::My headphones saved my life::
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
::Não esquecer de Brusky::
Num encontro com o artista Paulo Brusky numa palestra para os arte-educadores da Bienal, ele nos contou uma história que jamais serei capaz de esquecer. Brusky trabalhou a vida inteira como funcionário público numa repartição da saúde no Recife, um dia um pintor foi entregar um quadro que havia vendido para um médico grã-fino da cidade e encontrou Brusky em seu trabalho. Assustou-se:
-Pô Brusky, o que você está fazendo aqui, você é um artista, por que está aqui?
Ao que Brusky responde:
-Para não suar minha arte embaixo do sovaco.
Desde esse causo, o Brusky virou meu herói, aquele sujeito bonachão me conquistou e sua causa também.
Mas agora, pensando melhor, reavalio a situação e vejo nisso uma pitada de arrogância e de covardia. Pode ser que eu esteja avaliando a mim mesma, mas o fato é que tal “causa” supõe que sua arte é boa demais para se sujeitar ao mercado, e como um tem de viver, vende sua força de trabalho diariamente para ser um artista livre. O capitalismo é cruel, nenhuma novidade, e para os meros mortais que não nasceram em berço de ouro e não foram estudar administração/direito/engenharia, o que resta, aparentemente, é isso, jornada dupla, vida dupla.
Numa você sobrevive, na outra você vive. Não seríamos muitos de nós artistas que preferiram não suar sua arte no sovaco e que acabamos por não suar mais por nossa arte?
::Juras::
Para mim a cama nunca é estreita, ela é o mundo, o universo no qual me atiro de corpo e o que mais tiver em mim. Há muitas coisas que gostaria de ouvir dele, espero por momentos e por frases das quais não me esqueceria, que me fariam flutuar. Mas essa espera não pode me cegar para os momentos e as falas mudas dos agoras que vivemos. Eu sou da fala, da escrita, analfabeta dos gestos e dos olhares, não sei ler entre linhas, não consigo ouvir suspiros. Assim a vida parece sempre em suspensão, uma expectativa por demonstrações que nunca virão e, logo, a frustração.
E entre o sono e a vigília, no leve movimento para alterar a posição no encaixe de meu universo, ele dorme com um sorriso nos lábios, e pega a minha mão, afaga-a contra a sua, e dá um beijo, terno, leve, cheio das afirmações que quero ouvir, e que não pode dizer.