quinta-feira, abril 26, 2007

::A difícil arte de estar só::

Talvez o mais difícil quando se termina um relacionamento de longa data não seja parar aquele filminho que passa na mente, play e rewinde, infinitamente, também talvez não seja contornar as lágrimas e ver em frente, talvez, o mais difícil seja voltar a ficar só.

Somos todos sós. Mas num relacionamento, por muitos pequenos instantes, sentimos que somos compreendidos e que fazemos parte de algo comum a duas pessoas. Temos, realmente, alguém que se importa e pensa em nós a cada 2 ou 3 minutos. Num relacionamento você tem a certeza de que pode contar com alguém e parece que alguém entende sua angústia, seu vazio e suas alegrias, pelo menos é o que parece.

É difícil acordar e se acostumar a não perguntar: "dormiu bem?", "que horas você acordou?".

Estar só não obriga satisfações mas às vezes é bom saber que alguém se importa, é bom ser mimado, bajulado.

Sempre preferi a solidão à multidão, porém, depois de muito tempo, me vejo tendo apenas a mim para dividir as coisas.

Preciso voltar a me conhecer, já tinha me esquecido de como eu era, sozinha no quarto, sem telefone na orelha, sem e-mails na caixa todos os dias, sem mensagens no celular, sem mãos para pegar ao atravessar a rua.

"Eu sou um outro".

"O inferno são os outros".

Prazer, esta sou eu!


::Divagações no escuro::

Shoah
Grande oportunidade, talvez única: ver Shoah na Cinemateca. O documentário de 9 horas foi dividido em 2 dias, sábado e domingo, exibição em DVD com legendas em inglês.
Apesar de um acontecimento raro, poucos foram ver, poucos mesmo, cerca de 10 pessoas, no sábado, no domingo eu compareci.
A idéia do filme, o "conceito" é interessante e intrigante: num momento da década de 80 em que os chamados "revisionistas" lançavam teorias de que o Holocausto nazista não foi mais do que uma invenção dos judeus visando compadecimento mundial, Claude Lanzmann resolveu fazer um filme diferente sobre o acontecido da II Guerra. Esqueça "O Pianista", "A lista de Shindler" e todos os outros, Lanzmann parte do princípio de que aquele horror todo não é reconstituível, nem os lugares, nem as pessoas e nem acontecimentos são passíveis de serem reconstruídos, no fundo, ninguém que não viveu aquilo pode entender o que realmente foi. Interessante como essa sempre foi minha opinião sobre qualquer momento histórico, mas enfim.
O filme então se faz de entrevistas com sobreviventes, judeus, alemães, poloneses e imagens dos locais como estão no momento em que foram filmados, no caso, 1985. O resultado é impressionante, muitos, afirmam que a emoção nos toma instantaneamente diante de uma imagem que nos choca e que a emoção nos vai tomando aos poucos através de um relato de tal imagem ou ação. Bom, todo filme, todo cinema é um relato, por mais realista que seja, você não está num deserto, numa tribo africana e nem em Aushwitz de verdade, assim, Shoah se constituiria então como um relato de um relato. A cena da sopa de O Pianista nos dá sensações, assim como a garotinha de vermelho de A Lista, só para falar dos mais recentes e famosos filmes sobre o tema, mas com certeza podemos citar mais de 50 filmes que tratam do assunto.
As falas, porém, dos sobreviventes no documentário, realmente nos atinge aos poucos, mas o fato é que depois de 2 horas aquilo já está surtindo um efeito catastrófico e ao cabo de 4 horas do primeiro dia eu já não podia mais com aquilo tudo. Fui para casa tentando decidir se voltaria no dia seguinte, passei a manhã toda do domingo pensando na mesma decisão e acabei decidindo ficar em casa, por fraqueza mesmo, eu confesso: não agüentaria.
A tese do filme está mais do que provada, não precisamos de um cenário que evoque os campos de concentração, de personagens construídas a partir de um real, o real, ali, diante das câmeras, mesmo que depois de 30,40 anos é o real e suas falas, mesmo que sejam apenas falas, que vêem perdendo sentido num mundo dominado pelas imagens, são mais significativas, suas descrições mexem com o que de mais humano existe em nós e a pergunta não se cala: como foi possível?
O diretor arranca confissões incríveis de oficiais alemães e vizinhos poloneses dos campos, coisas de se ficar boquiaberta, com duas ou três perguntas se faz todo um diagnóstico das relações entre aquelas pessoas naquela época determinada, e a pergunta continua sem se calar.
Não sejamos cegos o bastante para ignorar que não só judeus foram mortos nos campos, apesar de não haver muitos filmes, canções, museus para eles, ciganos, homossexuais e negros também morreram e não só os nazistas tiveram seus campos, os soviéticos, os chineses, aliás, vale a pena ver Balzac e a Costureirinha chinesa para entender outros caminhos do autoritarismo. Sim, muitos outros, de muitas classes sociais, religiões, orientações sexuais e ideológicas morreram, em muitos outros holocaustos. Mas a pergunta ainda assim não se calou.

Antes do Pôr-do-Sol
O que é um desconhecido se no fundo no fundo todos são desconhecidos? Nove anos atrás eles não se conheciam de tudo, em Antes do Amanhecer e se apaixonaram e viveram intensamente uma noite e falaram sem parar e quando pararam aproveitaram e se despediram e...
Nove anos mais tarde se reencontraram e saíram para tomar um café e passearam por Paris e tomaram um barco e não pararam de falar um segundo e ela se confessa fraca como todos nós e apaixonada e o filme vai acabando e ela canta uma canção de amor e ele vai perder o avião de volta para casa e ...


::My headphones saved my life::

The Corrs - Intimacy(trecho)

We come into this world alone
From the heart of darkness
The infinite unknown
We're only here a little while
And I feel safe and warm
When I see you smile

Damien Rice - Amie (trecho)
Something unusual, something strange
Comes from nothing at all
But I'm not a miracle
And you're not a saint
Just another soldier
On the road to nowhere


::Sábias Palavras::

"Talvez amanhã a novela acabe mais cedo, talvez amanhã você não goste do que vê no espelho e queira mudar a cabeça sem mexer no cabelo" (Jack - http://trixa.com.br/cmto/?p=97)

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá meu anjo de cachinhos dourados!
passei para dizer que continuo amando e me deliciando com tudo que escreve! A solidão é nosso pior veneno e nossa mais dolorosa dor...não existe nd pior que o lado vazio da nossa cama! Saudades de amores, amigos, carinhos...certezas!
Bjos de quem pede novos ares
Lua