domingo, março 16, 2008

::Mosh (ou Sobre a possibilidade do retorno ás mascaras quando da chegada das primeiras larvas)::


Advertência: esse texto não é uma carta aberta, e sim uma bola de pêlo.

Eu, a que não me entregava.
Eu, a que não corava.
Eu, a que não me mostrava nua e crua.
Eu, a definida pelas negativas.
Um passo em falso e me apaixonei. Nunca amamos se não estivermos desprevenidos, o amor nos pega de surpresa em seus imensos braços monstruosos e peludos e nos arrasta pelos cabelos até sua caverna, onde revezaremos entre a diversão e a tortura.
Eu então tirei a roupa para ela, toda ela, inclusive as meias, e me entreguei. Levei as mãos ao alto, nua em pêlo e caminhei lentamente sem medo até a beira do abismo, deixando-lhe o poder de me segurar ou me dar um empurrão. O vento batia e eu arrepiava, o sol ardia e eu queimava.
Eu, a que não me entregava.
Eu, a que não corava.
Eu, a que não me mostrava nua e crua.
Sem defesas, transformei-me. À la Gregor Samsa metamorfoseei-me a ponto de não mais me reconhecer. Só havia uma maneira de me ver, de me encontrar, apenas vendo meu reflexo nos olhos dela. Mais importante passou a ser como ela me via do que minha imagem diante de mim num espelho. E isso não me abala. Eu era o que para ela sou. Não é isso o amor?
Eu queria poder querer gritar, xingando, mandá-la tomar no cu e ir se foder. Virar as costas às escarpas e jogar-me, pelo menos um último ato que talvez nada dela contivesse.
Mas quem sou eu agora que vejo seus olhos fechados? Não sei mais quem sou.
Eu, a que não me entregava.
Eu, a que não corava.
Eu, a que não me mostrava nua e crua.
Vejo-me barata estendida no chão com as patas viradas para cima sem conseguir colocá-las para correr. Agonizo. Vagarosamente as primeiras larvas vêm se arrastando e não há sequer chinelos por perto - entreguei-me sem sequer um mata-moscas.
Abandonada, enlouqueço, sentindo cada mordida pequena e doída das miúdas larvas moles e brancas de olhos vermelhos.
Eu grito!
Eu choro!
Eu imploro!
Eu
...
imploro!
E sua silhueta que se desenha sob a luz cruza os braços e permanece de olhos fechados, negando-me meu eu.
Se abre os olhos talvez os invadam poeira, se descruza os braços talvez lhe sejam muito pesados. Leva tempo para se acostumar com o asco causado pelas baratas. O asco gerado pelo medo de se transformar em uma.


::My headphones saved my life::


Duvet - Boa

And you don't seem to understand
A shame you seemed an honest man
And all the fears you hold so dear
Will turn to whisper in your ear
And you know what they say might hurt you
And you know that it means so much
And you don't even feel a thing

I am falling, I am fading,
I have lost it all

And you don't seem the lying kind
A shame then I can read your mind
And all the things that I read there
Candle lit smile that we both share
And you know I don't mean to hurt you
But you know that it means so much
And you don't even feel a thing

I am falling, I am fading, I am drowning,
Help me to breathe
I am hurting, I have lost it all
I am losing
Help me to breathe


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