quarta-feira, setembro 21, 2011

Melancholia - Lars Von Trier

The Lady of Shalott - 1888 - John William Waterhouse

Composition II in Red, Blue, Yellow - 1930 - Piet Mondrian  
 
Da série Voom Portraits - Bob Wilson (http://www.youtube.com/watch?v=EJFHi4qEZSE) 


Antes de começar: o prêmio de melhor atriz em Cannes devia ter sido da Charlotte e não da Kirsten; sigamos, pois eu também quero dar meus pitacos sobre o filme mais comentado no facebook, pelo menos pelos meus amigos, dos últimos tempos.
Os filmes de Lars von Trier nunca permitem que saimos deles ilesos, seja do cinema, seja do final do DVD. O primeiro filme do diretor dinamarques que vi foi Dançando no Escuro, por conta da Björk, e a partir daí foi só amor, e ódio! Não tem um filme dele que eu não tenha gostado, não tem um filme dele que eu não tenha odiado. É assim. Em O Anticristo existe um machismo que não me permitiu compactuar com o filme, o machismo não era apenas no tema tratado pelo filme, era pela posição que o próprio filme assumia em relação ao tema. Mas as imagens são tão incríveis e a direção de atores tão perfeita que os sentimentos por ele gerados me atormentaram por dias. Nunca me esqueço do momento em que assisti pela primeira vez cada filme de Lars von Trier, e cenas de todos eles vivem povoando meus pensamentos e sonhos, tamanha força de suas imagens.
Da trilha sonora à paisagem, do começo ao fim, Melancholia é tocante. Desesperei-me, e se fosse comigo? Eu seria muito mais Charlotte do que Kirsten, duas irmãs que reagem de maneiras opostas à chegada do planeta, e de maneiras completamente diferentes da que reagem à vida cotidiana. Não comprei a depressão e o auto-aniquilamento de Kirsten, não me pareceu muito real, embora saibamos que as pessoas comportam-se de diversas formas frente à depressão, muitos disseram ter ficado chocados com o realismo de sua interpretação, eu não diria exatamente realismo.
O filme é belo, com lindas imagens, com Tristão e Isolda de Wagner, com início que lembra a série Voom Portraits do Bob Wilson, ainda mais soturno, e o final revelando o melhor filme apocalíptico já visto no cinema. Não posso esquecer da cena na biblioteca da casa, uma grande crítica à racionalidade moderna, quando Kirsten troca as imagens expostas nos livros nas estantes de pinturas concretas e cubistas por pinturas figurativas pré-rafaelitas e românticas. É o cansaço contra a racionalidade e o esquematismo do mundo em que vivemos, talvez seja a melancolia, a saudade de outra beleza.


domingo, setembro 18, 2011

24 num corpinho de 40

Se você não tem senso de humor e acha que o nojento não em graça, nem continue lendo, depois não diga que eu não avisei. Essa coisa de não podermos falar sobre certos assuntos que seriam íntimos demais até com a desculpa de que isso não interessa a ninguém é um saco e uma grande mentira.
Dia 17 de agosto foi meu aniversário, uma quarta-feira, e ele foi, por assim dizer, um péssimo dia, explosivo. No dia 16 foi-me reagendada uma colonoscopia. Ótimo, nada melhor do que tomar no cu como presente de aniversário, não é mesmo? Passei a segunda toda só comendo sopa e tomando água, e a terça era para ficar em jejum, com aula de manhã, metrô cheio e tudo o mais. Minha mamis foi me encontrar na USP para ser minha acompanhante, vocês não acham que eu levaria meu namorado para um programa desses,né? E não há amigos para isso, definitivamente não.
No HU, Hospital Universitário, é que começou a grande diversão. Das 12h às 17h eu fiquei tomando um líquido de gosto medonho e andando para lá e para cá para ele fazer efeito, qual seja, defecar até a alma. Objetivo: chegar a defecar com a mesma cor do líquido, ou seja, um amarelo quase transparente. Eu estava minguando, com sede, com fome e enjoada, até o fluxo inverter, o que era para sair por baixo, começou a sair por cima. Mas enfim cheguei a um final feliz, chegando ao objetivo, depois de entrar e sair do banheiro umas 20 vezes.
Quando a enfermeira começa a injetar o sonífero parece que tudo valeu à pena, muito gostoso, olhei para ela e disse:
- Humm, isso faz efeito rápido, hein?
Bom, depois de uma hora eu pude comer, mas não conseguia sequer abotoar as calças. Eu não me lembrava (afinal, já fiz duas vezes esse exame antes), mas eles colocam um gás para inflar sua barriga, e... tudo que entra, tem de sair...então o dia seguinte foi ainda pior.
Digamos que tive um aniversário bombástico. Pela manhã eu já não conseguia dormir tamanho o barulho que minha barriga fazia, eu tinha um alien dentro de mim. Na aula da manhã, com cerca de dez alunos na sala, todos insistiam em procurar de onde viria aquele imenso e incessante ruído. Eu, claro, fazia cara de paisagem. Era tão alto que o cara que sentou do meu lado, depois de cinco minutos de aula, saiu de mansinho para outra cadeira, e isso tudo ainda não eram peidos, apenas o barulho do alien se mexendo.
O auê todo só foi acabar dia 18, quando eu, já estava com 24 anos.

terça-feira, setembro 13, 2011

Você sabe como o caju nasce no pé?

