sexta-feira, outubro 23, 2009

Jours 36 - 51 (mais fácil seguir as fotos...)

A primeira semana de aulas se passou muito bem, um professor meio enrolão num dos TDs (trabalho dirigido, cd matéria tem essa matéria anexa),mas de resto os professores me parecem muito competentes e mesmo simpáticos. Na sexta dia 9 fui ver O Avarento (L'avare) de Molière na Comédie Française, o teatro mais importante da França, creio eu. O teatro em si é genial, a Sala Richelieu, lindíssima e confortável, o espetáculo então, de tirar o fôlego. No começo foi um pouco difícil entender,mas depois peguei o jeito, por ser um francês diferente do que estou acostumada,é meio complicado.
No sábado em seguida resolvi ir na Feira de Livros Antigos e Usados de Paris, no parque Georges Brassens, que, eu não sabia, era um cantor francês muito querido. Por essas coisas estranhas do destino que vivem me acontecendo em Paris estava tendo uma festa lá em homenagem ao cantor, então pude ouvir algumas músicas e desfrutar do parque de maneira mais especial, inclusive havia uma fanfarra de lycée (o ensino médio daqui) que tocava músicas muito divertidas, dançando e com roupas coloridas, bem diferente da nossa idéia de fanfarra, que, ao meu ver, não evoluiu desde os tempos de Getúlio... Comprei um super pesado e lindo livro sobre cinema por um preço ainda mais super que camarada e saí feliz para passear mais pelo sul de Paris e depois ir, finalmente, a Pierre Hermé, experimentar O macarron.O macarron é a melhor coisa que o ser humano inventou, ok, ok, tem também o bolo, o chocolate, a geléia, o pão, ah, e também a penicilina. Mas O MACARRON do Pierre Hermé de maracujá com chocolate e o de rosas, valeram cada centime!
À noite fizemos por aqui uma soirée com muita comida. Zoé fez crepes de sobremesa (me esbaldei no crepe com Nutella e com confiture), Kioungmi fez um prato coreano delicioso, Soo-ok escolheu um ótimo vinho e eu fiz guacamole sem coentro porque não achei de jeito nenhum isso por aqui =(  Mesmo assim as filles adoraram. Jelena e Noelle juntaram-se a nós e ouvimos muita música, dançando ao som de Spice Girls e It's raining man.
No domingo fui à central de gestão da linha A do RER com o Jean Philippe pela manhã e depois visitamos a Galerie Lafayette...mon dieu, quanta coisa linda. Já tinha ido na Printemps, ver as roupas estilo Sex and the City na sua frente, é lindo. Pena que esse tipo de arte (porque moda É arte) é explorado de maneira extremamente superficial, não reclamo que seja caro, ça va, quadros e esculturas são caras, são peças únicas, objetos de design a gente paga pela idéia, e não pela utilidade, mas o problema é como ela é encarada, triste fim de um sapato Manolo Blanick, ir parar em pés ricos que não compreendem o esforço criador... Depois disso voltei a Montmartre para festa de Vendanges, para a qual não fui suficientemente preparada (meaning:com dinheiro e paciência) e acabei adquirindo somente 4 salames artesanais saborosos, não sabia que teria tanta coisa à venda, desde vinhos de cada região da França, até escargot. Fui com uma garota belga que conheci no curso de francês, que já começou a se revelar um pouco menos simpática e agora nem nos falamos mais, on a coupé le pont! Acho que ela não entende um estrangeiro, é claro que fazemos comparações a todo momento, é natural, pra melhor ou pra pior, é natural, mas ela perdia a paciência comigo e, mais do que eu mesma, achava sempre que estava certa, até quando explicava para Jinlee (uma garota coreana amiga nossa) porque o Brasil mandou soldados para Itália durante a II GM, ela queria apresentar razões muito absurdas e falando que eu estava errada, mas catzo, é meu país né, eu é que sei...
