terça-feira, abril 08, 2008


::Elas não usam sutiã::


Tenho a impressão de que nos dias de hoje não usar sutiã é um absurdo tão grande quanto não ter celular: coisa de gente retrógrada. Afinal, o ato feminista de queimar sutiãs ficou lá na década de 70.
Experimente sair de casa, você mulher moderna, "livre", do século XXI, sem seu sutiã, vestindo uma camiseta tradicional - não precisa exagerar, não precisa ser branca. Os homens a olharão com um imenso ponto de interrogação em seus rostos, as mulheres a olharão com ódio no olhar. Sim, sinto uma pontada de ódio em seus olhos, como se a minha opção de andar por aí sem nada me apertando fosse uma afronta pessoal a cada indivíduo do gênero feminino da raça humana.
Não saio por aí confortavelmente porque sou uma feminista - embora eu o seja - que acredita ser o sutiã uma forma de opressão forjada pela sociedade patriarcal e seu bando de porcos chovinistas. Eu apenas exerço meu direito.
Não faço passeata para que as mulheres abandonem o uso do sutiã, mas faria uma pelo direito de fazê-lo se não me fosse permitido. Se vívessemos realmente numa "sociedade livre" eu poderia andar pelas ruas sem roupa nenhuma, com tudo de fora, e muitos adorariam fazer o mesmo. Mas se pudessemos ver todos nus, as revistas de nudez não venderiam tanto.
A sensualidade e até mesmo a sexualidade não estão no corpo nu, são ambas muito mais do que isso, mas o fato de termos um dia nos coberto fez com que o descoberto fosse pornográfico. Um dia motrar os tornozelos, ou as canelas, foi nudez escancarada. Onde se usam burcas, mostrar os cabelos é desacato.

"Ela dorme todas as noites de sutiã porque quando era menina uma das amigas da mãe disse a ela que esta era a maneira de evitar que os seios caíssem. Todas as noites! Eu já disse a ela que isso é inútil. Já disse que ela poderia passar a vida inteira na horizontal, com os seios presos numa fôrma de aço, e que mesmo assim eles iam acabar parecendo bolsas vazias." (Anotações sobre um escândalo, Zoë Heller, p.179 - ainda bem que estou na casa dos 20!)

*tirinha do Adão publicada na Folha.


::Mote::


Eu não sabia que não sabia até saber.


::My headphones saved my life::


Três - Marina Lima

Um
Foi grande o meu amor
Não sei o que me deu
Quem inventou fui eu
Fiz de você meu sol
Da noite primordial
E o mundo fora nós
Se resumia a tédio e pó
Quando em você
Tudo se complicou

Dois
Se você quer amar
Não basta um só amor
Não sei como explicar
Um só sempre é demais
Pra seres como nós
Sujeitos a jogar
As fichas todas de uma vez
Sem temer naufragar

Não há lugar pra lamúrias
Essas não caem bem
Não há lugar pra calúnias
Mas por que não nos reinventar?

Três
Eu quero tudo que há
O mundo e seu amor
Não quero ter que optar
Quero poder partir
Quero poder ficar
Poder fantasiar
Sem nexo e em qualquer lugar
Com seu sexo junto ao mar.


Os Cegos do Castelo - Nando Reis

Eu não quero mais mentir
Usar espinhos que só causam dor
Eu não enxergo mais o inferno
que me atraiu
Dos cegos do castelo me despeço e vou
A pé até encontrar
Um caminho
O lugar
Pro que eu sou

Eu não quero mais dormir
De olhos abertos me esquenta o sol
Eu não espero que um revolver venha
explodir
Na minha testa se anunciou
A pé a fé devagar
Foge o destino do azar
que restou

E se você puder me olhar
E se você quiser me achar
Se você trouxer o seu lar
Eu vou cuidar
Eu cuidarei dele
Eu vou cuidar
Do seu jardim
Eu vou cuidar
Eu cuidarei muito bem dele
Eu vou cuidar
Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar
E de você e de mim

::Sábias Palavras::

"Até mesmo o desejo de repressão é um desejo." (frase de um prof. numa aula sobre Spinoza)

::Favoritos::

Você nunca me perguntou qual meu filme favorito. Quando vai me chamar para ir ao cinema? Você nunca assistiu ao meu filme favorito, aos meus filmes favoritos, e eles jamais serão nossos filmes favoritos, eu fatalmente nunca vou assití-los com você. Filme favorito é como livro favorito, depende da fase que se está vivendo e sempre pode chegar um melhor, sempre se pode descobrir um que agrade mais do que o escolhido anteriormente. Você nunca me perguntou qual meu filme favorito.


