domingo, abril 08, 2007


::A Morte::


A verdade verdadeira é que não temos a menor idéia do que acontece após a morte, só sabemos que vamos morrer, com toda certeza, isso dá medo, é aterrorizante mas, cedo ou tarde, temos que aprender a lidar com ela, a inevitável.
Sempre que penso sobre minha morte, confesso, faço o maior esforço para mudar de pensamento, canto uma música, vou fazer algo, tento dormir, qualquer coisa que me ajude a evitar tal reflexão.
Porém, sem querer, me deparei com a morte em diversos meios de expressão em dias seguidos. Estava lendo Um Sopro de vida, último livro da Clarice antes de morrer, ela ditou o livro a sua amiga Olga ao mesmo tempo que ditava A Hora da Estrela, ela sabia que ia morrer e isso fica claro no livro, é um adeus, uma reflexão e um processo de aceitação da própria morte, triste e feliz ao mesmo tempo, é uma angústia seguida de certa forma de alívio, é mesmo um suspiro.
Fui ver uma peça por indicação de um amigo, que eu indico a todos seres sensíveis do mundo, Adubo ou a sutil arte de escoar pelo ralo, uma peça, basicamente e bem simplificadamente falando, sobre a morte, textos excelentes e interpretações de alma, gritos e sussurros que ferem, mexem lá dentro e reviram tudo, tudo à flor da pele e sem meias palavras, "entre morrer meu pai ou eu, morre meu pai que é mais velho", sobre homicídio, suicídio, todo tipo de morte, natural, por queda, arma de fogo, ataque do coração, velhice, de gente, de pássaro, de cachorro, gente rica, pobre, homem, mulher, afinal, todos morrem.
Dias mais tarde vi o mais recente filme de Woody Allen e, sobre o que era? Morte! Não digo agora que aceitei o fato de um dia ter de morrer, mas creio que de agora em diante pensarei, sem fugir, no assunto mais claramente e ainda acredito que sou muito nova para deixá-la me levar.
Quero ler Intermitências da Morte do Saramago agora.

::My headphones saved my life::


Play Dead - Björk

Darling stop confusing me
with your wishful thinking
hopeful enbraces
don't you understand?
I have to go through this
I belong to here where
no-one cares and no-one loves
no light no air to live in
a place called hate
the city of fear

I play dead
it stops the hurting
I play dead
and hurting stops

It's sometimes just like sleeping
curling up inside my private tortures
I nestle into pain
hug suffering
caress every ache

::Sábias Palavras::


"Será que, depois que a gente morre, de vez em quando acorda espantado?"
"A vida é muito rápida, quando se vê, se chegou ao fim. E ainda por cima somos obrigados a amar a Deus." Clarice Lispector, Um sopro de vida, págs. 145 e 131.


::Divagações no escuro::


Superdose de Woody Allen
Essa postagem era para ser toda sobre a morte mas não agüentei esperar para escrever sobre meu ídolo-mor e, talvez, faça mesmo sentido incluí-lo aqui. Explico: juntamente com Truffaut, Kieslowski e Almodóvar, Woody Allen é meu diretor favorito e, um dos dois que ainda vive. Acontece que ele é a pessoa que mais me faz rir nesse mundo e seria terrível, então, que simplesmente não houvesse mais novidades dele. Eu tenho que encarar o fato, contudo, de que ele está bem velhinho e que, um dia, premeditado em seu novo filme, ele partirá dessa para uma melhor (?).Mas...
Como esse dia ainda não chegou, comemoremos sua vida.
Tive uma superdose de Woody Allen nos últimos dias, assim como nas férias tive uma de Fellini. Digo superdose porque o viciado nunca admite ter tido uma overdose, e para mim certas coisas nunca são demais.
Resolvi alugar uns filmes antigos de Woody para me preparar para finalmente ver Scoop, mas devo dizer que só fico 100% satisfeita quando ele mesmo aparece nos filmes com suas neuroses e traumas. Então, para encurtar a história e simplesmente promover o cinema de que gosto, rapidinhas:
- O Dorminhoco(1973) - Como Woody está novo, com cabelos quase ruivos e muitas sardas. É o primeiro filme com Diane Keaton, sua musa que eu mais gosto. Muito engraçado, esqueça Star Wars, isso é que é filme de ficção-científica.
- Crimes e Pecados(1984) - Ou um ensaio para Match Point, sério mas ainda engraçado, com a presença carismática e divertida de Woody como um cinéfilo e diretor que não se deixa corromper pela indústria. Percebo que a figura de Woody Allen aproxima-se à de Didi do imaginário brasileiro, com relação às mulheres, um cara legal e bem mais velho que se apaixona por belas e jovens mulheres que quase nunca ficam com ele ao final.
- A Rosa Púrpura do Cairo(1985) - Para os viciados de plantão, um filme digno de corujão. Pura metalinguagem para assistir de boa aberta e sem piscar. Mia Farrow dá um show!
- Broadway Danny Rose(1989) - Cenas excepcionais, um dos mais engraçados que já vi, uma cena em especial devia marcar as cenas de comédia da história do cinema: a do galpão dos caminhões. Tão engraçada e diferente quanto Buster Keaton "dançando" no trem em A General. Queimem-me por isso os puritanos do cinema.
- Todos dizem Eu te amo(1996) - Um musical ou um anti-musical? Clássicos do jazz dançados e sapateados. A Julia Roberts tentou mas não conseguiu destruir esse filme.
- Scoop(2006) - Divertido, interessante e cheio de tiradas sensacionais. "Eu fui criado no judaísmo mas agora aderi ao narcisismo". Triste ao nos obrigar a ver a morte levando o simpático mágico. Referências ao seu filme anterior e brincadeiras com suas personagens femininas e seu sempre nova-yorkino-judeu-neurótico. Dessa vez ele não se envolve com uma jovem que tem idade para ser sua filha ou neta, ele assume isso e vira pai da heroína. Discuti muito com uma amiga também fã de Allen sobre a presença de Scarlett Johansson, ela odiou, e não gostou do filme no geral. Eu lembro apenas uma frase de um crítico da Folha, "antes um Woody Allen ruim na mão do que vários Norbits voando". Eu acredito também que a Scarlett Johansson vem estragando muitos filmes por aí com seu complexo de "ai como sou gostosa", mas acho que dessa vez deu certo, bem melhor do que a atriz de Will&Grace em Dirigindo no Escuro alguns anos atrás, o pior filme dele que já vi.
Qual a melhor trilha sonora com música clássica, Match Point, Scoop ou Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão, de 82?

