivindicam o direito de fumar maconha livremente. Uhu! Falta mesmo aula de lógica e de ética e de muitas outras coisas, mas a Veja acha que filosofia no ensino médio é só para doutrinar criancinhas para o socialismo... Já misturo coisas, mas não é em vão.
Vamos lá, eu, estudante da USP há sete anos, não sou a favor da greve e nem da ocupação da reitoria, e sou totalmente contra o convênio com a Polícia Militar. Não tenho vergonha de nada disso, pois tenho argumentos para minhas posições, quem dera quem não tivesse argumento tivesse vergonha de vir a público declarar rótulos sem fundamento e palavras de ordem violentas, mas enfim, não se pode esperar mesmo que o bom senso seja a coisa mais bem distribuída no planeta. A greve esvazia a USP e não gera um espaço e tempo para o debate como muitos acreditam, pessoas como eu, que moram a 20, 30km da Cidade Universitária deixarão de pagar a condução para ir para a faculdade e não ter aula, ainda mais no fim do semestre, quando muitos (sim, nós estudamos) estão preocupados em colocar suas leituras em dia. A ocupação foi feita à revelia da decisão de uma assembleia e eu ainda acredito que a assembleia represente os estudantes na universidade, por isso quando a assembleia do meu curso resolveu pela greve eu não vou furar a greve, quem é contra a greve que aparecesse na assembléia para votar uai.
A PM não traz tranquilidade a ninguém, quisesse melhorar a segurança no campus, contratasse mais pessoas para a guarda universitária, mas não, insiste-se na terceirização da segurança “patrimonial” das faculdades e a guarda está cada vez menor e despreparada. Esqueceram que a USP é uma autarquia, que tem independência frente ao governo, e que a PM representa sim um governo, mais do que isso, o reitor resolveu colocar entre os alunos, professores e funcionários aqueles que, para todo mundo que compareceu em boas aulas de história, não deixaram boas lembranças nos anais uspianos. Aí, para melhorar a situação, por conta de um errinho-besta-que-é-isso, o Golpe de 64 vira Revolução de 64. Esse reitor que nem escolhido pela universidade foi, que devia ficar na dele, bem quietinho, ter vergonha da forma como foi parar por lá e por ter sido considerado persona non grata pela própria faculdade de origem, saiu-se melhor que a encomenda de Serra e Alckmin.
Mas ninguém quer falar de toda essa bola de neve que vinha descendo ladeira a baixo ganhando sempre mais velocidade, não, ninguém queria saber como estava a tão famosa Universidade de São Paulo sob o reitorado do Sr. Rodas e após o convênio com a PM. Mas aí quando uma situação permite que se diga CHEGA a tudo isso, ah, aí é o bafão do mês. Vai estar na Retrospectiva 2011. O que aconteceu com os três que estavam fumando maconha no estacionamento da FFLCH foi apenas um mote, um momento propício para que todos mostrassem sua indignação frente à presença da PM, frente ao reitor Rodas. Vamos lá, quantas vezes você viu alguém sendo preso por fumar maconha? Eu nunca vi, e se fuma maconha por aí numa boa, mente quem diz que não, fuma-se na porta do Mackenzie, em pleno bairro do pessoal diferenciado, ao redor das estações de metrô, não estou dizendo que sou a favor da maconha nem que fumo, que se danem tais considerações, o ponto é, a ação da PM, por comparação, foi desmedida. Até aí, para mim, foi uma coisa.
A coisa começou a ficar ruim mesmo e mais grave mesmo quando da reintegração de posse da reitoria. Em sete anos não foi a primeira nem a segunda ocupação de reitoria que eu vi, mas foi a primeira vez que vi tamanho circo. Esperasse a próxima assembleia já agendada e os caras que entraram lá contra a assembleia de lá sairiam numa boa, se até a meio-maria-mole-molenga da Suely Vilela conseguiu uma saída razoável da reitoria, o Sr. Grandino precisava mesmo de todo aquele aparato policial? Aí a desmedida e o exagero se mostraram gritantes o suficiente para que eu não pudesse mais assistir a tudo calada. Por isso fui à assembleia do curso de filosofia, fui ao ato de hoje no centro da cidade, que não foi sequer mencionado pelo formador-de-certa-opinião Jornal Nacional. Quanto aos fatos e comentários a eles, paro por aqui.
A questão que também deve ser posta é: e o outro lado? Como tem sido o lado dos estudantes? O Antonio Prata teve razão em seu texto de 09/11/2011 na Folha de S.Paulo ao chamar a atenção ao exagero de um grupo de estudantes quando fazem reivindicações, concordo plenamente. E é esse exagero que torna os estudantes hoje tão distantes da sociedade. Temos que parar e pensar por que a sociedade que nos financia está tão distante de nós, por que temos contra nós tamanha violência, expressa, por exemplo, nas mídias sociais. Que a população converse na rua sobre o que acontece na USP, na maioria das vezes, nos avacalhando, é sintomático. Por isso também quis fazer parte de um ato no centro, onde muitas pessoas trabalham e tomam condução, para ter ali uma oportunidade de diálogo, de mostrar que nossa demanda não é por maconha.
As pessoas do prédio, os ex-colegas de trabalho (sim, sou aluna da USP e trabalho, tempo para o sonoro OH!), minhas avós, poxa, quase todos estão falando dos alunos da USP coisas muito distantes da realidade. Os rótulos vão de filhinhos de papai que não precisam trabalhar a maconheiros e vagabundos. Convenhamos que o fato de alguém ter dinheiro para não precisar trabalhar durante a faculdade não diminui em nada sua verdade política, né? E se a Fuvest é o vestibular mais concorrido do país e a USP a segunda melhor universidade da América Latina não pode ser porque sua comunidade é formada apenas por vagabundos e maconheiros. Que haja baderneiros, vândalos, extremistas, vá lá, a USP não é separada do resto do mundo, é parte da sociedade como é no clube, na torcida de um time, num grupo escoteiro, tem de tudo um pouco, ou muito, mas tem de tudo, não dá para generalizar.
Por que no Brasil não se pode pensar que a classe dos estudantes é privilegiada nas lutas sociais justamente por ter menos obrigações sociais? Onde foi que se perdeu a compreensão de que a juventude, justamente por não ter de lidar com casamento, filhos, trabalho e responsabilidades outras, pode ser um movimento que auxilie, por exemplo, a luta dos trabalhadores, dos sem-terra, das feministas, dos homossexuais? O fato de uma pessoa ter tempo para numa quinta a tarde poder sair as ruas gritando contra a violência, contra o aumento da condução etc não devia ser visto com maus olhos, e muitos países já entenderam isso há anos, para o bem ou para o mal. Um jovem estar usando moleton da GAP, primeiro, não quer dizer que ele tem dinheiro, pois no camelô da esquina de casa vende um igual àquele, segundo, não deve desautorizar sua demanda. Na realidade muito do que se faz no Brasil vem de mandos e desmandos de pessoas que nem eu nem você elegemos e que tem muito dinheiro, mas ninguém reclama.

quarta-feira, outubro 19, 2011

Quando a esmola é muita...


