sábado, fevereiro 16, 2008

::My headphones saved my life::


In A Manner Of Speaking - Martin L. Gore

In a manner of speaking I just want to say
That I could never forget the way
You told me everything
By saying nothing
In a manner of speaking I don’t understand
How love in silence becomes reprimand
But the may I feel about you is beyond words
Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Oh give me the words
Give me the words
That tell me everything

In a manner of speaking Semantiks won't do
In this life that we live we only make do
And the way that we feel might have to be sacrificed

So in a manner of speaking
I just want to say
That like you I should find a way
To tell you everything
By saying nothing
Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Oh give me the words
Give me the words

::Sábias palavras::


"Ela se encostou na parede e resolveu deliberadamente pensar. Era diferente porque não tinha o hábito e ela não sabia que pensamento era visão e compreensão e que ninguém podia se intimar assim: pense! Bem. Mas acontece que resolver era um obstáculo. Pôs-se então a olhar para dentro de si e realmente começaram a acontecer."
Clarice Lispector, A Bela e a Fera ou a Ferida grande demais.

"Já disse que não sou inteligente, nem culta. E sofrer apenas não basta." Clarice Lispector, Obsessão.

::Minha falta de memória e eu::


Às vezes é engraçado ter problemas de memória, às vezes é triste, o que leva a uma imensa necessidade de escrever sobre isso, seja para prolongar o riso, seja para exteriorizar o desespero. Tudo bem, ela não é tão grave, mas para lembranças a médio prazo é assim que vem sendo, e ninguém ainda conseguiu descobrir o porquê,vou tentar regressão, acupuntura, psicanálise, qualquer coisa.
É surpreendente o ineditismo que a falta de memória proporciona, algumas coisas parecem nunca vistas antes, e chega a ser assustador quando descubro algo que está escrito na minha grafia, com minha caneta preta de sempre, mas que não me lembro de ter escrito.
Hoje, vasculhando meus arquivos no computador, descobri o projeto de um romance que pensava escrever a três anos atrás. Em seis páginas do Word estão as palavras importantes para o vocabulário do livro - com seus significados e sinônimos; o significado do nome, e papel na história, de vinte personagens; um esquema geral de principais fatos que ocorrerão, o desfecho, a duração do recorte etc., e o primeiro capítulo inacabado em três páginas.
Puxando da memória pude lembrar que a idéia surgiu de um sonho que tive certa vez e que no pretenso livro eu tentaria misturar com alguns fatos reais da minha vida e de alguns familiares e amigos. O sonho tinha vampiros, maldições e lindíssimas roupas, então resolvi tirar os entes mágicos e manter o clima um pouco da Idade Média, com reinos, nobres, e a história giraria em torno de uma maldição, ou melhor, mais um mau-desejo com um viés até mesmo cristão.
Com o olhar crítico de hoje posso dizer que tanto a idéia quanto o texto são horríveis, é uma mistura de realismo - mágico com as novelas da Távola Redonda e uma pitada de André Vianco, uma mistureba, enfim. E o texto está bem infantil, um tanto quanto mal escrito e confuso, mas resolvi postar aqui a primeira página, só como registro e para sanar a curiosidade dos meus "inúmeros" (rs) leitores.

