sábado, janeiro 05, 2008

::My headphones saved my life::


I Have the Touch - Heather Nova

The time I like is the rush hour,
'cause I like the rush

The pushing of the people,
I like it ever so much

Such a mass of motion,
I do not know where it goes

I move with the movement and
I have the touch

I'm waiting for ignition,
I'm looking for a spark

Any chance collision and
I light up in the dark

There you stand before me,
all that fur and all that hair

Oh, do I dare, I have the touch

Only, only wanting contact

I'm only, only wanting contact

I'm only, only wanting contact with you

Shake those hands, shake those hands

And give me the thing I understand

Shake those hands, shake those hands
Shake hands, shake hands
Any social occasion, it's "hello, how do you do"

All those introductions,
I never miss my cue

So before the question, so before the doubt

My, my hand moves out and
I have the touch

Only, only wanting contact

I'm only, only wanting contact

I'm only, only wanting contact with you
Shake those hands, shake those hands

Aaah, give me the thing I understand

Shake those hands, shake those hands
Shake those hands

Pull my chin, stroke my hair, scratch my nose, hug my knees

Try drink, food, cigarette, the tension will not ease

I tap my fingers, fold my arms, breathe in deep, cross my legs

Shrug my shoulders, stretch my back, but nothing seems to please

I need contact
I need contact
Nothing seems to please, I need contact

Tac tac tac, tac, I need contact

Nothing seems to please, I need contact

Tac tac tac, tac, I need contact

Aaah, tac tac tac, I need contact

Nothing seems to please, I need contact

Nothing, nothing, nothing, nothing, nothing, I need contact


::Belas palavras::


Chanson du gêolier - Jacques Prévert

Où vas-tu beau geôlier
Avec cette clé tachée de sang
Je vais délivrer celle que j'aime
S'il en est encore temps
Et que j'ai enfermée
Tendrement cruellement
Au plus secret de mon désir
Au plus profond de mon tourment
Dans les mensonges de l'avenir
Dans les bêtises des serments
Je veux la délivrer
Je veux qu'elle soit libre
Et même de m'oublier
Et même de s'en aller
Et même de revenir
Et encore de m'aimer
Ou d'en aimer un autre
Si un autre lui plaît
Et si je reste seul
Et elle en allée
Je garderai seulement
Je garderai toujours
Dans mes deux mains en creux
Jusqu'à la fin de mes jours
La douceur de ses seins modelés par l'amour

::Divagações no escuro::


Em Paris

Com o lançamento de "Canções de Amor" e "Em Paris" de Christophe Honoré comentou-se muito a proximidade entre ele e a tradição da Nouvelle Vague, o próprio diretor afirmou buscar inspiração em Jacques Demy e seu "Les Parapluies de Cherbourg". Sobre o segundo filme, críticos notaram a semelhança entre a dualidade dos irmãos Jonathan e Paul e a dos críticos-cineastas Truffaut e Godard, amigos próximos por anos que acabaram se distanciando.
O irmão interpretado pelo sempre lindo Louis Garrel, Jonathan, assemelha-se incrivelmente a Antoine Doinel, o alter-ego de Truffaut, seu jeito de andar saltitando pelas ruas de Paris, sua doçura misturada a certa ingenuidade meiga, Honoré inclusive parece revisitar a cena da cama de "Domicílio Conjugal" quando Jo lê Salinger após ter feito sexo com sua ex-namorada. A poesia da seqüência em que ele pára a garota da motocicleta ou a da garota da vitrine é incrivelmente truffautiana.
A história começa e termina no mesmo ponto, há um ciclo. Jo faz um pequeno prólogo, dizendo que vai narrar o filme, ele fala diretamente ao espectador, o que, avisa, pode ser um pouco indigesto, assim como, para os que não gostam de ser lembrados de que estão vendo um filme e não espiando por uma abertura de fechadura, a quebra da unidade espaço-temporal que existe no filme, Jo-narrador interagindo com a história narrada, misturando-se dia com noite. Esse procedimento também foi bastante comum em muitos dos filmes da nouvelle vague, a chamada quebra da diegese.
Paul volta à casa do pai sofrendo de uma dor quase inexplicável, mas que talvez se deva ao fato de não conseguir amar tanto quanto é amado. Enquanto vivia com Anna parecia tentar mascarar o fato de não amá-la, desconfiando de que ela não o amasse, já ela tinha certeza de que era amada repetindo várias vezes como numa prece que Paul a amava, é sabendo disso que ele se desespera.
A importância da família, mesmo com seus problemas, da relação entre irmãos, está presente a todo o momento e chega a ser comovente o companheirismo entre os dois, como se ajudam em sua dor, como repetem o ato de atirar-se no Sena e dividem a mesma banheira.
O filme acaba e suspiramos, sentindo-nos mais felizes, apesar de discutir-se suicídio, depressão, tristeza, fim de amores, achei o filme do tipo que aquece o coração e fez com que eu me sentisse bem.