Não dá para ficar muito feliz com os progressos da megalópole paulistana. E ao mesmo tempo o queridissimo Kassab e o excelentíssimo Alckimin devem estar tomando whisky e respondendo à minha colocação (porque sei que secretamente eles leem meu famoso blog): esse povo, quando a gente dá a mão, quer o braço.
Pois é isso mesmo.
Estou eu super feliz por estar fazendo o trajeto metrô Tatuapé- metrô Butantã em lindos 30 minutos, às vezes menos quando a linha vermelha colabora, às vezes mais quando um altruísta de araque resolve se matar nos trilhos do metrô. Pois bem, estou alegre e contente até certo ponto. Segundo meu adorado Google Maps a distância entre o metrô Butantã e a Faculdade de Filosofia é de 2,5km. E aí é que rola a perda de tempo, meu caro Kassab.
Sim, vou em 30 lindos minutos de metrô e sei agora o que são os 60 minutos entre as 20 e as 21 horas*, mas e esses 2,5km? Teletransporte? Qual a resposta de nosso queridíssimo Kassab? SPTrans neles. Inventaram uma linha descarada de ônibus, pelos mesmos absurdos TRÊS REAIS, que faz o trajeto do metrô até o campus. Detalhe, na entrada do campus há o circular, ônibus gratuito, e do metrô até a entrada são lindos mil metros, 1km, aos quais voltarei a seguir. Ou seja, pague TRÊS REAIS para fazer 1km, é o quilômetro mais caro do mundo em transporte coletivo, tenho certeza (Wikipedia, me ajuda!).
Para tudo há solução, aparente. Cansada de esperar o secular no ponto da entrada do campus por minutos a fio, cansada de caminhar um quilometro para ir e um para voltar muitas vezes sem companhia, eis que me lembro de minhas lindas bicicletas estacionadas-mofadas no bicicletário do prédio. Com a ajuda de uma amiga de duas rodas, lá fui eu para o Butantã, num dia de chuva, levar minha bike de carro para uma revisão no bicicleteiro, fiz meu cadastro no bicicletário do metrô e pimba! Uma semana depois estava linda e bela, cabelos ao vento, fazendo os 2,5km entre metrô e faculdade de graça.
E...
surprise, surprise! De um dia para o outro mudaram as regras de utilização do bicicletário. Quando do meu cadastro poderiamos deixar a bike por lá no máximo por três dias. Inventaram que o máximo que poderia deixar seria DEZESSEIS HORAS. Isso mesmo meu caro Alckmin, absurdas 16 horinhas. Bom, eu entreguei minha bike às 20h de hoje, deveria ir buscá-la para passear ao meio-dia de amanhã. Só que amanhã eu entro às 18h na aula, portanto pegaria a bike umas 17h, e aí? E nos finais de semana? Como assim dezesseis horas? Enquanto eu me indignava com pessoas que não tinham culpa, um dos funcionários do bicicletário mantido pela maldita Parada Vital (MORRAAAAAAAA) disse que as pessoas deixam de manhã, vão trabalhar de metrô e buscam a noite.
- Dãããããã!
E quem trabalha ou estuda perto do Butantã? Faz o que? Diga meu caro Alckmin...
Vai a pé ou paga R$3 no busão.
Oh God, e ainda temos para o ano que vem a promessa do pequeno filósofo Chalita, o sem-sal-sem-açúcar-novo-picolé-de-chuchu Haddad e o excelentíssimo amigo da Cohab Netinho de Paula, que nada tem a ver com minha família, que fique bem claro.

*Até pouco tempo atrás, na graduação, eu achava que não existia nada entre as 20 e as 21 horas a não ser a gigantesca e sem fim Rebouças!

segunda-feira, outubro 10, 2011

Vejo novela sim, e daí?

Já tem algum tempo que escrevi esse texto em meu caderninho para passar a limpo para o blog, mas hoje achei o dia ideal para falar no assunto, quando estou desolada por perder o capítulo da novela das nove logo num momento essencial para a trama.
De onde tiraram a ideia de que se você estuda filosofia, sociais, enfim, humanas "meio-intelectuais-meio-de-esquerda", como diria meu querido Antonio Prata, você não pode assistir à televisão? Pior: de onde saiu a ideia segundo a qual pessoas inteligentes e cultas (cof cof) não assistem à Globo e semelhantes? Toda e qualquer coisa que a maioria das pessoas faça é estritamente proibida aos integrantes da inteligentsia, seja comer um certo prato num certo restaurante, seja ouvir Beyoncé, sob o risco de ser tachado de futil ( o horror,oh!). Luciana Gimenez, Pânico na TV e novelas da Globo são as drogas mais pesadas.
Okay, me excluam do grupo dos privilegiados de inteligência, eu não me importo. Às vezes cansa viver no mundinho intelectualóide e só falar coisas profundas (cof cof). Desde a refilmagem de Ti Ti Ti ano passado no horário das sete, que acompanhar as tramas das novelas televisivas me interessa. Não todas, é verdade, é como filmes e séries, ué, nem todos me agradam. Ti Ti Ti me divertia muito, eu ria loucamente, e quando dela fiquei orfã aderi ao Cordel Encantado pela beleza, trilha sonora e tema nordestino, à la Hoje é dia de Maria, e agora estou com a Fina Estampa, previsível mas com personagens cativantes. Ah sim, O Astro não tem sido nada mau, com estilo kitsch e num horário bem mais atraente que as demais.
Podem me crucificar, mas dei pulos de alegria quando soube do reprise de Mulheres de Areia no Vale a Pena Ver de Novo. Poxa, o Tonho da Lua marcou minha infância. Afinal, me digam o que alguém tem de tão especial e "diferenciada"  que a impede de sentir a mesma atração por tramas novelescas que outros milhares de pessoas? Ok ok ok, há que se resguardar da alienação (cof cof) e se proteger das ideologias consumistas da publicidade global. Mas não é ruim se deixar levar por alguns minutos do dia, e não por toda a vida. Até agora ninguém me convence de que novelas emburrecem pessoas.
Chega da torre de marfim que está na hora da minha novela.

segunda-feira, outubro 03, 2011

Hell's Kitchen


Ainda está para nascer alguém mais desajeitada na cozinha do que eu. Se aquele Gordon Ramsay, louco de tudo, aparecesse na minha casa enquanto faço miojo, ele gritaria os mais sujos vitupérios contra mim.
Nesse último sábado eu tinha várias possibilidades do que fazer, ir ao cinema na sessão cult aqui do lado de casa ver Gainsbourg, ir para Campinas ver um cover das Spice Girls, levar minha bicicleta para passear no Butantã e deixá-la por lá, mas não, não foi o que resolvi fazer. E tudo isso tem uma explicação: meu pensamento guloso. Resolvi que ia fazer donuts, iguais aos do Dunkin' Donuts, que no fim ficaram Donkey's Donuts, mas enfim.
Já fazia um tempo que estava obcecada pela ideia de donuts, aqueles recheados com maçã e canela, creme bavária e por aí vai... Comi um no Centro Cultural da Vergueiro, apesar de ser uma facada, e o da padaria do Pão de Açúcar não fica muito atrás não, no gosto, porque é bem mais barato. Lembro quando as lojas do Dunkin' Donuts estavam por todos os lados, e comprávamos de caixinha, uma que parecia um ônibus, cheio de gostosuras. De uns tempos para cá eles são raros, e caros, mas ainda deliciosos. Então eu resolvi colocar a mão na massa e tentar fazê-los em casa. Nada que uma busca no Google "receita de donut igual dunkin donuts" não resolva, pensei eu.
Confesso que há em meu currículo algumas experiências bem sucedidas. O creme brullée (inspirado em Amélie Poulain) deu certo desde a primeira vez em que fiz, os complicados macarons (inspirados no filme da Marie Antoinette), depois de 18 horas na cozinha, também deram certo. E esses são os únicos exemplos que posso dar, porque, de resto, sempre deu tudo errado. Mas brasileiro não desiste nunca, e como sou muito mão de vaca, queria economizar e comer algo gostoso ao mesmo tempo.
Fui ao mercado com lista de ingredientes em mãos me sentindo super bem, perguntando onde ficava o fermento biológico e a fécula de batata, o que demonstrava meu desconhecimento na localização geográfica no mercado, mas também minha disposição em ser confeiteira. Primeiro, a massa tinha cheiro de lactobacilos vivos, sabe, quando você cria em casa para tomar todos os dias o resultado de seus metabolismos acelerados? Não? Bom, eu sei, mas isso é outro post. Segundo, eu comecei a usar a batedeira, que deve ser, no mínimo, da época em que meus pais de casaram (certeza que era da lista de casamento), eu dei as costas para a massa 1 segundo, e a batedeira soltou da base, girando loucamente por toda a cozinha, espalhando massa com cheiro de lactobacilo para todos os lados.
Para encurtar a história eu só vou dizer que deixei a massa descansar duas vezes, seguindo a receita, enquanto eu não tinha descanso, limpando a cozinha e lavando três pias cheias de louça. Gastei meia garrafa de óleo (porque além de tudo aquela massa chupava um óleo danado) para fritar uns 20, VINTE, donuts que ficaram, tchan tchan tchan tchan: HORRÍVEIS!
Bom, coloca mel aqui, nutella ali, hoje, segunda-feira, eles se acabaram, finalmente. E eu devia ter ouvido minha mãe e ter pego o dinheiro que gastei no mercado com fermento, leite, ovos, fécula de batata (que ainda não sei bem do que se trata, mas que deve ser feito de batata) etc e ter ido gastar na loja de donuts mas próxima, ainda com recheio de maçã com canela.