Capítulo I

As lágrimas de desespero caíam em sua face como cachoeira fria em dia de inverno. Sentada numa cadeira de vime logo ao lado do caixão, não conseguia nem olhar no rosto do falecido. A memória da noite anterior martelava em sua mente, tentava fugir das imagens que lhe vinham à cabeça olhando ao seu redor, mas só via tristeza e desespero nas outras pessoas. Os momentos felizes e românticos da última noite enchiam Alita de dúvidas e pensamentos confusos. Questionava-se o que seria de sua vida agora que enviuvara, e o pior: no primeiro dia de casada, logo após a noite de núpcias.
Sua mãe se aproximou, tocou em seu ombro jovem já coberto por véu negro, se agachou ao seu lado e disse:
- Alita, fique calma.
Ela até então não percebera, mas tremia as pernas de tal maneira que fazia a cadeira ranger. O olhar piedoso de sua mãe a acalmou, mas não podia mais olhar a sua frente e ver aquele caixão frio e negro que guardava o corpo do homem a quem havia amado uma única vez em seus ínfimos dezessete anos, o homem ao qual havia pertencido uma única e curta noite.
O padre ia se aproximando com a Bíblia na mão e Alita já previa todas aquelas palavras do Senhor que ele diria, como faz em todos os outros velórios, quase que semanais, que acontecem no reino. Como se cada morte fosse igual e fossem fazer falta da mesma maneira a seus entes. Mesmo sendo todos iguais perante o Senhor, Alita sabia que dessa vez, essa morte, ela sentiria como nenhuma outra ela havia sentido e, de certa forma, se sentia injustiçada e esquecida por Deus, que fizera a barbaridade de acabar com a vida dele e, assim, com a dela, daquela maneira.
No reino de Bilner moravam muitos nobres oriundos de vários outros reinos próximos, o que fazia da corte bilnerense uma verdadeira mistura de famílias, de costumes e manias. Todos esses nobres mais próximos da família de Alita estavam naquele imenso salão ocupado apenas pelo caixão ao centro e a cadeira da viúva, a falta de janelas e iluminação natural tornava-o mais triste, sombrio, silencioso, desesperador. Aquelas senhoras vestidas todas em longos e luxuosos vestidos negros escondiam atrás de seus véus o sentimento de pena que sentiam da garota e nos cantos comentavam:
-Agora está perdida a menina, viúva tão jovem, já desonrada, nunca mais há de encontrar um marido, ficará para a vida com a mãe ou se tornará freira.
Havia também aquelas mais maldosas e que gostavam de criar intrigas na corte, que diziam:
-A família dele era mais poderosa, possuía mais terras, ela mandou alguém matá-lo para ter direito a suas posses e salvar sua família da desgraça em que estão.
Ao entrar no salão, Ludmila ouviu algum desses amargos comentários e se encheu de raiva, mas ao olhar para a amiga ali sentada, triste como nunca havia visto, se esqueceu daquelas fúteis e inconvenientes mulheres e foi rapidamente ao encontro de Alita.
-Vim o mais rápido que pude, Elísio me trouxe na traseira de seu cavalo e acabamos deixando mamãe seguir viagem sozinha na carruagem, ela deve chegar só na madrugada, mas virá lhe ver. Alita, aquelas velhas ali, que mais parecem urubus, estavam falando muitas besteiras sobre você. A mãe da Liana, da Edite e as amiguinhas de tricô delas. Se você ouvir algo, não dê ouvidos, por favor, não se importe - abaixou e disse olhando dentro dos olhos da amiga - A partir de agora seu futuro está em suas próprias mãos e ninguém pode roubá-lo de você.
Alita esboçou um sorriso fechado em consideração a Ludmila, que sempre esteve ao seu lado, e disse baixinho:
-Eu nunca me importei com nada do que elas diziam. Você sabe que...
A garota foi interrompida em sua conversa com Ludmila pela chegada brusca e espalhafatosa de Liana. Sinceramente Alita não fazia idéia do que aquela garota estava fazendo no funeral de seu marido, ainda mais vestida daquela maneira: um vestido preto luxuoso e que deixava a mostra todo seu colo pálido e os cabelos presos propositalmente para não disfarçar o vestido. Todos os presentes se viraram para a porta, alguns chocados, outros não disfarçando o interesse pela provocação exercida sobre a viúva, muitos moradores do reino haviam tomado conhecimento de todos os desentendimentos ocorridos entre as duas, desde pequenas. Alita demorou pelo menos dez minutos para se lembrar de que a garota era filha de uma das amigas de sua avó materna, o que pouco a consolou, pois odiava todas as velhas que participavam do clubinho de costura de sua avó Mônica.


::Entretien avec moi::


- Você prefere ser desejada ou ser amada?
- O ideal é ser desejada por alguém que me ame, certo? Acho difícil imaginar e mesmo aceitar viver um amor no qual a pessoa não me deseje, parece que vira um amor meio fraternal ou como o de amigos. Agora, é possível, claro, e aceitável, que alguém me deseje sem que me ame, e aí depende de uma escolha do que se quer buscar nessa determinada relação, nem sempre estamos "in the mood for love". Por vezes pode-se passar a amar uma pessoa pela qual se sentia apenas desejo, e vice-versa, quando a operação é uma adição pode dar certo, mas quando é uma subtração, fica difícil.

Nenhum comentário: