sexta-feira, setembro 05, 2008

::Sobre todos nós::

De repente ele se deu conta: já não se encaixava mais ali - ok, talvez não tenha sido assim tão de repente, mas ficou bom começar assim. Não era mais aquele misto adolescente de suspeita e rebeldia. Era uma constatação adulta.Ou pelo menos assim ele julgava.

Há alguns anos percebera que a casa dos seus pais não era, como acreditava antes ser, a sua própria casa.Talvez o único lugar que realmente lhe dissesse respeito fosse seu quarto,mesmo que os móveis e tudo o mais tivessem sido comprados por seus pais. Afinal,não era uma questão de dinheiro, nem de quem é dono do que. Aquela casa era de seus pais não porque eles fossem donos dela e de tudo o que havia dentro, mas porque ali reinavam os seus rituais.

Não é isso que faz um lar? Mesmo vivendo sob aquelas regras e aqueles rituais, ele construiu para si seus próprios rituais, com os quais na verdade ele apenas sonhava, ou praticava quando ficava sozinho em casa, como ouvir música alta enquanto anda nu pela casa e comer deitado na cama. Ah! Coisas simples da vida! Também não gostava do jeito como seus pais se relacionavam, e dizia a si mesmo que jamais formaria um casal como aquele, e que não educaria seus filhos como fora educado.

Alguém lhe dissera que lar era para onde temos vontade de voltar. Não que ele não amasse seus pais, mas não era exatamente para aquela casa que ele desejava voltar todos os dias. E não havia outra casa para a qual desejar voltar. Ela ainda não existia. Ele queria construí-la. Queria rituais com os quais concordasse, porque, de repente - isso sim foi de repente - descobriu que não concordava com o modo como seus pais vivem suas vidas.

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