quarta-feira, setembro 21, 2011

Melancholia - Lars Von Trier

The Lady of Shalott - 1888 - John William Waterhouse

Composition II in Red, Blue, Yellow - 1930 - Piet Mondrian  
 
Da série Voom Portraits - Bob Wilson (http://www.youtube.com/watch?v=EJFHi4qEZSE) 


Antes de começar: o prêmio de melhor atriz em Cannes devia ter sido da Charlotte e não da Kirsten; sigamos, pois eu também quero dar meus pitacos sobre o filme mais comentado no facebook, pelo menos pelos meus amigos, dos últimos tempos.
Os filmes de Lars von Trier nunca permitem que saimos deles ilesos, seja do cinema, seja do final do DVD. O primeiro filme do diretor dinamarques que vi foi Dançando no Escuro, por conta da Björk, e a partir daí foi só amor, e ódio! Não tem um filme dele que eu não tenha gostado, não tem um filme dele que eu não tenha odiado. É assim. Em O Anticristo existe um machismo que não me permitiu compactuar com o filme, o machismo não era apenas no tema tratado pelo filme, era pela posição que o próprio filme assumia em relação ao tema. Mas as imagens são tão incríveis e a direção de atores tão perfeita que os sentimentos por ele gerados me atormentaram por dias. Nunca me esqueço do momento em que assisti pela primeira vez cada filme de Lars von Trier, e cenas de todos eles vivem povoando meus pensamentos e sonhos, tamanha força de suas imagens.
Da trilha sonora à paisagem, do começo ao fim, Melancholia é tocante. Desesperei-me, e se fosse comigo? Eu seria muito mais Charlotte do que Kirsten, duas irmãs que reagem de maneiras opostas à chegada do planeta, e de maneiras completamente diferentes da que reagem à vida cotidiana. Não comprei a depressão e o auto-aniquilamento de Kirsten, não me pareceu muito real, embora saibamos que as pessoas comportam-se de diversas formas frente à depressão, muitos disseram ter ficado chocados com o realismo de sua interpretação, eu não diria exatamente realismo.
O filme é belo, com lindas imagens, com Tristão e Isolda de Wagner, com início que lembra a série Voom Portraits do Bob Wilson, ainda mais soturno, e o final revelando o melhor filme apocalíptico já visto no cinema. Não posso esquecer da cena na biblioteca da casa, uma grande crítica à racionalidade moderna, quando Kirsten troca as imagens expostas nos livros nas estantes de pinturas concretas e cubistas por pinturas figurativas pré-rafaelitas e românticas. É o cansaço contra a racionalidade e o esquematismo do mundo em que vivemos, talvez seja a melancolia, a saudade de outra beleza.


domingo, setembro 18, 2011

24 num corpinho de 40

Se você não tem senso de humor e acha que o nojento não em graça, nem continue lendo, depois não diga que eu não avisei. Essa coisa de não podermos falar sobre certos assuntos que seriam íntimos demais até com a desculpa de que isso não interessa a ninguém é um saco e uma grande mentira.
Dia 17 de agosto foi meu aniversário, uma quarta-feira, e ele foi, por assim dizer, um péssimo dia, explosivo. No dia 16 foi-me reagendada uma colonoscopia. Ótimo, nada melhor do que tomar no cu como presente de aniversário, não é mesmo? Passei a segunda toda só comendo sopa e tomando água, e a terça era para ficar em jejum, com aula de manhã, metrô cheio e tudo o mais. Minha mamis foi me encontrar na USP para ser minha acompanhante, vocês não acham que eu levaria meu namorado para um programa desses,né? E não há amigos para isso, definitivamente não.
No HU, Hospital Universitário, é que começou a grande diversão. Das 12h às 17h eu fiquei tomando um líquido de gosto medonho e andando para lá e para cá para ele fazer efeito, qual seja, defecar até a alma. Objetivo: chegar a defecar com a mesma cor do líquido, ou seja, um amarelo quase transparente. Eu estava minguando, com sede, com fome e enjoada, até o fluxo inverter, o que era para sair por baixo, começou a sair por cima. Mas enfim cheguei a um final feliz, chegando ao objetivo, depois de entrar e sair do banheiro umas 20 vezes.
Quando a enfermeira começa a injetar o sonífero parece que tudo valeu à pena, muito gostoso, olhei para ela e disse:
- Humm, isso faz efeito rápido, hein?
Bom, depois de uma hora eu pude comer, mas não conseguia sequer abotoar as calças. Eu não me lembrava (afinal, já fiz duas vezes esse exame antes), mas eles colocam um gás para inflar sua barriga, e... tudo que entra, tem de sair...então o dia seguinte foi ainda pior.
Digamos que tive um aniversário bombástico. Pela manhã eu já não conseguia dormir tamanho o barulho que minha barriga fazia, eu tinha um alien dentro de mim. Na aula da manhã, com cerca de dez alunos na sala, todos insistiam em procurar de onde viria aquele imenso e incessante ruído. Eu, claro, fazia cara de paisagem. Era tão alto que o cara que sentou do meu lado, depois de cinco minutos de aula, saiu de mansinho para outra cadeira, e isso tudo ainda não eram peidos, apenas o barulho do alien se mexendo.
O auê todo só foi acabar dia 18, quando eu, já estava com 24 anos.

terça-feira, setembro 13, 2011

Você sabe como o caju nasce no pé?