INLAND EMPIRE e a Bienal

Lynch é assim: ame ou odeie. Agora, radicalizando totalmente em seu novo filme, isso é ainda mais forte. Vi gente saindo indignada das sessões da Mostra de Cinema de Sampa, tinha de tudo, gente que saía no meio do filme, gente que saía feliz e gente que saía xingando, reclamando.
Obra de arte? Desde Kant compreendemos que não é preciso "entender" a arte para assim chamá-la, não há regras para a arte e aí começou, é claro, a discussão do que, afinal, seria arte, o que poderia ser considerado como tal.
A arte sente-se, flui-se, critica-se, teoriza-se, julga-se, mas não se regulamenta, não se mecaniza, não se estipula, não se generaliza. Mas também não é preciso colocar um andar da Bienal sem nada (momento revolta!), achei uma idéia de "girico" e, como o Nuno Ramos disse, isso é a vitória, triste eu diria, da curadoria sobre o artista. É, Horkheimer e Adorno já avisavam que o artista não teria mais direito de reclamar na era da indústria cultural, agora vale mais um espaço em branco, a tentativa do curador-crítico de fazer sua própria obra, sendo polêmico, ele poderia ter sido mais original, no mínimo, mais respeitoso.
Para mim o filme de Lynch é sublime, gera um desconforto gostoso, a sensação de se deixar vencer, o medo controlado de sua superioridade. É como ver uma onda de 3m se aproximar, como estar sozinho dentro de canyons grandiosos, como se pudesse ser engolido, mais ou menos como me senti ao visitar a exposição do Anish Kapoor ano passado, aquelas coisas gigantescas, prateadas, douradas, aquela fumaça que subia...
A força das imagens de Lynch gruda você na poltrona e coloca um enorme ponto de interrogação na sua face. "Império dos Sonhos" é um filme para Laura Dern, é claro que Lynch consegue extrair de seus atores interpretações magistrais mas ele e Laura foram feitos um para o outro, isso fica claro quando ele quase a engole com a câmera, em suas expressões maravilhosas, surpreendentes, sua atuação é catarse pura.
Ok, pode ser o non-sense levado ao limite, mas não é o senseless, não é a falta de sentido, é o não-sentido, a negação dos significados pré-estabelecidos, das ligações lógicas impostas pelo consciente, filtradas, pela sociedade, pela sobriedade, pela seriedade e o comedimento. O non-sense aqui é despir-se do que se achava fazer sentido, é entregar-se a algo novo, deixar-se levar por outras ligações, ou pela total falta delas.
As cores propostas por Lynch são magníficas, ao fechar os olhos e lembrar do filme, vêm-me o laranja, vermelho e o amarelo esfumaçados, como num quarto fechado cheio de fumaça com lâmpadas balançando no teto, um tom de medo gerado pelo suspense e pela sensação claustrofóbica misturada a uma alegria de viver expressa pela dança desengonçada típica dos anos 80. Ah sim, e a trilha sonora se encaixa perfeitamente às imagens.
Com tantos Jogos Mortais, Espíritos, Chamados, Chukys, monstros versus monstros, filmes pretensamente de terror e suspense que nada mais fazem do que repetir clichês: os ataques a casais namorando no carro, a mão que se levanta ao final, o mocinho que dá as costas ao ataque etc., Lynch vem se afirmar como verdadeiro suspense, fugindo dos "sustinhos" e nos dando "sustões", o coração bate mais forte por minutos, a adrenalina corre pelo corpo e realmente sentimos medo, assisti ao filme de boca aberta e quase não piscando. Sim, genial.