A meia amarela era minha preferida, perfeita para o tamanho do meu pé, combinava com todos os meus tênis, a mais confortável. Outro dia saí com meu All Star furado e esse par de meias amarelas. Choveu. Torrencialmente. Pisei em várias poças. Agora, por mais que eu lave as meias elas estão irremediavelmente encardidas, sujas, enegrecidas, imundas, as manchas negras nos calcanhares e debaixo do dedão não saem, de jeito nenhum. Porém, continuarei usando meu par de meias favoritos.


::Minha falta de memória e eu::

Outro dia saiu no jornal uma reportagem sobre os dez anos de publicação de blogs em português, lembrei-me então dos vários blogs que mantive desde junho de 2003, mês de meu primeiro post. Decidi então vasculhar os meus blogs, procurar os melhores textos e publicar aqui também. Aí vão eles.

Em terra de analfabeto, Paulo Coelho é rei!

Estou afadigada, aplastada, bombardeada, combalida, consumida, desgastada, embotada, enfraquecida, esfalfada, esfandegada, esgotada, estafada, exaurida, exausta, extenuada, fatigada, lassa, moída, pregada, quebrada, quebrantada, cansada!
Estou cansada do verde-amarelismo confundido com patriotismo que nos assombra a cada quatro anos, estou cansada da ignorância mantida e desejada por todos, alimentada pela falta de instrução, pela novela das oito, das sete, das seis, das cinco e meia, estou cansada do futebol como meta na vida, estou cansada do ser-mulher-de-jogador-de-futebol-ou-qualquer-ricaço como meta na vida, estou cansada, cansada, cansada dos esteriótipos de magra-bunduda-peituda-cabelo-longo-liso, de bombadinho-saradinho-sem-pêlo-loiro-dos-olhos-azuis, de cabeças vazias, estou cansada de setas que têm a pretensão de me dizer de que lado devo andar na calçada para evitar trombar com o-outro-tão-indesejável, para evitar que eu perceba que outros existem, estou cansada de cancelas que delimitam e me apertam como gado ao entrar no matadouro apenas para "conter" a multidão ao entrar em seu meio de transporte, estou cansada da sensação de que tudo o que o Estado concede, é isso, uma concessão, por piedade e não por ser seu dever, estou cansada de ter o dever de votar e não o direito de votar, estou cansada, cansada, cansada de ouvir os mesmos discursos-vamos-enganar-nossa-população-mantida-por-nós-ignorante-e-faminta, desse espetáculozinho particular que são as eleições, estou cansada dessa política do pão-e-circo-sem-muito-pão da Copa Mundial de Futebol, estou cansada de decretos escrotos que oficializam a caipirinha como bebida oficial do Brasil enquanto o açaí é patenteado no Japão, estou cansada da falta-do-que-fazer, estou,sim,continuo,cansada do país do carnaval, do futebol onde tudo é permitido para o gringo ver, onde todos arreganhamos as pernas para o gringo ver e quando ele vai embora, depois da quarta-feira-de-cinzas voltamos a ser o país de terceiro mundo que ainda tem hanseníase, o país hipócrita-cínico-falso-puritano, estou cansada de ver putaria e aos domingos ver igrejas cheias, estou cansada dos domingos na televisão burrificante, estou cansada, cansada, cansada de Faustão-Gugu-Galisteu-Bernardes-Bonner-Casseta-Planeta-Zorra-história-sem-fim, estou cansada da Academia Brasileira de Letras, da Câmara, do Senado, da Granja do Torto, estou cansada do analfabetismo crônico, estou tão cansada, cansada deste texto cansativo e eterno, cansada...

Postado no "Sem Conhecimento de Causa" a 01/06/2006.