Uma primeira viagem pelo nordeste

Aproveitando a abençoada USP ter me dado, como todos os anos, uma folga de uma semana no feriado do 7 de setembro, fui-me ao nordeste pela primeira vez. Destino: Fortaleza. Escolhi a capital do Ceará por se tratar da morada de meu dignissimo amigo Lucas, de quem sentia muita falta desde minha partida da França, onde morávamos muito mais próximos. Quando eu estava em Paris e ele em Le Havre, 197km nos separavam, hoje, eu aqui, ele em Fortaleza, 3.063km nos distanciam, eita lonjura! Só mesmo com um feriado de uma semana e uma grana da saída do banco.
Fui para passar uma semana, passei dois dias em Jericoacara, o paraíso na terra, um dia todo em Canoa Quebrada e os outros em Fortaleza, aproveitando o feriado para ir com Lucas para Lagoinha, uma praia muito bonita. Mas o que mais me chocou não foi a beleza espetacular das praias e lagoas, e sim a minha ignorância frente a muitas coisas, como, por exemplo, a maneira como o caju cresce no pé. Bom, eu nem sabia reconhecer a árvore do caju, nunca tinha visto, e podia jurar que era a castanha que o prendia na árvore, doce engano. Doce mesmo, comi muito caju, tirado da árvore, e o gosto é muito diferente do que encontramos por aqui.
Não só meus conhecimentos sobre botânica foram aprimorados, mas os meus preconceitos foram derrubados. Em São Paulo, paulistas como eu, daqueles que só veem vacas e galinhas pela televisão, acreditam, ou eu pelo menos pensava, muitas coisas erradas sobre o nordeste, e o nordeste como um todo. Assim como alguns veem na Africa um único país com uma única cultura, muitos veem o nordeste como uma unica coisa. Sim, eu conheci o Ceará e a área litorânea, não posso imaginar como deve ser o sertão, Juazeiro do Norte e tudo o mais, mas me surpreendi com a diferença entre o que eu imaginava ser Fortaleza e o que de fato encontrei.
Primeiramente preciso falar da simpatia do pessoal, por mais que não soubessem ajudar na direção desse ou daquele lugar, todos foram muito simpáticos e educados comigo, começavam a conversar, perguntar de onde eu era, essas coisas. E a simpatia, obviamente, só aumentou em Jericoacara, uma cidadezinha bem pequenina, uma vilinha no mar, super preparada para o turismo. Fortaleza também, está mais preparada para o turista do que São Paulo.
Fortaleza é uma cidade imensa, crescendo loucamente, para todo canto há prédios construindo e grande crescimento horizontal também, muita gente morando em casas. Há trânsito, sim, não muito diferente de Sampa, e muitos semáforos em tudo quanto é cruzamento. Outra curiosidade é que os ônibus não tem diferença de nome de acordo com o sentido, é o nome da linha e pronto, cabe a você adivinhar para qual lado estão indo, achei bem engraçado isso.
Como quase todo mundo que visita Jericoacara, eu quis ficar por lá, trabalhar de garçonete em algum lugar e morar na vilinha, mas o mundo não é bem assim, né? A cidade é fofa, mas é cara, por mais que estivessem precisando de professores por lá, teria de morar na cidade vizinha, porque até o mercado é mais caro, não quero nem pensar o aluguel, né?
Ah, já ia esquecendo de outras curiosidades de Fortaleza, a obsessão geral por música ao vivo em todos os bares e barraquinhas de praia, segundo os locais da cidade, pelo interesse no couvert artístico. E lá eu não sentiria falta da 25, pelo centro tem de tudo, cada barraquinha com uma música mais divertida.
Quinta-feira, o dia da caranguejada, eu massacrei patolas e cabeças de três caranguejos fofinhos, nada mal para uma ex-vegetariana.
Agora, quero é mais nordeste, Johnny People, logo menos estou por aí, carnaval em Olinda e São João em Caruaru, cansei do frio de Sampa, o esquema é o calor do Nordeste, você lava a roupa e depois de algumas horas já está tudo sequinho... só preciso de um novo emprego bem milionário!

segunda-feira, agosto 15, 2011

Woodstock



Finalmente assisti ao filme de Ang Lee sobre o Woodstock. No momento meu livro na cabeceira, ou melhor, no baú porque minha cama não tem cabeceira, é “Como a geração sexo-drogas-e-rock’nroll salvou Hollywood” de Peter Biskind. E há muito em comum entre eles. O sentimento que me despertam é a nostalgia, e uma invejinha.
            Lá pela metade do filme, quando o pessoal já está todo reunido na cidade e tem um showzinho para a comunidade no quintal do motel, meu pai, que estava assistindo comigo, fala
            - Isso nunca mais vai acontecer!
            Ele leu minha mente, mas para mim a sentença aparecia mais como uma interrogação do que como afirmação. Eu pensava sobre isso durante todo o filme, será que nunca mais teríamos algo semelhante? Não ao Woodstock em si, mas o momento e tudo o que ele representou, a era de Aquarius teria sido breve e única?
            Um policial diz:
            - Vim aqui porque queria dar umas cacetadas nuns hippies.
            Eu olhei para meu pai e disse:
            - Nunca mais vai acontecer porque eles ganharam.
            Eles, que criam o dia do orgulho heterossexual, que acham um absurdo um beijo gay na televisão, eles... e vocês sabem bem quem...
            Os hippies não eram a maioria e nem detinham a ideologia dominante, o “paz e amor” perdeu, o amor livre perdeu, a ingenuidade, segundo meu pai, perdeu. E não venham me dizer da AIDS e das drogas cada vez mais químicas e mortais, mais do que o modo de vida, o pensamento foi soterrado.
            No livro de Biskind o momento da virada é representado pelos assassinatos cometidos por Charles Manson. O medo marcou o fechamento das portas, dos corpos e das mentes. A confiança, a amizade, a camaradagem se foram.
            O fazendeiro do local do Woodstock simpatiza com o pessoal que chega porque eles dizem obrigado e por favor para tudo. A noção de comunidade, respeito e amor pelos outros ficaram presas em alguma curva do rio.
            Okay, não aconteceu no Brasil e nem acontecerá. Mas não é uma questão bairrista. O que aconteceu entre aquele um milhão de pessoas não acontecerá de novo em lugar algum do mundo. E parecia tão legal!


segunda-feira, agosto 08, 2011

Uma vez escoteiro...




Hino Alerta (Rataplan do Arrebol)

Rataplan do arrebol,
Escoteiros vede a luz!
Rataplan! Olhai o sol
Do Brasil que nos conduz

Alerta, ó Escoteiros do Brasil, alerta!
Erguei para o ideal os corações em flor!
A mocidade ao sol da Pátria já desperta
A Pátria consagrai o vosso eterno amor
Por entre os densos bosques e vergéis floridos,
Ecoem nossas vozes de alegria intensa!
E pelos campos afora em cânticos sentidos
Ressoe um hino ovante à nossa Pátria imensa!
Alerta! Alerta! Sempre Alerta!
Um, dois! Um, dois!
Rataplan do arrebol,
Escoteiros vede a luz!
Rataplan! Olhai o sol
Do Brasil que nos conduz

Unindo o passo firme a trilha do dever,
Tendo um Brasil feliz por nosso escôpo e norte
Façamos ao futuro, em flores antever
A nova geração jovial confiante e forte!
E se algum dia acaso a Pátria estremecida,
De súbito bradar: Alerta aos Escoteiros,
Alerta respondendo, à Pátria a nossa vida
E as almas entregar iremos prazenteiros!
Alerta! Alerta! Sempre Alerta!
Um, dois! Um, dois!


Esperando mais de quarenta minutos pelo queridíssimo secular na USP, enquanto o sol se punha, justamente por conta do arrebol*, de repente, não mais que de repente, surge em minha cabeça a letra dessa música que transcrevi acima. Primeiro, não pude acreditar que conseguia me lembrar de toda a letra, as duas partes; segundo, comecei a prestar atenção nas frases; terceiro, pensei comigo: entregar minha alma prazenteira é o #$@%&¨!!!
            Explico: fui escoteira durante seis anos, dos 10 aos 16, com direito a ser Escoteira da Pátria, insígnia mais alta que um escoteiro entre 15-18 anos pode conseguir. Fui monitora de patrulha, escoteira (11-15) e guia (15-18), sabia fazer amarras e nós e todos os outros clichês sobre escoteiros que você deve estar pensando; sim, eu usava roupa caqui, meia até o joelho, saia e um chapéu meio-de-safari. Ah, e um lenço no pescoço!
            Eu era escoteira de verdade, não tinha vergonha de dizer que o era, saía na rua de uniforme e sempre defendi os preceitos do movimento, mas-porém-contudo-todavia hoje eu não consigo me conformar de ter sido assim e feito certas coisas. Depois daquele momento no ponto de ônibus da USP, cheguei em casa e disse à minha mãe, que também era do movimento: como você pôde deixar que sua filha cantasse uma música dessas?
            Mea culpa, fui eu, com uns nove anos de idade, que li em algum lugar sobre os escoteiros e enchi o saco dos meus pais para entrarmos nessa. Não imaginara que daria tão certo, e a família toda entrou no esquema, com louvor! Não digo que seja arrependimento o que sinto, na verdade é um choque, parece que cada vez que penso sobre o escotismo, e meu envolvimento com ele, fico estarrecida de nunca ter percebido certas coisas enquanto estava lá, indo todo sábado hastear e arriar bandeira, todo feriado acampar sem chuveiro quente e às vezes sem banheiro, no meio do mato!
            Não vou aqui ceder às minhas tendências fefelechentas (de gente da FFLCH-USP) e dizer coisas no vocabulário esquerda-direita, ou pelo menos tentarei. Mas, convenhamos, crianças de 11 anos cantando coisas como “respondendo à Pátria nossa vida” e jurando coisas por “Deus, Pátria e próximo” faz você lembrar do que? Coisa boa é que não é! Troca o “próximo” por “família” e temos o Integralismo. Ou quem sabe a TFP. E o belicismo é evidente num movimento que tem, no Brasil, como um de seus heróis, Aldo Chioratto, escoteiro que morreu aos 9 anos na Revolução de 1932. Encontrei no site de um grupo escoteiro o seguinte trecho sobre o garoto:
“Aldo Chioratto é para o escotismo paulista, o protótipo do escoteiro. É, na realidade, a personificação do segundo mandamento da lei escoteira – “o Escoteiro é leal”; foi leal no cumprimento os seus deveres, foi leal aos princípios e à necessidade de ser responsável, mesmo que isso lhe custasse a própria vida. Os restos mortais de Aldo repousam hoje no Mausoléu Constitucionalista, ao lado de outros tantos heróis dessa epopéia. Única criança a transpor o altar e as portas da glória. Sua memória permanece indelével em nossos corações e, como um símbolo iluminado em nosso caminho, brilha para Sempre... Alerta até a Eternidade.” (fonte: http://www.carajas.com/wiki/index.php?title=Aldo_Chioratto)
Desculpem-me os bravos, mas eu sairia correndo para minha mamãe. E tenho dito. Não curto Rambo e não consigo imaginar um mundo correto no qual escoteiros, garotos e garotas menores de 15 anos, são treinados para ajudar na guerra. Podem dizer que hoje não é mais assim, que Baden Powell (criador do escotismo) pensou isso há muitos anos atrás, e que jamais requereriam as forças de escoteiros-mirins (isso me lembra o guia dos sobrinhos do Tio Patinhas) para uma guerra. Certo, aceitemos isso, o intuito do escotismo não é mandar ninguém para a guerra.
Voltemos então para o que há de preparo, o que há também de ideologia no movimento. Seguem as 10 leis escoteiras e a promessa escoteira, requisitos básicos para um verdadeiro escoteiro:
  1. O Escoteiro tem uma só palavra; sua honra vale mais que sua própria vida.
  2. O Escoteiro é leal.
  3. O Escoteiro está sempre alerta para ajudar o próximo e pratica diariamente uma boa ação.
  4. O Escoteiro é amigo de todos e irmão dos demais escoteiros.
  5. O Escoteiro é cortês.
  6. O Escoteiro é bom para os animais e as plantas.
  7. O Escoteiro é obediente e disciplinado.
  8. O Escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades.
  9. O Escoteiro é econômico e respeita o bem alheio.
  10. O Escoteiro é limpo de corpo e alma.
Prometo pela minha honra fazer o melhor possível para: Cumprir meus deveres para com Deus e a minha Pátria, ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer à Lei Escoteira.

Bom, eu me lembro de ter sido a primeira vez que ouvira a palavra cortês, e vocês podem imaginar sobre vérgeis, a palavra que está no hino inicial. Meu vocabulário de fato melhorou muito nos meus anos no movimento escoteiro. As leis e a promessa são, à primeira vista, bastante, como dizer... atraentes para aqueles que acreditam que a juventude está perdida no mundo e que precisa de decência. Eu não posso negar que, pelo menos o conteúdo das leis, não difere muito da educação que tive em minha casa, por exceção de ser amigo de todos e de colocar qualquer coisa que seja acima da minha própria vida. Quanto ao conteúdo da promessa, já é mais complicado. O que discutíamos muito em casa quando éramos todos escoteiros era o real teor de uma promessa que envolva Deus, afinal, ateus não podem ser escoteiros? Aparentemente não. E até que ponto o patriotismo não se confunde com ufanismo? Não seriam essas questões muito complexas para crianças?
Vale lembrar que o movimento escoteiro é voltado para pessoas a partir de 6 anos de idade, a partir da alfabetização, e para cada estágio da vida há um estágio escoteiro. Por mais que envolva um lado lúdico e de educação não-formal, não posso deixar de crer que seja sim um movimento ideologicamente perigoso. Imitação de exercito na prática e na teoria, uma miniatura de exercito, por assim dizer. A disciplina, o cotidiano, os acampamentos...
Dizem: “uma vez escoteiro, sempre escoteiro”. Sinto muito. Eu fui e não sou mais, muito obrigada!


*s.m. Cor avermelhada das nuvens quando nasce ou se põe o sol.

quinta-feira, agosto 04, 2011

On a le droit, on n’a pas le droit

Sendo babysitter de duas crianças francesas durante poucos meses pude aprender muitas coisas da cultura francesa, já que vi de perto a educação de crianças de uma família da classe média parisiense. Às vezes parecia que o menino de 4 anos e o outro de 8 anos eram mais educados do que eu, no sentido disciplinar. Já tinham me avisado aqui no Brasil que as crianças francesas não dizem “Minha mãe deixa isso, minha mãe não deixa aquilo” ou “Eu posso isso, eu não posso aquilo”, mas sim: “Tenho o direito a fazer isso, não tenho o direito de fazer aquilo”. Curioso, não?
E era exatamente assim! Eu me lembro de uma esquina que atravessávamos sempre na volta da escola, eu de mãos dadas com o garoto menor, e, por vezes, não vindo nenhum carro no sinal aberto, eu, paulistana da gema, fazia menção de atravessar, ao que o garoto dizia: “Le petit bon homme est rouge, on n’a pas le droit” (O homenzinho está vermelho, não temos o direito [de atravessar]), e eu, corava, confesso! Eles sempre diziam nesses termos, por exemplo, que não tinham o direito de ver televisão durante a semana, que não tinham o direito de comer Nutella no lanche da tarde, essas coisas. Tem também uma frase típica da educação francesa: “touche pas mon pipi”; mas essa fica para outro dia, pois ouvi histórias ótimas sobre isso por lá.
Enfim, mas por que falar disso agora? Na verdade, o que me levou a pensar nisso não foi nada sobre crianças ou sobre a França ou sobre Paris, mesmo que esses últimos dois não saiam um segundo da minha cabeça. Bom, ouço diariamente os programas do jornalismo da rádio EstadãoESPN, que, na minha opinião, veio salvar a FM com programas bem feitos e muito interessantes. Alguns desses programas, os meus preferidos, fazem perguntas no ar para os ouvintes responderem por SMS ou twitter, e gosto de participar quando a discussão é quente (uma vez discuti com um deputado muito do safado sobre lei que obriga os restaurantes a divulgar valor calórico de todos os pratos, mas isso também fica para outro post).
          Dia desses, após manifestações de sindicatos na Av. Paulista e na Av. Pacaembu, a pergunta era: “Você acha que essas pessoas tem o direito de fechar vias da cidade para se manifestarem?”. Quem me conhece pode imaginar a cara que fiz na hora, aquela minha cara que vem acompanhada do grito “Manooooooo!”. Está tudo errado, sobre direitos eu não tenho que achar se as pessoas têm ou não, direito ou se tem ou não se tem, não sou eu que vou achar se alguém tem ou não, e outra, e foi o que respondi por SMS, até onde eu saiba todos temos o direito de livre reunião, greve e expressão, ou não? Essas pessoas quem, cara pálida? E é aí que cheguei aos meninos franceses de quem sinto tanta falta: eles tinham a exata noção de seus direitos. Ok, concordo, são muito mais simples do que nossos direitos como cidadãos, já que são direitos e deveres impostos pelos pais, mas, até que ponto é falha nossa e até que ponto é falha do Estado o fato de não sabermos exatamente quais são nossos direitos e nossos deveres? Sem ladainhas sobre as falhas na educação pública, por favor. Por que no Brasil a própria ideia de direito é tão confusa a ponto de uma rádio séria com funcionários esclarecidos (assim me parece) fazer uma pergunta dessas? E outra, existe por trás disso uma noção que ninguém pode negar que exista entre nós: a noção de que temos poderes de colocar e tirar os direitos dos outros pela nossa simples opinião egoísta. Explico: confundimos muito o fato de gostarmos ou não de alguma coisa com o poder de questioná-la a ponto de negá-la a alguém, isso sem maiores discussões e sem levar em conta a sociedade e a democracia. Na pergunta da rádio há essa confusão, se você se sente incomodado por estar parado no trânsito por conta da manifestação que toma a Av. Paulista você pode questionar o direito do outro, pelo simples fato de você perder minutos a mais no trânsito você pode duvidar de um direito tão importante quanto o da livre reunião e manifestação. Se eu acho que eles tem o direito? Eu não acho, eles tem, e eu também, e ponto. Se eu gosto ou não, aí é que se pode perguntar. Se o fato de uns gostarem e outros não deve mudar o direito, bom, foi aí que entrou o gosto dos militares, né?