Durante a semana foi o sofrimento de achar um sapato, uma bota, algo impermeável, bonito, confortável e barato. Fui à Place de la Republique, onde há uma rua só com lojas de sapato e não achei nada, botas femininas muito bonitas,mas de salto e não muito práticas. Remarque: todo mundo aqui usa salto alto, pra ir na faculdade, na igreja, no mercado, toda mulher se veste super bem e usa salto, faça chuva faça sol. A história acabou na quinta dia 15, quando comprei uma bota lindíssima da Timberland em Clignancourt, super linda, longa, e que se revelou desconfortável depois, a novela fechou mesmo foi é na sexta, quando troquei por uma bota de caminhada mesmo, mais barata um pouco, na mesma loja, da Caterpilar, com a qual estou muito satisfeita agora.
Nessas caminhadas acabei encontrando, muito por acaso, o lugar onde os irmãos Lumières fizeram a primeira projeção de cinema da história, fiquei toda emocionada diante do prédio, imaginem, a primeira vez que o mundo viu o cinema!
No sábado dia 17 fui ao Jardin de Luxembourg, debaixo de uma baita chuva, encontrar um francês super simpático (e,confesso, muito lindo) que conheci no CouchSurfing e que quer aprender português, empenhado, chegou mesmo com um caderninho, dicionário e caneta. Ganhamos no jardim um vaso de flor, que anima minha casa, tomando frio na janela e dormindo quentinho na mesa, uma flor que se chama "pensamento" aqui, um apelido.
No domingo 18 acordei cedo e peguei a sessão das 9h no cinema do Forum des Halles com a Jinlee para ver Thirst, um filme coreano do mesmo diretor de Oldboy, interessante, reinventando o cinema de vampiro, não conto mais. Depois fomos encontrar com Kyoungmi, Jelena e Zoé para o brunch do CROUS, isso mesmo, o bandejão tem um brunch E, isso mesmo, até os franceses aderiram ao brunch. Por 2,90euros comemos até dizer chega, cereal, queijo, presunto, omelete, batata, croissant, pão, suco, leite...uffa. E tudo super gostoso. Não consegui nem jantar depois. No fim da tarde fui com Jelena e Noelle ver Acossado na Cinematèque (tem lugar mais mítico para ver esse filme mítico?). As meninas não gostaram, mas eu amei o momento, tudo foi lindo e perfeito. "C'est vraiment dégueulasse".
Na segunda fui no quizz do Couchsurfing num pub, já tinha ido uma vez e dessa vez foi ainda mais divertido, mesmo que a equipe em que estava não tenha preenchido quase nada do quizz, nos divertimos muito.
Na terça eu me dei conta de que a família para qual trabalho mora do lado de Montmartre,então antes de buscar as crianças na escola fui no Cemitério de Montmartre "visitar" François Truffaut. Há várias figuras ilustres lá, e tumbas cheias de fru-fru,como a de Dumas que é um absurdo. Achei o cemitério maos parecido com o da Consolação,mais amontoado, porque o de Montparnasse era tudo muito grande. Ainda resta Père Lachaise...Jim Morrinson. Zueira, Piaf e Wilde.
Com as aulas começadas fica mais difícil passear, mas eu recebi finalmente meu Vélib então cada vez que ponho o pé para fora de casa tenho vontade de andar de bicicleta, nem que seja por 200m. Ontem fui com a Zoé na Tour Eiffel às 23h, aniversário de 120 anos da torre, e quando chegamos lá começou a cair o mundo e a festa já tinha acabado, valeu pelo passeio de bicicleta à noite, a vista, a dança na calçada cantando "I sing in the rain, just singing in the rain...". Nessas horas minha super duper capa rosa que chama super atenção por Paris me salva!
Aliás, como tem chovido por aqui, parece São Paulo, e agora o boletim do tempo:
Brincadeira, mas até que saiu um solzinho faz 10 minutos. Vou tomar um café com as tias do Renan que chegaram em Paris. Por falar em café, café noisette é só café com leite, triste,eu achei que tinha alguma coisa a ver com nozes, mas ontem comprei um baguete como nozes maravilhosa, e ganhei um pão au chocolat da Noelle.
Noelle, super fofa, sempre me dá coisas gostosas, chocolates, pão, e quando cozinhamos trocamos um pouco de comida. Agora ela comprou uma máquina de fazer arroz e está super feliz.
Como eu escrevi "super" nesse post. Próximo post: hiper!