::Exposição de Yoko Ono no CCBB::

No post anterior eu coloquei uma foto de um "happening" do grupo Fluxus, tema de uma exposição tempos atrás no Instituto Tomie Othake. Escolhi o grupo aquele dia porque
um amigo que viu o blog e reparou nos quadros colocados aqui do lado direito perguntou se eu não gostava de arte conceitual, achei até engraçado, uma vez que cheguei até a me candidatar a um grupo de pesquisa da Lisbeth (curadora da última Bienal) no Museu de Arte Contemporânea com o tema arte conceitual. Não fui escolhida, mas tudo bem. É que acho difícil ter um auto-retrato nesse tipo de arte, então estão presentes outras escolas mais figurativas, é isso.
Agora em Sampa ocorre uma exposição de Yoko Ono, artista de íntima ligação com a escola alemã que chegou a levar pedacinhos de cocô a museus e galerias. Ela não é apenas a viúva de Lennon,
muitas vezes culpada pelo fim do Beatles. Eu, sinceramente, não gosto muito do quarteto inglês e por isso nunca liguei muito para Lennon, até que vi em 2006 o filme "Os Estados Unidos contra John Lennon" e tudo mudou, descobri muitas coisas sobre o casal Yoko e John e comecei a simpatizar com eles. Nessa exposição que vai até o início de fevereiro é possível perceber o talento único de Ono, com idéias interessantíssimas, obras muitas vezes sutis e que geram um baque violentíssimo.
Sua série de papéis em que escreveu instruções a serem seguidas contém grandes ensinamentos para uma vida mais feliz, uma que me marcou muito foi a que ela diz para escrevermos em papeizinhos o que nos deixa triste e queimar, pegar as cinzas e jogar fora, ou a que diz para tentarmos ficar sem falar mal dos outros e veremos como isso pode nos fazer bem.
Além de obras com as quais podemos interagir, como a famosa do martelo e pregos, há aquelas que contestam o valor da arte, questionamento constante na arte contemporânea de forte presença em Duchamp e no grupo alemão mencionado anteriormente. O labirinto que leva a...bom, quem for verá, é um exemplo desta contestação.
A arte conceitual chega a um patamar incrível na parte da exposição em que Yoko propôs a artistas do mundo inteiro que enviassem recipientes para água para montar uma exposição, são idéias muito diferentes entre si, tem desde explicações para uma instalação com teia de aranha que deve ser borrifada de água, até uma caixinha com areia do deserto, uma piscininha inflável de criança, um vestido vermelho de tricô e por aí vai, todos acompanhados por textos explicativos, agradecimentos e dedicatórias. Cildo Meireles participou, até onde percebi, o único brasileiro do grupo, sem esquecer que a mais nova obra dele são os picolés de água espalhados por São Paulo e expostos na coletiva em cartaz no Itaú Cultural.
Mas também há o apuro técnico de Yoko Ono, sua capacidade de produção artística não fica só nas grandes idéias, as esculturas que fez de uma família morta são perfeitas, chegando a assustar quem entra na sala onde estão expostas, são como que descobertas arqueológicas de uma era em que os humanos tiverem desaparecido. Quem sabe?

imagem da direita: "Fly" - um vídeo hipnotizante de uma mosca percorrendo o corpo de uma mulher imóvel.
imagem da esquerda: "Yes" - a peça que o CCBB nos vetou a completa apreciação proibindo que subíssemos a escada para ver o yes escrito na tela presa ao teto

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