terça-feira, junho 21, 2011

:: Não quero ser grande ::



Se me fosse dada a chance de encontrar, num parque de diversões, uma máquina que atendesse a meus pedidos, como Tom Hanks em Quero ser Grande, pediria justamente o contrário. Não quero ser grande.
Desconfio que a sociedade está errada ou eu estou errada, alguém tem que estar errado. Eu quero andar todos os dias de jeans, all star, camiseta estampada e meias coloridas, com minha mochila nas costas. Não me sinto atraida realmente por homens-adultos com roupas sociais, mas sim pelos barbudos-relaxados com camisa xadrez que andam pelo campus. Mas a vida me diz a todo momento para vestir um sapato, uma calça social e arrumar o cabelo, a televisão me dá como parâmetro o homem sexy em terno e bem sucedido.
Eu não quero crescer, não quero sair do campus, deixar de ir ao bandejão, vender minha força de trabalho aos burocratas e tecnocratas. Hesito se minhas posições advem da infantilidade e do medo de crescer ou da ingenuidade de acreditar que o mundo pode ser diferente, que eu posso ter uma vida diferente.
Hoje não fui ao trabalho para fazer uma prova na universidade, e passar o dia por lá me enche de vida. O ambiente respira outro ar, o ar da utopia.


:: My headphones saved my life ::

Cartola - Disfarça e Chora

Chora, disfarça e chora
Aproveita a voz do lamento
Que já vem a aurora
A pessoa que tanto queria
Antes mesmo de raiar o dia
Deixou o ensaio por outra
Oh! triste senhora
Disfarça e chora
Todo o pranto tem hora
E eu vejo seu pranto cair
No momento mais certo
Olhar, gostar só de longe
Não faz ninguém chegar perto
E o seu pranto oh! Triste senhora
Vai molhar o deserto
Disfarça e chora

quarta-feira, junho 08, 2011

NÃO SOBRE O AMOR



::My Headphones saved my life::

O que eu também não entendo – Jota Quest

Essa não é mais uma carta de amor
São pensamentos soltos
Traduzidos em palavras
Pra que você possa entender
O que eu também não entendo...
Amar não é ter que ter
Sempre certeza
É aceitar que ninguém
É perfeito pra ninguém
É poder ser você mesmo
E não precisar fingir
É tentar esquecer
E não conseguir fugir, fugir...
Já pensei em te largar
Já olhei tantas vezes pro lado
Mas quando penso em alguém
É por você que fecho os olhos
Sei que nunca fui perfeito
Mas com você eu posso ser
Até eu mesmo
Que você vai entender...
Posso brincar de descobrir
Desenho em nuvens
Posso contar meus pesadelos
E até minhas coisas fúteis
Posso tirar a tua roupa
Posso fazer o que eu quiser
Posso perder o juízo
Mas com você
Eu tô tranquilo, tranquilo...
Agora o que vamos fazer
Eu também não sei
Afinal, será que amar
É mesmo tudo?
Se isso não é amor
O que mais pode ser?
Tô aprendendo também...
Já pensei em te largar
Já olhei tantas vezes pro lado
Mas quando penso em alguém
É por você que fecho os olhos
Sei que nunca fui perfeito
Mas com você eu posso ser
Até eu mesmo
Que você vai entender...


:: Carta de Amor ::

Você diz que está indo.
- Mas para onde?
- Quando volta?
Hoje encontrei com você, de passagem, meio que por acaso, por sorte, depois de algumas horas de ter levantado da cama em que dormíamos juntos. No exato momento em que vi você, com aquele sorriso de “E aí?” eu tive um momento. Momentos são momentos, instantes passageiros, uma sensação, um flash que nunca mais esquecerei. Aquela não foi uma certeza-inventada, das que criamos para sobreviver ao dia-a-dia, aquela foi uma certeza-certeza, daquelas que se tem poucas na vida. E foi um flash de certeza. A certeza de que você é a pessoa certa, da maneira mais clichê que isso possa ser, a pessoa certa para mim, a tampa da minha panela, o chinelo para meu pé, enfim, o mais meloso possível.
Você me diz:
- O romantismo acabou no século XIX.
Eu penso em corrigir a sua historicidade, mas eu entendo a sua negação.
Talvez eu seja a última romântica dos litorais desse oceano Atlântico, e nada como assistir a um filme no cinema abraçadinha com você (e um VIVA ao Cinemark que tem braços de poltronas para “namorados” #prontofalei).
Eu tenho planos, eu faço planos, desenho-os no ar da minha cabeça de vento. Neles somos felizes para sempre como nos contos de fadas, neles dormimos abraçados todas as noites mesmo que tenhamos uma cama de casal que nos caiba separadamente, neles você é meu marido e eu sua esposa e isso quer dizer amor eterno, neles carregamos tatuagens com nossas alianças e uma aliança imaginária-mais-do-que-real nos une.
O flash da certeza me encheu de alegria, e de tristeza. Queria ter desses flashs referentes a outras questões da minha vida-nada-estável, queria saber que você já teve um desses flashs com relação a mim.
Não meu amor, não tenho medo de que você vá embora daqui. Eu tenho medo de que você se vá. Eu tenho medo de que você descubra, longe, que o que nos une é a presença.
Não meu amor, não é a sua presença que me move, que me anima, que é o meu amor. É algo além, o que não sei dizer, é aquele momento, aquele flash, a certeza de que é você!


:: Cansei de mentir ::  

Cansei de mentir sobre como as coisas vão indo, cansei de dizer para mim mesma que tudo vai ficar bem. Na verdade só escondo de mim mesma, não minto para os outros. Para meus amigos eu reclamo todos os dias, pobres deles, só ouvem reclamações. Para mim digo todos os dias, ao deitar a cabeça no travesseiro, que tudo vai ficar tudo bem, e que eu nunca fui genial mesmo.
Dias antes de voltar ao mundo real, tive uma conversa séria com uma amiga, cheguei à conclusão de que não valeria à pena fazer mestrado e doutorado, afinal, muito barulho por nada, não serei genial, a grande filósofa do século XXI na América Latina. Mas e os sonhos? Meu sonho nunca foi ser o mais novo Kant mesmo! Não quero ser o novo Platão, a roda já foi inventada, só nos resta rodá-la. 
Mas e os sonhos?
Quando estou naquele ambiente, confesso um pouco arrogante, mas quente das discussões acadêmicas, que não vão acabar com as guerras do mundo nem erradicar a fome do país, naquelas discussões sobre artes e estética e filosofia, ali me sinto viva. Quando ouço no rádio aquele cara falando sobre cinema, aquela mulher que estava na coletiva com a Catherine Deneuve, eu penso: esse sim é o emprego dos sonhos.
Mas e os sonhos? Quão distantes eles estão de mim? Quanto tempo tenho para deixá-los de lado? Será que mais tarde terei coragem e forças para voltar a eles? Ok, os jovens tem a sensação de que o tempo é curto e que se deve aproveitar o agora da vida, mas não é essa a realidade? O tempo É curto. E enquanto estou gastando meu tempo, ok, vou falar, desperdiçando meu tempo, no meu emprego atual, continuo sem acabar com as guerras e a fome do mundo, e não ganho nada além de dinheiro, poderia estar me educando e vendo outras possibilidades para as quais no momento estou cega.