Allez, au revoir.

terça-feira, outubro 06, 2009

Jours 9 - 35 (cada dia mais difícil escrever)

Bom, de fato o Louvre não é de graça às sextas-feiras, só é mais barato depois das 18h pq fica aberto até mais tarde,mas nem compensa economizar 3euros e ficar um dia inteiro a menos, por isso acabei não indo naquela sexta e fui no último domingo, dia 4, primeiro domingo do mês, quando quase todos os museus de Paris são gratuitos. Naquela sexta dei uma volta em torno do Louvre e conheci o Jardin de Tuillleries, hoje acho que já passei por lá umas 4 vezes. É engraçado como depois de um mês certas coisas já foram vistas tantas vezes...
No dia 12 fui pela primeira vez no cinema em Paris, ver Anticrito do Lars von Trier com a Noelle no Nouveau Latina, um cinema no centro, perto do Centre Pompidou. Achei o filme um tanto quanto chocante, com cenas desnecessárias, e sim, com um certo machismo que pode ser discutido. Amei mesmo o ambiente do cinema, uma coisa bem cinéfila, cinema de duas salas pequenas, muitos cartazes, rua simpática. Como o filme era na hora do almoço, depois à tarde fui de novo ao Parque de Bercy, dessa vez acompanhada, com Jelena e Kyoungimi. No dia seguinte foi dia de voltar a Bercy pois todo domingo o meseu do cinema, dentro da Cinemateca, é gratuito. Hoje, mesmo já tendo visitado o Louvre e o Musée d'Orsay, não digo que o Museu do Cinema seja o melhor, mas foi o que mais me interessou, no qual me senti melhor e mais emocionada, experiência realmente mágica. Depois do museu ainda fiz minha carteirinha de CinEtudiant, que confesso que ainda não usei,mas sei que nos próximos 15 dias pretendo usar muito, pois é o fim do festival da Nouvelle Vague e pretendo ver muitos filmes, e sei que preciso ir à biblioteca estudar um pouco...
Arco do Triunfo, Avenue Champs Elysee (antigo QG da Cahiers du Cinéma), Grand e Petit Palais, Invalides, Bvd Haussman, segunda ida ao cinema (no Le Balzac para ver o novo filme de Jacques Rivette "36 vues du Pic Saint Loup"),  Passagens, Bolsa de Paris, Biblioteca Nacional (antiga e nova), sem esquecer as idas aos bandejões, Ópera Garnier (só por fora, ainda planejando a forma mais barata de ver algo lá dentro), Les Halles, pontes e mais pontes, terceira ida ao cinema (La Pagode, cinema lendário de Paris, para ver o novo filme de Honoré, "Non ma fille, tu n'iras pas danser"), visita guiada por Paris, conheci assim uma brasileira do CS de Curitiba, Gláucia, visita de Oliver a Paris (uma das melhores coisas que já aconteceram aqui, amigos, quem quiser, venha me ver!), coral surpresa na Notre Dame, segunda e terceira idas à Sacre Cour de Montmartre, filas e mais filas para a Journee du Patrimoine e no fim só ver a casa (mto sem graça) do presidente, pelo menos com o Linus, o Nabil, a Zoe e a Jelena, o tão comentado frango assado (caro, gostoso e divertido), o primeiro de muitos crèpes de Nutella, castelo de Vincennes, subir e descer, subir e descer escadas dos metrôs de Paris, a descoberta do creme de marrons, Gare de l'Est (procurando pela cena de Amélie, e não achei), achei pelo menos a cena de fuga do Pierrot,le Fou do Godard, flores e insetos desconhecidos, pernilongos imensos em casa, Shakespeare&Co., parque Buttes Chaumont (de dia e depois de noite durante a Nuit Blanche), frutas novas, tentando aprender o nome dos legumes, verduras e frutas, quarta ida ao cinema, do lado de casa no Epee de Bois para ver o novo filme de Woody Alllen "Whatever Works", uma grande decepção mas era para desestressar depois da visita pela confirmação do visto, que pelo menos finalmente saiu, muro do Je t'aime em Montmartre, com 'je t'aime' escrito em mais de 300 línguas, dentre as pontes, Pont des Arts, final de Sex and  the City, e Pont de Bercy do nojento filme Ultimo Tango em Paris, picnic no Champs de Mars com as meninas num encontro do Parismus da Paris IV, jogos de xadrez com Zoé, éclairs e divorces (doces estilo carolinas).