Uma primeira viagem pelo nordeste

Aproveitando a abençoada USP ter me dado, como todos os anos, uma folga de uma semana no feriado do 7 de setembro, fui-me ao nordeste pela primeira vez. Destino: Fortaleza. Escolhi a capital do Ceará por se tratar da morada de meu dignissimo amigo Lucas, de quem sentia muita falta desde minha partida da França, onde morávamos muito mais próximos. Quando eu estava em Paris e ele em Le Havre, 197km nos separavam, hoje, eu aqui, ele em Fortaleza, 3.063km nos distanciam, eita lonjura! Só mesmo com um feriado de uma semana e uma grana da saída do banco.
Fui para passar uma semana, passei dois dias em Jericoacara, o paraíso na terra, um dia todo em Canoa Quebrada e os outros em Fortaleza, aproveitando o feriado para ir com Lucas para Lagoinha, uma praia muito bonita. Mas o que mais me chocou não foi a beleza espetacular das praias e lagoas, e sim a minha ignorância frente a muitas coisas, como, por exemplo, a maneira como o caju cresce no pé. Bom, eu nem sabia reconhecer a árvore do caju, nunca tinha visto, e podia jurar que era a castanha que o prendia na árvore, doce engano. Doce mesmo, comi muito caju, tirado da árvore, e o gosto é muito diferente do que encontramos por aqui.
Não só meus conhecimentos sobre botânica foram aprimorados, mas os meus preconceitos foram derrubados. Em São Paulo, paulistas como eu, daqueles que só veem vacas e galinhas pela televisão, acreditam, ou eu pelo menos pensava, muitas coisas erradas sobre o nordeste, e o nordeste como um todo. Assim como alguns veem na Africa um único país com uma única cultura, muitos veem o nordeste como uma unica coisa. Sim, eu conheci o Ceará e a área litorânea, não posso imaginar como deve ser o sertão, Juazeiro do Norte e tudo o mais, mas me surpreendi com a diferença entre o que eu imaginava ser Fortaleza e o que de fato encontrei.
Primeiramente preciso falar da simpatia do pessoal, por mais que não soubessem ajudar na direção desse ou daquele lugar, todos foram muito simpáticos e educados comigo, começavam a conversar, perguntar de onde eu era, essas coisas. E a simpatia, obviamente, só aumentou em Jericoacara, uma cidadezinha bem pequenina, uma vilinha no mar, super preparada para o turismo. Fortaleza também, está mais preparada para o turista do que São Paulo.
Fortaleza é uma cidade imensa, crescendo loucamente, para todo canto há prédios construindo e grande crescimento horizontal também, muita gente morando em casas. Há trânsito, sim, não muito diferente de Sampa, e muitos semáforos em tudo quanto é cruzamento. Outra curiosidade é que os ônibus não tem diferença de nome de acordo com o sentido, é o nome da linha e pronto, cabe a você adivinhar para qual lado estão indo, achei bem engraçado isso.
Como quase todo mundo que visita Jericoacara, eu quis ficar por lá, trabalhar de garçonete em algum lugar e morar na vilinha, mas o mundo não é bem assim, né? A cidade é fofa, mas é cara, por mais que estivessem precisando de professores por lá, teria de morar na cidade vizinha, porque até o mercado é mais caro, não quero nem pensar o aluguel, né?
Ah, já ia esquecendo de outras curiosidades de Fortaleza, a obsessão geral por música ao vivo em todos os bares e barraquinhas de praia, segundo os locais da cidade, pelo interesse no couvert artístico. E lá eu não sentiria falta da 25, pelo centro tem de tudo, cada barraquinha com uma música mais divertida.
Quinta-feira, o dia da caranguejada, eu massacrei patolas e cabeças de três caranguejos fofinhos, nada mal para uma ex-vegetariana.
Agora, quero é mais nordeste, Johnny People, logo menos estou por aí, carnaval em Olinda e São João em Caruaru, cansei do frio de Sampa, o esquema é o calor do Nordeste, você lava a roupa e depois de algumas horas já está tudo sequinho... só preciso de um novo emprego bem milionário!