imagem: Nid d'amour - Cécile Veilhan
 

segunda-feira, maio 23, 2011

                                                 ::Bosque das Frustrações::

Ando diariamente num bosque escuro e úmido, com árvores semi-mortas que sussurram a todo momento, sem parar, em lamentações:
- Estou saindo, estou saindo daqui uma semana, estou indo para a burocracia estatal.
- Estou saindo, estou saindo daqui um mês, estou indo para um cargo público ensino médio que me paga cinco mil reais ao mês.
- Sempre quis ser dentista, mas meu pai não podia pagar, e eu não consegui entrar na USP, então eu vim para cá.
- Estudei pra ser tradutora português-alemão, mas o mercado é difícil, eu casei, tive filhos, e vim para cá.
- Eu me formei em História, queria ser professora, mas paga muito mal, então vim para cá.
- Sempre quis ser professora de literatura, estudei Literatura Brasileira, mas para quem tem uma família para manter é difícil entrar no mercado da educação.
Qual será a minha história? Qual será o meu mas, o meu então? Eu queria isso, mas aquilo, então cá estou! Por que o desejo, o querer, tem que ser queria, ou quis, ou desejava, desejei?
EU QUERO!




                                          ::O Mundo Encantado da USP::

A Universidade de São Paulo oferece um mundo a parte, aqui, a partir do momento em que você e sua família, cruzarem o portão de entrada receberão o óculos da invisibilidade. Os óculos funcionam mais ou menos como a capa da invisibilidade, só que ao contrário, você coloca e tudo que é ruim, do mundo FORA da USP, torna-se invisível.
Aqui há árvores, os carros não poluem, nunca há trânsito, os ônibus são sempre vazios, os circulares passam de 5 em 5 minutos, você e sua família podem andar de bicicleta tranquilamente, pois aqui os motoristas respeitam os ciclistas, toda água é potável, não precisa fechar o carro, não precisa esconder a carteira. O que vem de fora não atinge a USP! E o que está aqui dentro é só coisa boa, alegre, justa, feliz e igualitária!

sábado, abril 09, 2011

::O Jogo da Filosofia Aleatória::


Numa folha de papel escreva o nome de dez coisas, podem ser objetos, sentimentos, nomes, bandas, flor, carro, cidade, no melhor estilo STOP (ou adedanha, dependendo de onde você more). Exemplo:
Colher, dor, Jimi Hendrix, rosa, fusca, Capital Inicial, ...E o vento levou, coqueiro, sushi, Paris.
Numa outra folha de papel escreva o nome de dez filósofos, de qualquer época, de qualquer país, de qualquer corrente. Exemplo: Platão, Heidegger, Sto Agostinho, Sartre, Heráclito, Hannah Arendt, Descartes, Benjamin, Hume e Anselmo.
Corte cada uma das folhas de modo que em cada pedacinho fique um nome, coloque os nomes de coisas em um saquinho e o nome dos filósofos em outro, chacoalhe os dois saquinhos, tire um nome de coisa e um nome de filósofo, pronto: esse é o tema da sua palestra para um centro cultural. Exemplos: fusca e sto Agostinho – sobre a felicidade e a simplicidade; Jimi Hendrix e Heráclito – like a Rolling Stone.
Digo isso porque é impressionante como se pode falar de tudo com o “atestado” filosófico. Nas livrarias abundam os livros Glee e a filosofia, Metallica e a filosofia, The Simpsons e a filosofia, heróis Marvel e a filosofia, e mais uma vez o CCBB-SP apresenta uma série de palestras misturando os mais diversos temas a nome de filósofos, esse mês a palestra é sobre Bob Dylan e Adorno! Nada contra a filósofa à frente do projeto, eu mesma tenho um projeto de um livro chamado A Feijoada dos Filósofos; em conjunto com alguns amigos queremos explicar a receita de feijoada de acordo com os mais importantes pensadores da humanidade.


:: A realidade é cruel, sempre! ::

Uma amiga disse:
- Ah, você assistiu a Revolutionary Road? Disseram-me que é um filme bonitinho.
- Meu! Bonitinho? Nada disso, o filme é muito cruel.
Assim foi minha conversa ao telefone depois de assistir a Foi Apenas um Sonho de Sam Mendes. Okay, com muito atraso. O filme retrata um casal jovem que passa, nos primeiros cinco minutos de filme, de adolescentes sonhadores a um casamento com filhos no subúrbio de classe média típico dos anos 50 nos Estados Unidos. Mas no fundo eles ainda são os jovens sonhadores de anos atrás. O título em português, como frequentemente acontece, revela o final do filme, toda aquela esperança e espectativa não passou de sonho, mas o título em inglês é irônico, senão sarcástico. Revolutionary Road é a rua na qual o casal mora no subúrbio, até onde entendi, próximo a New York, e não há nada de revolucionário em suas vidas. O sonho da mudança persiste, pude me ver na personagem de Kate Winslet, mas vi muito mais da minha mãe nela, afinal, eu não tenho marido nem dois filhos. April (Kate) não vê o casamento e os filhos como impedimento para a revolução que pretende fazer em sua vida e na do marido, não se arrepende de ter casado e, acima de tudo, os dois se amam. Mas um pouco como em As Horas e nos livros de Clarice e V. Woolf, a aparente calmaria das coisas esconde um insuportável descontentamento. Os planos frustrados enlouquecem April, ou melhor, são o estopim para na verdade ser a real April, para ela é insustentável que seu marido não tenha a mesma disposição que ela para a mudança, que o homem que ela ama possa detê-la e mais, que possa negar-se a ser feliz com ela, a ser feliz, afinal.

quinta-feira, abril 07, 2011

::Ode à Linha Amarela::


Não serei pessimista, chata nem espírito de porco. Antes tarde do que mais tarde. Antes estação Butantã (mesmo que a um quilometro da USP) que nenhuma estação. Ó LINHA AMARELA, QUANTO POR TI ESPEREI! Ó QUE EMOÇÃO EM ATRAVESSAR SUA PASSARELA ROLANTE!
Depois de seis anos indo para a USP com o trânsito dos pontos de ônibus da Rebouças (ok, o corredor já foi uma vitoria), ir da Consolação à Vital Brasil em 6 minutinhos é mágico, deu vontade de chorar! Ana Rosa – Butantã em míseros 20 minutos. Agora é arranjar um lugar para estacionar a bicicleta perto do metrô para percorrer estação – ECA em menos do que os 30 minutos a pé.

:: Cuidado ::


Atenção, cuidado! Não vá tomar friagem, pois você pode se resfriar.
Não misture manga com leite, pois dá dor de barriga.
Não faça careta em baixo d’água, senão sua cara ficará assim para sempre.
Não coma bolo quente, não vá à piscina após comer, não tome mais de um Yakult por dia, não deixe os chinelos virados de ponta-cabeça, não misture destilados com fermentados, não faça sexo sem camisinha, não dirija de chinelo, não mexa na tomada descalço, não pegue elevador em caso de incêndio... e por aí vai a lista de coisas com as quais temos de ter cuidado na vida. Tirando o elevador em caso de incêndio, já me furtei ao cuidado em todos os casos mencionados anteriormente, sempre que o prédio pega fogo, eu uso a escada mesmo.
Mas outro dia estava saindo de casa e minha mãe gritou:
- Não esqueça de levar uma blusa, e olha lá hein, não vá se apaixonar!