Viagem para fora de Paris: Dijon e Flavigny-sur-Ozerain. Uma das melhores coisas que poderia ter feito na vida. Peguei o trem numa terça de Paris à Dijon, passei a tarde em Dijon, dormi na casa de um casal CouchSurfer super simpáticos e na quarta super cedo peguei um trem a Venarey-les-Laumes, de lá peguei um ônibus para fazer os 3 primeiros km e depois fiz outros 5km de subida à pé até Flavigny, um caminho mágico entre a neblina até uma cidadezinha medieval com pouca gente e muita simpatia, muito calor. A cidade do bonbon de anis (bonbon em francês é bala), o doce mais antigo da França segundo alguns, desde o século XI, que leva atualmente 15 dias para ficar pronto e é maravilhoso. Do alto da cidade era possível ver o vale com suas vaquinhas pastando e alguns vinhedos, em torno das portas das casas havia parreiras repletas de uvas e ao longo dos muros que cercavam a cidade havia diversas árvores das mais diversas frutas. No almoço conheci um senhor que me ofereceu uma carona até a estação de trem no fim da tarde, e quando fui procurá-lo depois de comer, a senhora dona do ateliê (sim, um atliê de arte, uma pintora) onde ele trabalhava, me convidou a seu jardim com vista para o vale, onde tirei uma longa soneca, e depois para um chá com bolos de maçãs com suas colegas pintoras num lindo sótão. TUDO MÁGICO.Mas voltar à Paris ainda assim foi bom, foi engraçada a sensação de descer a rue Tournefort, depois de uma breve viagem de dois dias, é estranho voltar para o lugar onde é agora minha casa, pensar que é aqui que moro agora...
Depois de um mês fazer a primeira lavagem de roupa, em duas lavagens, claro, os lençóis, as toalhas, as roupas, as calças jeans. No último sábado foi dia de ir à Nuit Blanche, espécie de Virada Cultural que São Paulo copiou e, devo dizer, melhorou, não pela organização ou segurança, mas pela diversidade de coisas oferecidas, que a Paris não são muitas, o que resultou em filas como as da Journee du Patrimoine.
Fim das "férias" e fim do calor, começo das aulas, começo do resfriado: após a noite mais fria que enfrentei aqui desde quando cheguei, durante a Nuit Blanche, no último fim de semana, desenvolvi um resfriado super, com direito a dor de garganta e nariz escorrendo, agora não posso mais usar minhas Havaianas porque já faz praticamente uma semana que não faz calor, e nesa segunda, dia 5, acabou a moleza, começam as aulas. No sábado à tarde eu ainda fui no Musée d'Orsay, ver Van Gogh, Monet, Manet, "l'origine du monde" de Courbet, Rodin e muitos outros emocionantes, depois de 3 horas, Zoé (que estuda história da arte) e eu não tinhamos visto nem um andar por inteiro. Na Nuit Blanche conseguimos entrar na Grande Mesquita de Paris, maravilhosa, incrível, lindíssima, e no domingo fui com Jelena no Louvre, onde conseguimos ver mais coisas, e mesmo o "show de rock" que é para ver de perto a Giocconda que, confesso baixinho, não tem nada demais! Fiquei mais impressionada com outros quadros, e com o ambiente do Louvre mesmo, que é por si só um obra de arte.
Ontem fui no Quizz do encontro semanal do CS de Paris, super divertido, depois de passar o dia debaixo de chuva e atrás de burocracias estúpidas,mas pelo menos começaram as aulas de esgrima, sim, esgrima, resolvi abraçar essa oportunidade única de pelo menos por um semestre fazer esgrima fleuret aqui em Paris pela universidade, e a primeira aula foi super duper, super quente, super claustrofóbico dentro daquela máscara e gripada, mas duper bonito, en gard.
Hoje foi meu primeiro curso, mas um peguei como de ouvinte, de história da arte, que pareceu difícil ainda que interessante, amanhã é que começa o curso de master 1 de filosofia da arte.

Cinema: estávamos andando na região da Bastille, a Noelle, o Oliver e eu e descobrimos que os franceses ficam sentados nos cafés de Paris como que num cinema, todos olhando para a mesma direção - a rua...eles não olham para quem está com eles na mesa, eles olham todos para a rua, como se essa fosse uma grande tela de cinema.

Porque os parisienses são magros: não é necessário ler um livro de pseudo auto ajuda para descobrir. Apesar de comerem baguetes, com a quantidade de escadas que há no metrô de Paris, é fácil manter a forma por aqui, DE VERDADE!

Les enfants: tirando os dois lindo meninos dos quais tomo conta aqui, para os quais sou uma garota normal, uma "nounou" (babá) como outra, é incrível como as crianças daqui gostam de mim, na rua elas riem e sorriem para mim, brincam comigo no metrô, talvez seja verdade que as crianças vejam e sintam coisas que os adultos não sente, talvez elas saibam que aqui sou muito feliz.