Na frente de batalha

Na velha e eterna guerra "shakesperiana" entre a razão e o coração, quem tem de se render? O mundo capitalista competitivo está nos transformando em indivíduos cada vez mais egoístas, menos dispostos a nos perder de amor. Terá terminado a época de fugir pela janela do quarto numa corda de lençóis para viver com o príncipe encantado? Terá sido alguém feliz assim? Do que abdicamos, quais grandes esforços somos capazes de fazer por amor? Amor de amigo, amor de pai, amor de mãe, amor de amante... lutam contra o orgulho, egoísmo e a correria do dia-a-dia.
O amor próprio deve superar o amor ao próximo? Até que ponto a razão é puro amor próprio? Humilhação é algo muito relativo, o que pode me humilhar pode apenas deixá-lo "sem graça", pode o amor ser humilhante? Renunciar a seus princípios por amor é se humilhar? Há aqueles que mudam de religião, os que mudam de país, obstáculos diversos estão entre a idealização e a realidade entre duas pessoas, há os que os enfrentam e há os que desistem.
Os seres humanos somos animais racionais, será a "voz do coração" um instinto ou uma racionalização dos sentimentos? Ao tomar uma decisão, o que deve vencer na balança? Qual voz ouvir?

Postado em "Futura Astrônoma" a 10/10/2004.


Exorcizando Fantasmas

Muitos dos nossos fantasmas nos perseguem vez ou outra. Mas e quando se vai atrás de seus fantasmas?
Pensando exorcizá-lo, persegui meu fantasma, mas não adiantou. A respiração ficou pesada, o coração bateu mais rápido: pior do que aparecer um fantasma para você é você aparecer para seu fantasma. Será que fiz eu o papel de assombração? Será que sou eu também um fantasma? Um fantasma de meu fantasma?
À distância suas formas pareciam diferentes das de anos atrás, sim, meu fantasma parecia mais forte. Ele vem se aproximando, eu não me mexia, tentava esboçar um sorriso, mas é difícil quando uma assombração se aproxima tão rápido.
Oi!
Enfim, suas feições eram as mesmas, as palavras, a entonação que dava a elas, o jeito de entortar mais um dos cantos da boca, sim, meu fantasma ainda era o mesmo, e aí está o problema: sendo o mesmo, continua a ser fantasma, meu, minha assombração.
Como São Tomé, precisava ver para acreditar, quis ver para acreditar que o fantasma havia se esvaecido, exorcizá-lo mesmo, tirá-lo de minha cabeça, fazer uma sessão de descarrego.
Mas, confrontando-me a ele, que surpresa, continua tão assustador quanto antes, muito antes, muito assustador. Prestei atenção a cada detalhe, de cada palavra a cada músculo de seu corpo de lençol branco com dois furinhos para os olhos. Olhei bem. E depois fugi!

Postado em "Novela das Oito" a 02/12/2006.

Pans and the City

Frases ditas, músicas dançadas, beijos dados, desejos consumados... amores consumidos.
Quando o doce acaba, ainda há o "resto" na panela, que precisa ser raspada, lavada. Assim vão-se os amores - os ou o?- a calda, o recheio, mas fica sempre aquela "sujeirinha", o incômodo, o "e se...?".
"E se eu não tivesse terminado? E se ele não tivesse terminado? E se eu não descobrisse a traição? E se ele me amasse?" E, assim, sofremos por um futuro que jamais viveremos, simulamos reações, ações, que jamais acontecerão. Lembranças dos bons momentos, das brigas, dos "eu te amo", dos "eu te odeio", de um passado ao qual jamais retornaremos.
Jamais, não é tão ruim quanto nunca, apesar de significar a mesma ausência de esperança. Juramentos são cheios de "jamais" e o amor é cheio de juramentos. Todos esquecidos quando se quer raspar a panela, quando, aparentemente, o amor acaba.
Eu preciso esquecer das juras, dos jamais, dos "e se...?", das lembranças. Quero experimentar uma nova receita, enquanto você se lambuza com sua novidade. E eu, ingênua, acreditando na inesquecibilidade do amor, sofrendo seus sintomas. E eu, arrogante talvez, crendo ser insubstituível.
A frase precisa sair desses lábios cerrados, de uma vez por todas, ser gritada, chorada, implorada:
- Farei com você o mesmo que fez com nosso amor: ESQUECER!

Postado em "and the City" a 02/03/2005.

::Entretien avec toi::

Você ainda me admira?
Você ainda acha interessante a minha visão de mundo?
Você ainda me deseja?
Você ainda terá momentos de deslumbramento comigo?