O Cheiro do Ralo
"Esse cheiro ruim que você está sentindo é do ralo."
Outro dia comentávamos entre amigos: é incrível o certo sado-masoquismo que temos quando o assunto é cheiro ruim. Você sente um cheiro péssimo e fala:
-Alguém está sentindo esse cheiro?
E todos fazem força para sentir, enquanto todos não sentirem ninguém fica satisfeito, inclusive você, fora que todos tentam descrever o cheiro, parece lixo, diarréia, cocô de nenê e nojeiras afins, sem fim.
Se todos falaram do humor politicamente incorreto de Borat, eu defendo o humor de Cheiro do Ralo, realmente engraçado, divertido e inteligente, às vezes deve-se até pensar duas vezes antes de rir de certas tiradas do personagem Lourenço, mas o cinema vem a baixo e você quase se mija de rir, gargalhar mesmo.
O filme é machista? Creio que não. Pensando bem nem o personagem é machista, ele não faz da mulher um objeto e sim de uma parte do corpo dela um objeto, pode ser a bunda dela como podia ser a de um homem. O filme é devasso? Passa dos limites? Não podemos confundir os personagens e a história que o filme conta com o próprio filme em si, que não é preconceituoso, maluco, pecador nem nada disso, é inovador no humor e na estética do cinema brasileiro.
A cenografista do filme descreveu o ambiente criado como uma estética da merda, tons marrons e esverdeados pareciam emanar o cheiro fétido que vinha do ralo do banheirinho.
Certas coisas são proibidas de falar, temos, muitas vezes, que engolir o sapo, às vezes um elefante, e continuar como se nada tivesse acontecido mas e se não precisassemos calar? E se simplesmente saísse? Se não tivessemos nenhuma moral, nenhuma educação e costume a seguir? Nenhuma noção do que socialmente aceitável...Mandaríamos muita gente ir se f* e ir tomar no cu, sem acento, por favor.
Se as nossas relações com o outro já estão tão deterioradas não podemos nos abalar ou sentirmo-nos ofendidos por estar diante de um personagem que coisifica as pessoas,certo? Errado? Sei lá, esqueça isso por alguns minutos e have fun.
Fazer um filme tão bom com míseros R$300 mil é memorável, incrível e uma atitude louvável e que deve ser aplaudida de pé, se você conseguir levantar com a dor de barriga que dá depois de tanto rir.
Visite o site: www.ocheirodoralo.com.br

::Curtindo a vida adoidado::

Apesar de nunca pensar em fazer um filme a sério - eu gosto mesmo é de ver e falar de cinema, mas não de colocar a mão na massa - diferente de pensar em escrever um livro, ou plantar uma árvore, eu coleciono na memória lugares nos quais eu faria um filme, locações mesmo, lugares que me lembram de algum tempo distante no qual não vivi, que me dão uma nostalgia mágica, enchem meu ser de vida e de saudades. Quem quiser fazer uma visita a esses lugares, cito dois:
Doceria Pólen na região da Pompéia na R. Clélia, doces e ambiente maravilhosos.
Cinema Gemini, na Av.Paulista, funcionários simpáticos, freqüentadores educados e poltronas confortáveis num cinema que não se fazem mais iguais, apesar da tecnologia não ser "de ponta" a emoção é imbatível.

::A pergunta que não quer calar::

Qual a incrível coincidência que me permitiu ver o Selton Melo masturbar-se em duas cenas em dois filmes distintos em menos de um mês? (Ver Lavoura Arcaica e O Cheiro do Ralo.)

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