Você não entende nada - Chico e Caetano

Quando eu chego em casa nada me consola

Você está sempre aflita
Lágrimas nos olhos de cortar cebola
Você está tão bonita
Você traz a coca-cola, eu tomo
Você bota a mesa, eu como
Eu como, eu como, eu como, eu como
Você
Você não está entendendo nada do que eu digo
Eu quero ir embora
Eu quero dar o fora
E quero que você venha comigo
Todo dia, todo dia
E quero que você venha comigo
Eu me sento, eu fumo, eu como
Eu não aguento
Você está tão curtida
Eu quero tocar fogo nesse apartamento
Você não acredita
Traz meu café com suita, eu tomo
Bota a sobremesa, eu como
Eu como, eu como, eu como, eu como
Você
Tem que saber que eu quero é correr muito
Correr perigo
Eu quero ir embora
Eu quero dar o fora
E quero que você venha comigo
Todo dia, todo dia
Traga a coca-cola quer eu tomo
Eu tomo
Bota a sobremesa, eu como.

terça-feira, março 29, 2011

Te amo - Vanessa da Mata

Mas o pior não é não conseguir
É desistir de tentar
Não acredite no que eles dizem
Perceba o medo de amar
Eu cresci ouvindo anedotas, clichês e
chacotas
Frustrações
Sobre amasiar, se casar
Se entregar seria fraquejar
Te amo, te amo, te amo
E se o tempo levar você
E um dia eu te olhar e não te reconhecer
E se o romance se desconstruir
Perder o sentido
E eu me esquecer por ai
Mas nós somos um quadro de Klint
"O Beijo" para sempre fagulhando em cores
Resistindo a tudo seremos
Dois velhos felizes
De mãos dadas numa tarde de sol
Pra sempre
Te amo, te amo, te amo

segunda-feira, março 21, 2011

::Nicole::
Acho que eu deveria morar com a Nicoleta, porque ela me lembraria e, o mais importante, não me deixaria cair na preguiça, para fazer tudo o que devo fazer.

::My headphones saved my life::
Can I walk with you - India.Arie

I woke up this morning you were the first thing on my mind
I don't know were it came from all I know is I need you in my life, yeah
You make me feel like I can be a better woman
If you just say you wanna take this friendship to another place

Can I walk with you through your life
Can I lay with you as your wife
Can I be your friend 'till the end
Can I walk with you through your life

You've got me wondering if you know that I am wondering about you.
This feeling is so strong that I can't imagine you're not feeling it too.
You've known me long enough to trust that I want what's best for you.
If you want to be happy then I am the one that you should give your heart to.

Now everyday ain't gonna be like the summers day.
Being in love it really ain't like the movies screen.
But I can tell you all the drama aside you
And I can find what the worlds been looking for forever.
Friendship and love together.

Can I walk with you in your life?
Till the day that the world stops spinning.
Can I walk with you in your life?
Till the day that my heart stops beating.
Can I walk with you in your life?
Can I walk with you
Till the day that the birds no longer take flight
Till the moon is underwater
Can I walk with you
Can I walk with you

This is the moment I've been waiting for
You are everything I've been looking for
Can I walk with you as your wife

::Mudança::
A pior coisa de procurar casa para morar é o esforço que se faz para não cair na tentação de desistir e pegar  o que talvez não seja a melhor opção. É como escolher uma calça jeans, e depois que você compra, pare de olhar as vitrines, senão acaba achando uma melhor e mais barata. Com o mercado imobiliário explodindo em Sampa é difícil não se dar por vencida, e pobre, e resolver ficar na casa dos pais nos próximos malditos anos de São Paulo. Duro! É tudo tão caro, tão absurdo, tão pequeno, acabado, cada vez é um defeito. Eu queria pegar o banheiro daquele apê longe, juntar com a cozinha daquele caro, o quarto daquele perto com a sala daquele vintage, e montar meu apê perto do trabalho, do metrô e de fácil acesso à USP. Será que é pedir demais?

::Desistir::
Hoje eu acordei sem as certezas que inventamos para a vida.
É com essa frase que gostaria de meu mais novo livro. Sim, já tenho vários. Guardados em algum lugar do meu cérebro esperando pela coragem dessa wannabe-escritora. Como muitos outros dos meus projetos, estão abandonados na sarjeta da minha mente, várias histórias e ideias me perseguem por tempos e jamais se concretizam. Assim como o projeto de artigo sobre o texto esquecido de Eric Rohmer que foi jogado para escanteio no fim da faculdade, há os livros sobre as histórias das minhas avós, mirabolantes e tristes, e que têm até mesmo título e capa. A história de um sonho louco que tive com uma maldição envolvendo sexo e mortes, e agora esse monólogo-urbano-paulista.

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

::Quem te viu, quem te vê::
Eu poderia dizer que prefiro ser essa metamorfose ambulante, mas não curto o Raul. Pelo menos hoje. Nos últimos tempos, mais do que em qualquer outro momento da minha vida, assusto-me comigo, se meu eu de uns cinco anos atrás me visitasse agora e passasse uns dias comigo, ia me socar a cara a todo momento. Talvez antes eu fosse mais pretensiosa, ou mais esperançosa, ou mais sonhadora, o fato é que hoje não sou a pessoa que queria ser aos 18 anos quando tivesse 23, do mesmo jeito que aos 18 não fui a mulher que pensava que seria aos 11, continuei sendo uma menina.
Mas parece que a vida adulta entrou sem bater na porta, entrou com tudo ou eu é que não tinha dado por sua presença, e com ela chegaram as responsabilidades, as difíceis decisões, novos medos, novas cobranças, novos desejos, novos gostos e uns quilinhos a mais.
Quem diria que eu me preocuparia com meu peso? Eu sempre achei um saco as pessoas que fazem regimes, que deixam de comer doces e que se preocupam com a aparência, mas quando meus jeans 38 passaram a me impedir de comer uma maçã pois seus botões começavam a explodir, bom, veja bem...
Quem diria que assistiria novela, esse instrumento de massificação e de controle? Pois bem, ainda não cheguei a das oito, mas me divirto e não perco um episódio da novela das sete. Cadê aquela carinha de intelectual?
Quem diria que pensaria tanto em ganhar dinheiro? Mas os sonhos custam caro, as viagens, aquela casa para andar sem roupas o dia inteiro e ouvir música sozinha, e já chegou faz tempo o dia em que percebi que o dinheiro dos meus pais não é o meu dinheiro, nem a casa deles a minha casa.
Quem diria que seria tão difícil ganhar dinheiro e seguir meus sonhos ao mesmo tempo? Mas eu preferi estudar filosofia e não engenharia, ou não casar com um homem rico. É difícil manter a rota do sonho seguindo em paralelo com a rota em que se está no momento até esperar a hora certa de pegar a perpendicular, é difícil olhar o caminho e não se esquecer de olhar, ao longe, a via paralela do sonho.
Quem diria que deixaria as relutancias de lado e me jogaria tão fundo em outra pessoa? Eu, a incrédula, agora querendo tanto alguém ao meu lado o tempo todo.
Quem diria que ficaria satisfeita em poder dirigir? Carros, máquinas poluidoras da cidade, transporte egoísta. Mas num lugar em que os transportes coletivos não são 24 horas, faço minha parte dando carona aos amigos.
Gostaria de visitar-me daqui cinco anos e verificar como anda a distância entre os sonhos e a realidade.
Haja hoje para tanto amanhã.

::My headphones saved my life::
Wouldn't it be nice - Beach Boys

Wouldn't it be nice if we were older
Then we wouldn't have to wait so long
And wouldn't it be nice to live together
In the kind of world where we belong

You know its gonna make it that much better
When we can say goodnight and stay together

Wouldn't it be nice if we could wake up
In the morning when the day is new
And after having spent the day together
Hold each other close the whole night through

Happy times together we've been spending
I wish that every kiss was neverending
Wouldn't it be nice

Maybe if we think and wish and hope and pray it might come true
Baby then there wouldn't be a single thing we couldn't do
We could be married
And then we'd be happy

Wouldn't it be nice

You know it seems the more we talk about it
It only makes it worse to live without it
But lets talk about it
Wouldn't it be nice

Good night my baby
Sleep tight my baby